quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ano Novo... Vida Velha

Semana de 26 de dezembro de 2011 a 01 de janeiro de 2012

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Já estamos em 2012, após a tradicional contagem regressiva e a entrada triunfal com direito a bebidas, comidas especiais, salvas de fogos, música, festas, etc.

Costuma-se dizer: Ano Novo... Vida Nova. Lamentavelmente, não é assim que podemos saudar o início de um novo movimento de rotação deste sofrido planeta que a inconsciência e a ganância teimam em destruir.

Do ponto de vista da economia, 2012 começa arrastando as mazelas herdadas do ano que terminou. Se 2011 foi mau, corremos o risco de ter um 2012 ainda pior. O pessimismo se espalha por todos os lados, e os analistas fazem previsões de estagnação na zona do euro, de crescimento do PIB dos EUA abaixo de 1,8%, que é o esperado para 2011, paralisação do Japão, queda no dinamismo dos emergentes, inclusive da China, onde a indústria apresentou uma contração em novembro passado.

Além da desaceleração, a economia chinesa vem enfrentando violentos movimentos grevistas onde os operários reivindicam maiores salários e melhores condições de trabalho. Por seu lado, o governo começa a tomar medidas restritivas ao capital estrangeiro reduzindo as vantagens até agora concedidas como, por exemplo, os baixos impostos e bons financiamentos.

Os países da zona do euro continuam a comandar a crise e, enquanto são tomadas medidas para salvar a moeda única, o sistema financeiro, silenciosamente, continua a construir cenários alternativos. Enquanto isso, a situação social se agrava, particularmente nos países mais vulneráveis, como Portugal, onde a desigualdade aumenta juntamente com o desemprego, diante das medidas de austeridade adotadas pelo novo governo, e na Espanha, onde o governo conservador recém-eleito já anunciou que não vai cumprir a meta do déficit fiscal prometida (4,4% do PIB em 2012).

Os grandes vilões do ano que passou continuam a ter sua sede em Wall Street e a amargar os prejuízos contabilizados. As maiores perdas ficaram com os bancos americanos. Só as ações do Bank of America tiveram uma queda de 58,3%. Mas não foram apenas os bancos americanos que perderam. Só três dos maiores bancos europeus, BNP Paribas, Société Générale e Crédit Agricole perderam US$ 67,268 bilhões em valor de mercado. E tudo isto apesar do apoio que têm recebido do Banco Central Europeu (BCE) que, na semana passada, fez uma mega operação de empréstimo que quase atingiu 500 bilhões de euros, com juros de 1%. O curioso é que boa parte deste dinheiro retornou a origem, pois a desconfiança nos mercados levou os mesmos bancos a depositá-los de volta no BCE em vez de realizarem operações de empréstimos.

Ao mesmo tempo em que despeja dinheiro facilmente nos bancos privados, o BCE resiste em comprar os títulos das dívidas soberanas dos países mais endividados, os PIIGS, fazendo as maiores exigências e impondo as mais duras restrições fiscais.

Como consequência desta situação, reduz-se o comércio mundial e os preços das commodities continuam em baixa, particularmente produtos como soja, milho, trigo, algodão e café, o que vem trazendo consequências para a balança comercial brasileira.

Por cá, o nacional patriotismo bateu palmas com a notícia de que o Brasil superou o Reino Unido roubando-lhe o posto de 6ª maior economia do mundo, tomando-se como critério o volume do Produto Interno Bruto (PIB). Na primeira linha dos entusiastas, como era de se esperar, estava o exagerado ministro Mantega, que acrescentou que, em 20 ou 30 anos, o país atingirá os níveis de desenvolvimento europeus. Na mesma Inglaterra, o Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CBER) também previu que a taxa de crescimento do PIB do Brasil, em 2012, ficará em torno de 2,5%, bem abaixo dos 4% do nosso ministro, enquanto a da Índia crescerá 6% e a da China, 7,6%.

Criticando a euforia, o comentarista Celso Ming comparou o PIB a uma caneca. Não interessa o tamanho da caneca, mas sim o que está dentro dela. Quanto ao conteúdo, basta verificar que o PIB per capta da Inglaterra é 3 vezes maior que o do Brasil. Isto para não falar na qualidade da educação, saúde, distribuição de renda, etc.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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