quarta-feira, 30 de julho de 2014

Crise se agrava e afeta o emprego

Semana de 21 a 27 de julho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]


            Caro leitor, muitos argumentos foram utilizados nos últimos anos para justificar o aquecimento do mercado de força de trabalho, durante o período de crise econômica. O principal deles repousa sobre o crescimento do setor de serviços, que segundo os analistas, ganha espaço na economia brasileira e utiliza muita mão de obra.
Outro argumento está associado à taxa de crescimento populacional, que vem caindo sensivelmente nos últimos 20 anos. Esta mudança faz com que a População em Idade Ativa (PIA), composta por indivíduos entre 15 e 60 anos, apresente crescimento lento, o que reduz a oferta de força de trabalho. Até o surgimento de uma nova geração, a nem-nem (que nem trabalha, nem estuda principalmente porque caiu no desalento) acabou contribuindo para explicar o porquê do fenômeno.
Características atípicas para uma economia em crise perduraram por algum tempo, como por exemplo, o baixo desemprego e rendimento em alta.
Estes debates estão sendo substituídos gradativamente. Quando todos continuam à espera da fase de recuperação econômica, eis que somos chamados à realidade. O crescimento econômico brasileiro novamente será pífio e desta vez arrastará o emprego consigo.
As previsões foram revisadas para baixo. O Ministério do Planejamento, em seu relatório bimestral de avaliação das receitas e despesas primárias, reduziu a expectativa de expansão do PIB de 2,5% para 1,8%, neste ano. Além do baixo crescimento, a arrecadação será menor e a inflação mais alta (sem extrapolar o teto da meta). O FMI também reviu sua previsão. Segundo o órgão, o Brasil crescerá apenas 1,3%, este ano, ao invés de 1,8% da previsão anterior. Já o Boletim Focus do Banco Central apurou um resultado menos otimista e concluiu esta semana, que a economia crescerá apenas 0,97%.
A todo o momento surgem notícias desanimadoras. A indústria não apresenta sinais de recuperação e a projeção de queda da atividade setorial torna-se cada vez mais real. As previsões dão conta de que o setor cairá entre 1 e 1,5% este ano.
Sob a chantagem de proteção ao emprego dos trabalhadores, o setor automobilístico agora quer que o governo, além das várias medidas já implantadas, ajude a baratear seus custos, com a criação de linhas de financiamento para modernização de fábricas de autopeças, estímulo à produção nacional de itens que atualmente são hoje importados, novas desonerações sobre insumos e alíquotas de importação menores para matérias-primas.
Mesmo que o governo ceda a mais esta chantagem, na tentativa de salvar a economia, gostaríamos de lembrar que insiste em matá-la, mantendo os juros altos.
Ao que parece, o inevitável vai acontecer: o aumento do desemprego.
Alguns sinais já foram dados. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve, no segundo trimestre, um esfriamento das contratações de trabalhadores com carteira assinada. O salário médio real dos entrantes no mercado formal aumentou em 1,2%, mas foi metade do observado no primeiro trimestre.
A greve do IBGE, entre os funcionários de Salvador e Porto Alegre, apenas permitiu que dados parciais da PME (Pesquisa Mensal de Emprego), referentes ao mês de junho, fossem divulgados. A taxa de desemprego ficou estável em São Paulo, quando comparada ao mês de maio, em 5,1%. Esta é a tendência esperada para a média do país já que a região representa um peso de 44% da amostra da pesquisa.
Por trás dos dados parciais, esconde-se o fato de que a ocupação se sustentou por meio do avanço do emprego precário. Em junho, comparado ao mês anterior, foram fechados, nas quatro regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Recife), 55 mil empregos com carteira assinada. Ao mesmo tempo foram geradas 28 mil vagas sem carteira assinada e mais 34 mil vagas na ocupação por conta própria. O trabalho doméstico também cresceu, pois foram criadas 40 mil vagas em casas de família. A indústria fechou 88 mil postos de trabalho. O rendimento médio real caiu. A queda foi de 1% no Recife, de 0,5% no Rio de Janeiro, de 1,6% em São Paulo e de 2,2% em Belo Horizonte.
Diante destes resultados, embora parciais, só é possível concluir que maus horizontes desenham-se para o Brasil.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Fase de baixa no ciclo econômico

Semana de 14 a 20 de julho de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

“Estamos numa fase de baixa do ciclo econômico, mas vamos entrar em outra fase e temos de nos preparar”. Estas são as declarações da presidente Dilma em uma entrevista concedida à TV Al Jazeera, na semana passada. Pelo menos desta vez a presidente demonstrou algum conhecimento de teoria econômica que, infelizmente, se esgotou na frase seguinte: “Se não surgir pro resto do mundo, eu te asseguro que vai surgir para o Brasil”.
Parece que o otimismo do ministro Mantega está contaminando a presidente. Já temos repetido nesta coluna que, desde que o ciclo tornou-se sincronizado a nível mundial, o que se consolidou com a globalização, os destinos de todos os países estão ligados principalmente quando o trem desce a ladeira. Seria mais importante se a presidente e sua equipe explicassem por que, quando os outros já estão estabilizando suas economias (lentamente e a duras penas), nós continuamos a caminho do fundo do poço, embora a ritmos mais moderados.
As notícias da semana confirmam o quadro pessimista. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), de maio, mostrou que a economia ficou estagnada nos dois primeiros meses do segundo trimestre, o que aponta para dois trimestres seguidos de queda no crescimento da economia. Em maio, em relação a abril, a queda foi de 0,18%.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), no seu Boletim Macro, de julho, calcula que o valor adicionado da indústria de transformação terá uma queda de 1% no ano, o que obriga a uma revisão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,6% para 1%. O Boletim Focus do BC também revisou suas projeções, reduzindo para 1,05% o crescimento do PIB, em 2014, enquanto elevou as estimativas do IPCA (que mede a inflação), de 6,48% para 6,51%.
Não é por acaso que esta desaceleração já começa a agravar os dados do emprego. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a indústria demitiu 28,5 mil trabalhadores, no mês de junho, situação semelhante à de maio. Isto era esperado, pois a produção já acumulava, de janeiro a maio, uma queda de 1,6%. Empresas de consultoria como a LCA Consultores estimam que foram fechadas 74,5 mil vagas na indústria em todo o ano. No segundo trimestre foram eliminadas 59,6 mil vagas.
Estes dados ainda não mostram toda a gravidade da situação. Entre janeiro e maio o número de operários em “layoff” já ultrapassava o total acumulado de 2013, atingindo 7.514. Por esse sistema os trabalhadores ficam sem trabalho de 2 a 5 meses e recebem uma “bolsa-qualificação” que chega a R$1.304,65, tendo o resto do salário complementado pela empresa. Só no setor automotivo do ABC paulista há 1.300 metalúrgicos neste sistema. Mas há inúmeros outros exemplos. A Volkswagen em São José dos Pinhais (PR) afastou 400 operários e em São Carlos mais 70. A Eletrolux afastou 120 trabalhadores e a Smalte, outros 40. Todos em sistema de layoff. E o fenômeno se espalha para outras regiões do país.
A queda da produção e as desonerações dadas pelo governo estão comprometendo a arrecadação que continua baixa, o que está obrigando a criação de “receitas extraordinárias” para atingir a meta de R$80,8 bilhões de superávit primário ou recorrer a outras manobras contábeis, na tentativa de enganar o “mercado”. Este quadro esteve por trás da decisão do Copom que resolveu manter a taxa Selic em 11% em sua última reunião, com a desculpa de que, apesar de tudo, a inflação vem apresentando uma “trajetória de convergência para a meta”.
O pior é que o horizonte internacional continua nublado com a indústria da União Europeia caindo 1,1%, entre abril e maio, com a ameaça de estouro do Banco Espírito Santo SA de Portugal, com o anúncio de demissão de 18.000 empregados da Microsoft, com o Banco Central Europeu (BCE) preocupado com os ativos podres dos bancos europeus, etc.
Será que estamos diante de mais uma marolinha?



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 16 de julho de 2014

A Copa acabou. A crise econômica, não...

Semana de 07 a 15 de julho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]


            A festa do futebol acabou. Sagrou-se um campeão. E não fomos nós. De uma maneira geral, cumpriu-se bem a obrigação de realização do evento, mas exceto isso, não há mais motivos para comemorar, como frisamos na última análise. As derrotas do time do Brasil nas duas últimas partidas, com placares que nem vale a pena relembrar, deixa algumas lições no âmbito futebolístico, que poderiam servir de exemplo para as decisões da área econômica. O “jeitinho brasileiro” não resolveu os problemas do futebol e nem parece que a “malemolência” do brasileiro dará jeito à crise que vem se agravando internamente.
            Os alemães, vitoriosos do torneio, sabiam que a conquista estava vinculada a um planejamento bem pensado, bem executado e não menos importante, passível de mudanças. Foi assim que a alegria, que o jogador David Luiz queria trazer ao povo brasileiro, foi transferida para outro continente. Continente este que do ponto de vista da conjuntura econômica não visualiza uma solução para a sua crise. A Alemanha, portadora atual da maior alegria do futebol, também sofre com os efeitos dela. O país só cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2014, comparado ao trimestre anterior. Mesmo assim, a chanceler Merkel pôde comemorar já que o número é melhor que o apresentado pela Europa e coincidentemente, pelo Brasil. Ambos, no primeiro trimestre, cresceram apenas 0,2%.
            Se dias melhoras virão no futebol brasileiro, não se sabe. A única certeza que se tem é que a situação econômica não melhorará, pelo menos em 2014. Os incentivos emergenciais, dados pelo governo à indústria ajudam, mas são insuficientes. A afirmação vem do próprio setor industrial. Entre as medidas adotadas estão: a desoneração, agora permanente, da folha de pagamentos para diversos setores; a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), até 2015; a manutenção da redução das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os automóveis e o regresso do Reintegra, benefício que o exportador recebe pela devolução de um crédito tributário sobre o faturamento das vendas ao exterior. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), constata que a queda das vendas do setor automobilístico, no primeiro semestre, foi de 7,6%. A instituição estima que a produção deva crescer no segundo semestre, mas os volumes não superarão o fracasso da primeira metade do ano e as vendas fecharão com queda de 5,4% e a produção com queda de 10%.
            A Associação Brasileira dos Produtores de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), compartilham da mesma opinião: os incentivos não salvarão o ano da indústria brasileira. No acumulado, até maio, a produção industrial caiu 1,6%, número que dificilmente será revertido no segundo semestre. Resta agora apelar para o setor agropecuário que salvou o PIB de 2013, crescendo 7%. Infelizmente, os sinais que detectamos para este setor não são os melhores. A Anfavea acabou de revisar para baixo as estimativas para as vendas de máquinas agrícolas em 2014. Segundo a instituição, as vendas desta modalidade recuarão 12% este ano. No acumulado dos 12 meses até junho, as vendas internas de máquinas agrícolas caíram 6% comparado ao mesmo período do ano anterior. No primeiro semestre do ano as vendas foram reduzidas em 20%.
            Enquanto o Brasil patina no futebol e na economia, os Estados Unidos, que sofrem do mesmo mal, estão tentando acabar com as especulações do “mercado” acerca da possível alta dos juros. O Fed, Banco Central americano, declarou que a expansão econômica dos Estados Unidos, visualizada através do aquecimento do mercado de trabalho e consequente redução da taxa de desemprego, esconde sérios problemas. A parcela da população que está trabalhando ou procurando emprego continua em níveis muito baixos e cresceu o número de pessoas trabalhando meio período, por não encontrarem emprego em tempo integral. O consumo interno continua fraco, fato que mostra um baixo crescimento dos salários.
            Portanto, os “agentes” do mercado financeiro não devem esperar, segundo a presidente do Fed, Janet Yellen, um aumento da taxa de juros, pois este não encontra uma justificativa plausível na realidade.
            Posicionamentos deste tipo, segundo os analistas, poderão condicionar os Bancos Centrais do mundo a adotarem posturas menos passivas em suas decisões, que acabam privilegiando os abutres do mercado financeiro.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Desilusão no futebol e na economia

Semana de 30 de junho a 06 de julho


Nelson Rosas Ribeiro[i]

Fica muito difícil fazer considerações sobre a conjuntura diante do impacto dos 7x1 alemão. Só lembro a frase do David Luiz, na entrevista cheia de lágrimas, dada na televisão, depois do jogo: “Eu queria dar uma alegria ao povo, pelo menos no futebol”.
Pior que isso só se o Brasil fosse disputar o terceiro lugar com a Argentina e... perdesse. Mas os hermanos livraram os brasileiros disto vencendo a Holanda.
E o David Luiz tem razão: não temos muitos motivos para alegria no que diz respeito à situação econômica, o que pode ser verificado nas estatísticas e fatos.
Os ventos externos continuam a soprar do lado errado. A presidente do Federal Reserve (Fed, BC americano), Janet Yellen, em discurso no FMI, descartou o aumento de juros nos EUA, diante da debilidade da recuperação da economia e temendo as consequências para o desemprego. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, anunciou nova ação do banco para conter a estagnação na Europa. O BCE promete lançar um trilhão de euros em operações de financiamento de longo prazo, através dos bancos, com juros subsidiados. Os bancos são obrigados a orientar os empréstimos para a economia real. O BCE reafirmou seu compromisso de manter as taxas de juros baixas por “um período prolongado de tempo”.
Enquanto as economias se arrastam os órgãos reguladores nos EUA ainda caçam os Bancos que estiveram envolvidos nos trambiques da crise financeira iniciada em 2008. O banco francês BNP Paribas teve de pagar uma multa de US$ 9 bilhões para evitar sanções e o americano Goldman Sachs aceitou pagar US$ 800 milhões para encerrar uma investigação contra ele.
Este ambiente hostil, aliado à política econômica nacional, está tendo consequências desastrosas no Brasil. Ao nível do comércio internacional, a balança comercial apresenta um déficit acumulado de US$ 2,49 bilhões, no primeiro semestre, o pior resultado desde 2000. O agravante é que 50,8% do total das exportações correspondem a produtos primários (como minérios e soja), o que é o pior resultado em 35 anos. Estamos voltando a ser uma economia primário-exportadora.
E não é de admirar. A desaceleração da produção industrial é cada vez mais preocupante. De acordo com o IBGE, a produção industrial teve, em junho, a terceira queda consecutiva. Para a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras de automóveis têm o pior primeiro semestre em quatro anos. Até as vendas de máquinas agrícolas, em junho, tiveram queda de 32,34%, em relação ao mesmo mês de 2013. Já os tratores caíram 20,14%, na mesma comparação e 17,85%, em todo o primeiro semestre. Em relação à indústria química, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) informa que o setor ficará estagnado em 2014. De janeiro a maio a redução da produção já foi de 7,07%.
Até os fabricantes de estruturas choram as suas mágoas. As esperanças de faturamento nas obras da Copa foram frustradas. De acordo com a Associação Brasileira de Construção Metálica (Abcem), no acumulado do ano, já foram demitidos 10% a 15% do pessoal ocupado, diante da queda de 20% no faturamento. Os empresários do setor lamentam a perda dos contratos para fornecedores estrangeiros favorecidos pela isenção de ICMS e das alíquotas de importação. Empresas de Portugal, Espanha e China ganharam os contratos para os estádios de Brasília, Salvador, Pernambuco, Manaus, Natal e Fortaleza, além da cobertura do Maracanã. No acumulado do ano, desde maio de 2013, o desempenho do setor foi negativo em 13,5%. Para 2014, as perspectivas são péssimas, pois até as encomendas de Petrobras e da Vale serão atendidas pela China, graças à isenção de impostos e ao financiamento do BNDES.
Mas, há um motivo de alegria: a Caixa Econômica Federal (CEF) já financiou R$ 6 bilhões para consumidores no programa “Minha Casa Melhor” do governo federal. Milhares de participantes do “Minha casa minha vida” compraram móveis e eletros para seus lares. Mas... não pagaram. A CEF está vendendo sua carteira de R$ 6 bilhões de títulos podres aos fundos abutres para efetuar uma “baixa contábil” do valor incobrável que será debitado dos seus lucros e, consequentemente, abatido do IRPJ, indo para a conta dos contribuintes, ou seja, nós todos.
Isto é o que se chama fazer caridade com o chapéu alheio.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Crise, inflação e distribuição de renda

Semana de 23 a 29 de junho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Na situação atual tornou-se inevitável iniciar o texto desta análise de conjuntura com boas notícias. É incrível como esta crise mundial vem se arrastando ao longo dos últimos anos. Se um indício de recuperação é noticiado, logo vem acompanhado pelos adjetivos frágil, incerto, duvidoso, dúbio, impreciso, inconsistente... Estudo feito por economistas europeus que integram o Centre for Economic Policy Research, por exemplo, conclui que a recuperação europeia continua “frágil e desigual” e acompanhada de altas taxas de desemprego. Os analistas afirmam que não há consistência no fato de que a economia está saindo da recessão, afinal os números do primeiro trimestre foram sofríveis e o PIB da zona do euro cresceu apenas 0,2%. Se a base for a economia americana, o cenário piora. O PIB norte-americano caiu 2,9% no primeiro trimestre.
            O Brasil acompanha o baixo ritmo, como era de se esperar. No primeiro trimestre, a economia interna empatou com a europeia: cresceu apenas 0,2%. Esta semana, o Banco Central reduziu as estimativas de crescimento do PIB para 2014. Em seu Relatório Trimestral de Inflação, a instituição aponta que a atividade crescerá apenas 1,6%, contra os 2% estimados no documento anterior. O Boletim Focus, também do Banco Central (BACEN), que apura semanalmente as perspectivas de crescimento do PIB junto a economistas das principais instituições financeiras em atuação no país, é ainda mais pessimista. As estimativas para o crescimento do PIB caíram pela quarta semana consecutiva, de 1,24% para 1,16%. Considerando este período, a produção industrial, segundo o Focus, cairá de 0,51% para -0,14%.
            Como nosso leitor assíduo já sabe esta não é a principal preocupação do governo. Apesar da projeção de baixo crescimento, o indicador de inflação, segundo o relatório do BACEN, continua a subir e aumentou de 6,2% para 6,4%. A esperança da autoridade monetária está no arrefecimento do choque de oferta dos preços dos alimentos, na acomodação dos preços administrados e, principalmente, nos efeitos defasados da política monetária, que levarão a inflação ao centro da meta. Embora acredite que os juros permanecerão em 11% até o fim do ano, a maioria dos economistas defende insanamente a necessidade imediata de um choque de juros.
            Continuam os economistas a tentar entender o porquê dos juros altos não combaterem a inflação. Por que a inflação não cede? Por que será que a realidade econômica não se adequou ao que prevê a teoria? Será que a realidade está errada e a teoria está certa?
            Que sinuca de bico!
            Em meio às alianças que se formam para a próxima eleição, surge mais uma voz dissidente quanto aos rumos da política econômica. Desta vez, foi Ciro Gomes do PROS – Partido Republicano da Ordem Social, que oficializou o apoio ao governo Dilma, mas reclamou: “Está errada a política econômica, está errada a política monetária, está errada a política fiscal. Não tem política econômica que funcione no Brasil”.
            Soma-se a isto mais uma notícia ruim, desta vez sobre a desigualdade de renda no Brasil. Dados dos censos de 2000 e 2010 sobre a população economicamente ativa mostram que não se alterou a parcela da renda concentrada pelo 1% mais rico. Em 2000, esta parcela detinha 17,2% da renda nacional. Dez anos depois, a situação é a mesma. Houve uma melhora na parcela dos de menor renda, como por exemplo, entre os 60% mais pobres, que detinha 18,1% da renda em 2000 e em 2010, 21,5%. No entanto não houve mudanças significativas nos extremos das classes de renda. Pesquisadores do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) concluíram que, em média, os 60% mais pobres apresentaram um crescimento da renda de 155% entre 2000 e 2010. Mas para os 40% seguintes, o crescimento da renda média foi de 106%. Nelson Barbosa, que é ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, estima que os 10% mais ricos detêm cerca de 95% da riqueza do país.
            Tal comportamento da distribuição de renda justifica o sucesso de um mercado que não para de crescer no país. A Mercedes-Benz está ampliando sua rede de concessionárias especializadas na venda de carros de luxo. Este é o melhor ano, segundo a montadora, em termos de vendas de luxuosos. O setor anda na contramão da crise automobilística, que já amarga uma queda de 19,6% dos emplacamentos em junho comparados a junho do ano passado e de 5,4% em relação a maio.
            Este é o cenário ingrato do Brasil.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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