Semana de 30 de junho a 06 de julho
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Fica muito difícil fazer considerações sobre a conjuntura diante do impacto dos 7x1 alemão. Só lembro a frase do David Luiz, na entrevista cheia de lágrimas, dada na televisão, depois do jogo: “Eu queria dar uma alegria ao povo, pelo menos no futebol”.
Pior que isso só se o Brasil fosse disputar o terceiro lugar com a Argentina e... perdesse. Mas os hermanos livraram os brasileiros disto vencendo a Holanda.
E o David Luiz tem razão: não temos muitos motivos para alegria no que diz respeito à situação econômica, o que pode ser verificado nas estatísticas e fatos.
Os ventos externos continuam a soprar do lado errado. A presidente do Federal Reserve (Fed, BC americano), Janet Yellen, em discurso no FMI, descartou o aumento de juros nos EUA, diante da debilidade da recuperação da economia e temendo as consequências para o desemprego. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, anunciou nova ação do banco para conter a estagnação na Europa. O BCE promete lançar um trilhão de euros em operações de financiamento de longo prazo, através dos bancos, com juros subsidiados. Os bancos são obrigados a orientar os empréstimos para a economia real. O BCE reafirmou seu compromisso de manter as taxas de juros baixas por “um período prolongado de tempo”.
Enquanto as economias se arrastam os órgãos reguladores nos EUA ainda caçam os Bancos que estiveram envolvidos nos trambiques da crise financeira iniciada em 2008. O banco francês BNP Paribas teve de pagar uma multa de US$ 9 bilhões para evitar sanções e o americano Goldman Sachs aceitou pagar US$ 800 milhões para encerrar uma investigação contra ele.
Este ambiente hostil, aliado à política econômica nacional, está tendo consequências desastrosas no Brasil. Ao nível do comércio internacional, a balança comercial apresenta um déficit acumulado de US$ 2,49 bilhões, no primeiro semestre, o pior resultado desde 2000. O agravante é que 50,8% do total das exportações correspondem a produtos primários (como minérios e soja), o que é o pior resultado em 35 anos. Estamos voltando a ser uma economia primário-exportadora.
E não é de admirar. A desaceleração da produção industrial é cada vez mais preocupante. De acordo com o IBGE, a produção industrial teve, em junho, a terceira queda consecutiva. Para a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras de automóveis têm o pior primeiro semestre em quatro anos. Até as vendas de máquinas agrícolas, em junho, tiveram queda de 32,34%, em relação ao mesmo mês de 2013. Já os tratores caíram 20,14%, na mesma comparação e 17,85%, em todo o primeiro semestre. Em relação à indústria química, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) informa que o setor ficará estagnado em 2014. De janeiro a maio a redução da produção já foi de 7,07%.
Até os fabricantes de estruturas choram as suas mágoas. As esperanças de faturamento nas obras da Copa foram frustradas. De acordo com a Associação Brasileira de Construção Metálica (Abcem), no acumulado do ano, já foram demitidos 10% a 15% do pessoal ocupado, diante da queda de 20% no faturamento. Os empresários do setor lamentam a perda dos contratos para fornecedores estrangeiros favorecidos pela isenção de ICMS e das alíquotas de importação. Empresas de Portugal, Espanha e China ganharam os contratos para os estádios de Brasília, Salvador, Pernambuco, Manaus, Natal e Fortaleza, além da cobertura do Maracanã. No acumulado do ano, desde maio de 2013, o desempenho do setor foi negativo em 13,5%. Para 2014, as perspectivas são péssimas, pois até as encomendas de Petrobras e da Vale serão atendidas pela China, graças à isenção de impostos e ao financiamento do BNDES.
Mas, há um motivo de alegria: a Caixa Econômica Federal (CEF) já financiou R$ 6 bilhões para consumidores no programa “Minha Casa Melhor” do governo federal. Milhares de participantes do “Minha casa minha vida” compraram móveis e eletros para seus lares. Mas... não pagaram. A CEF está vendendo sua carteira de R$ 6 bilhões de títulos podres aos fundos abutres para efetuar uma “baixa contábil” do valor incobrável que será debitado dos seus lucros e, consequentemente, abatido do IRPJ, indo para a conta dos contribuintes, ou seja, nós todos.
Isto é o que se chama fazer caridade com o chapéu alheio.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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