quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio +20: uma crítica da economia política


Semana de 11 a 17 de junho de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            No dia 13 de junho do presente ano, iniciou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que tem como objetivo “a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes”. Este é o Rio +20. O resultado esperado é um consenso em torno de um sistema econômico capaz de satisfazer as atuais necessidades dos cidadãos e que, ao mesmo tempo, garanta esta capacidade às gerações futuras.
            Muitos diriam que isto é impossível, pois, diante dos recursos escassos e das ilimitadas necessidades humanas, quem estaria disposto a abdicar de seu bem estar atual para que outra pessoa, no futuro, pudesse desfrutar de um consumo, no mínimo, razoável? Mas, será que este ponto de vista é irrefutável?
            Começo fazendo a seguinte pergunta ao leitor: você é insaciável? Você acha que é impossível satisfazer todas as suas necessidades? Talvez, num primeiro instante, dá até para acreditar que somos plenamente saciáveis. Mas sempre vem em nossa mente aquele carro, aquela casa, aquela roupa, etc. Logo passamos a achar que nossas necessidades são ilimitadas. Mas ainda insisto: você realmente precisa daquele carro, daquela casa ou daquela roupa? Por que você precisa deles? É uma necessidade sua ou do meio no qual você vive? Sim, porque, por exemplo, aqui no Brasil, muitas pessoas têm a necessidade de assistir futebol, já nos EUA, as pessoas têm a necessidade de assistir Baseball. Ou mesmo, de um ano para outro, as pessoas têm a necessidade de usar azul, depois verde, depois bege... Quem será o responsável por isso? Para respondermos esta questão, devemos saber por que os recursos são escassos.
            O ser humano, ao trabalhar, cria riqueza sob várias formas: carros, casas, roupas, etc. Ela, por sua vez, pode ser vista sob um duplo aspecto: pelo qualitativo, que está ligado à capacidade que o objeto tem de satisfazer as necessidades do homem; e pelo quantitativo, representado pelo valor do produto. Pois bem, pergunte ao trabalhador ou empresário, ou pessoa de sã consciência, qual a finalidade de se criar carros, casas, roupas? Alguém duvida de que o objetivo é ter lucro? Mas, sem um produto qualquer não haverá valor, nem riqueza, embora seja indiferente se o produto for alimentos ou bebidas. Não importa o tipo de mercadoria a ser produzida, desde que se obtenha lucro. Mas, se é por meio da venda das mercadorias que se obtém este lucro, por que será que vemos e ouvimos em todos os lugares, que nós precisamos ter uma casa, um carro ou uma roupa diferente da que temos?
            Pois bem, se a riqueza fosse produzida com o objetivo de dar às pessoas os meios necessários a sua sobrevivência, teríamos um limite: quando todos estivessem satisfeitos, parava-se de produzir. Porém, qual o limite para a obtenção de lucro (valor)? Não há limite! Quem está satisfeito com o valor que tem hoje no bolso? Além do mais, para obter lucro ilimitadamente é necessário produzir mercadorias ilimitadamente, por isso “precisamos” ter necessidades ilimitadas, para consumirmos as ilimitadas mercadorias. Mas, para criar mercadorias é necessário utilizar os recursos, e a consequência disto é trágica, pois, mais cedo do que tarde, chegaremos ao esgotamento da Terra.
            Até os recursos considerados renováveis estão em xeque, pois a população já consome 50% a mais do que a terra é capaz de renovar. Enquanto a população mundial aumentou em 2,2 vezes, entre 1960 e 2010, o consumo de mercadorias aumentou 6 vezes. O pior é que nem todos os países são os responsáveis por isso, mas não deixam de pagar. Segundo Hélio Mattar, do Instituto Akatu e defensor do capitalismo, “Apenas 16% da humanidade são responsáveis por 78% de todo o consumo. Se todo o mundo gastasse como os habitantes mais ricos do planeta, seriam necessários quase cinco planetas”. Ou seja, se 84% dos homens vivem com 22% da riqueza, para quê e por que os outros têm tanto?
            Talvez, existam duas maneiras possíveis de se começar a evitar o colapso da natureza e do homem: 1) manter o atual, e concentrador, sistema econômico e, mesmo com todas as mazelas, transformar a preservação do planeta em mercadoria, e como tal, lucrativa; ou 2) mudar a forma como se produz e distribui a riqueza, levando em consideração o fato de que nós, animais, somos parte de um mesmo sistema, onde cada um dos elementos é respeitado de acordo com as necessidades de manutenção da sua espécie.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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Um comentário:

  1. http://www.corecon-pb.org.br/new/post.php?id=897
    Prof. Lucas, teria como o Sr. fazer uma divulgação do Encontro para os Alunos de Economia! o Presidente do Conselho Regional de Economia Sr. Antonio Cavalcante Fillho ficaria grato!

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