domingo, 10 de junho de 2012

Pior que está, vai ficar!


Semana de 28 de maio a 03 de junho de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Caro leitor, em época de crise, é impossível trazer boas notícias. Como já sabemos, o continente europeu agoniza frente a uma velha dificuldade apresentada pelo capitalismo. As notícias por lá vão de mal a pior, ou seja, o circo continua pegando fogo. Constatado isto, concentrarei esta análise na conjuntura econômica interna.
            Para entendermos a dimensão da crise, basta acompanharmos o desempenho dos mais diversos setores industriais e a divulgação das estatísticas econômicas nacionais. As montadoras estão comemorando o aumento das vendas, impulsionado pela redução do IPI. Segundo a Fiat, a General Motors e a Ford, as vendas mais que dobraram, se comparadas a um fim de semana normal. A Volkswagen registrou aumento de 30%. Mas, com a queda que tem ocorrido no consumo, e consequentemente, o aumento dos estoques, as montadoras estão diminuindo a remessa de lucros para suas matrizes no exterior. Até abril as remessas caíram em 70%, comparados ao primeiro quadrimestre do ano passado.
            Há mais de 50 anos, no Brasil, a Mercedes-Benz, pela primeira vez, anunciou que vai interromper os contratos trabalhistas de 1.500 trabalhadores, na unidade de São Bernardo do Campo. A Randon, empresa produtora de autopeças, deu férias coletivas a 1.300 funcionários, que serão acompanhadas de algumas paradas gerais em datas já definidas. As montadoras de motocicletas do país, diante da queda de 11% nas vendas, no acumulado do ano, já demitiram 1.064 trabalhadores e também programaram férias coletivas, no mês de junho.
            A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), pediu novamente ao governo que as salve, reivindicando que o IPI seja fixado em 4%, para todos os produtos da linha branca, já que, para alguns, a taxa, sem qualquer isenção, atinge 20%. Segundo alguns produtores do setor, houve desaceleração das vendas. No ano passado, o crescimento atingiu dois dígitos, e, neste ano, estão crescendo a um dígito.
            Não é à toa que os mais poderosos empresários brasileiros estão avaliando estas questões. O PIB brasileiro cresceu apenas 0,2%, no primeiro trimestre de 2012, em relação ao quarto trimestre de 2011, segundo o IBGE. Comparado ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB brasileiro apresentou alta de 0,8%. Houve expansão de 1,7% do setor industrial e queda da agropecuária de 7,3%. Mas, segundo o governo, o PIB brasileiro, neste período, ainda é um dos melhores do mundo, ou seja, estamos mal, mas os outros estão piores.
            O IEDI divulgou uma queda na atividade industrial, de 2,9%, no primeiro trimestre de 2012, em relação a 2011. Em maio, o estoque industrial subiu em 6 dos 14 setores pesquisados, segundo a FGV. Já a Fiesp prevê uma queda de 2% na atividade industrial de São Paulo e queda de 1% na indústria do país.
            As projeções continuam ladeira abaixo. O Boletim Focus do Banco Central já projeta uma taxa de 2,99% para o PIB, este ano. A projeção inicial era de 4,5%. Alguns já estimam em 2,3%.
            A equipe econômica, afirma estar 300% preparada para enfrentar a crise, mas, há um grande temor que a situação da Espanha contagie o Brasil, pois ela é o terceiro maior investidor no país. Por isto, o governo tem monitorado, diariamente, os dados econômicos europeus e acompanhado de perto as notícias da Europa.
            No início da atual crise, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, minimizou os seus efeitos, em nossa economia, dizendo que, se no exterior ela era um tsunami; aqui seria uma marolinha, que não daria nem para esquiar. Resultado: a força da crise se revelou em 2009 com o PIB crescendo apenas 0,3%. Com a forte intervenção que aconteceu, tanto interna quando externamente, parecia estarmos livres do incomodo, em 2010. Crescemos 7,5%. Mas o pífio crescimento de 2,7%, em 2011, mostrou que o fenômeno está mais vivo que nunca e, apesar dos esforços do governo, o cenário este ano tende a se repetir.
            Mesmo assim não faltam fórmulas mágicas para acabar com a crise. Paul Krugman, em seu novo livro intitulado “Acabem com esta depressão, agora!” determina sua extinção. Mas, a História Econômica tem mostrado que não é tão simples assim. Certamente não escaparemos dela, assim como não escapamos em 2009. Enganam-se os economistas que acham que domam a Economia.
            Pior que está, vai ficar!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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