terça-feira, 26 de junho de 2012

Nós vamos crescer muito mais?


Semana de 18 a 24 de junho de 2012


Eric Gil Dantas [i]



            O banco suíço Credit Suisse, em sua última projeção, diminuiu sua estimativa para crescimento do PIB brasileiro em 2012, de 2,0%, para 1,5%. Tal notícia irritou bastante o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que considerou “uma piada” e ainda acrescentou que “vai ser muito mais do que isso”. Será?
             A “nova classe média”, que o governo tanto proclama como o motor do crescimento brasileiro, parece dar sinais de problemas na engrenagem. A inadimplência do consumidor no país, de abril a maio, voltou a subir com força, o que mostra um grande comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas. Segundo dados da Serasa Experian, o índice de inadimplência saltou 6,2%, chegando ao maior patamar da série iniciada em 1999. Em São Paulo, o nível de endividamento também chegou ao seu recorde. Em maio, o número das famílias que assumiram ter contas em atraso saltou, dos 14,4% obtidos no mesmo mês do ano passado, para 21,5%. Apesar disto, a demanda por crédito aumentou em 14%, com o maior aumento entre os que recebem até R$500,00 mensais. Isso evidencia que o endividamento é o meio que estes novos consumidores têm para acessar o mercado.
            Na indústria, as coisas ainda estão piorando. Apesar do pacote de estímulos dado pelo governo, nas últimas semanas, os empresários avaliam que não foi o bastante, o que se expressa na queda dos índices de confiança da CNI e da FGV. Por essa razão, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), como medida de estímulo ao setor, pediu ao ministério da Fazenda a prorrogação do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em vigor deste dezembro do ano passado e que vencerá no final do mês de junho. No entanto, como o próprio presidente da Eletros, Lourival Kiçula, reconhece, a antecipação das compras, provocada por aquele estímulo, agora, está provocando a desaceleração das vendas.
            Outro setor da indústria que vem sofrendo é o de caminhões. A Mercedes já iniciou o seu regime de “layoff”. Pela primeira vez em 50 anos de história no Brasil, a sua fábrica de São José dos Campos suspendeu os contratos de aproximadamente 1,5 mil operários por um prazo que pode chegar a cinco meses. Os dados da Anfavea, entidade que representa as montadoras, mostram recuo de 12,5% nas vendas e de 32,8% na produção de caminhões até maio. Além da Mercedes, a MAN (com a marca Volkswagen), a Volvo e a GM também adotaram suas medidas de contenção, com demissões voluntárias, férias coletivas e paradas programadas.
            Apesar disto, mais otimista do que a Credit Suisse, o ex-ministro Delfim Netto ainda acredita em um crescimento de 2%, se a economia brasileira acelerar com força, nestes próximos trimestres.
            Nas economias centrais, as perspectivas também não estão otimistas. Segundo o secretário-geral da OCDE, Angel Curría, o crescimento será fraco nos próximos 5 a 10 anos, com alto desemprego, desigualdade, déficit e endividamento público.
            Na Europa, a Espanha vem se consolidando como a bola da vez, depois da Grécia. O Financial Times disse que o acordo dos governos da zona do euro, para custear a recapitalização dos bancos espanhóis, ainda não afastou os temores sobre a quarta maior economia da zona. O pacto envolvia uma linha de crédito de € 100 bilhões ao país. Mas, para uma operação integral, o número seria algo próximo a € 500 bilhões. Com esta expectativa, os espanhóis têm cada vez mais dificuldades para refinanciar sua dívida pública, pagando quase duas vezes mais juros do que no mês de maio. O problema é tamanho que o economista-chefe do banco holandês Rabobank Internacional diz que a “ruptura na zona do euro é questão de semanas”.
            Nos EUA, o emprego ainda continua frágil, o orçamento público duvidoso e a possibilidade do contágio da crise da zona do euro, latente, o que obrigou o FED (o BC dos EUA) a garantir que está pronto para agir e adotar as medidas necessárias.
            Diante desta conjuntura é que devemos fazer a pergunta: onde está a piada sobre o PIB? Nos 1,5% do Credit Suisse ou nos 4% do ministro Mantega?


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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