quarta-feira, 16 de julho de 2014

A Copa acabou. A crise econômica, não...

Semana de 07 a 15 de julho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]


            A festa do futebol acabou. Sagrou-se um campeão. E não fomos nós. De uma maneira geral, cumpriu-se bem a obrigação de realização do evento, mas exceto isso, não há mais motivos para comemorar, como frisamos na última análise. As derrotas do time do Brasil nas duas últimas partidas, com placares que nem vale a pena relembrar, deixa algumas lições no âmbito futebolístico, que poderiam servir de exemplo para as decisões da área econômica. O “jeitinho brasileiro” não resolveu os problemas do futebol e nem parece que a “malemolência” do brasileiro dará jeito à crise que vem se agravando internamente.
            Os alemães, vitoriosos do torneio, sabiam que a conquista estava vinculada a um planejamento bem pensado, bem executado e não menos importante, passível de mudanças. Foi assim que a alegria, que o jogador David Luiz queria trazer ao povo brasileiro, foi transferida para outro continente. Continente este que do ponto de vista da conjuntura econômica não visualiza uma solução para a sua crise. A Alemanha, portadora atual da maior alegria do futebol, também sofre com os efeitos dela. O país só cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2014, comparado ao trimestre anterior. Mesmo assim, a chanceler Merkel pôde comemorar já que o número é melhor que o apresentado pela Europa e coincidentemente, pelo Brasil. Ambos, no primeiro trimestre, cresceram apenas 0,2%.
            Se dias melhoras virão no futebol brasileiro, não se sabe. A única certeza que se tem é que a situação econômica não melhorará, pelo menos em 2014. Os incentivos emergenciais, dados pelo governo à indústria ajudam, mas são insuficientes. A afirmação vem do próprio setor industrial. Entre as medidas adotadas estão: a desoneração, agora permanente, da folha de pagamentos para diversos setores; a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), até 2015; a manutenção da redução das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os automóveis e o regresso do Reintegra, benefício que o exportador recebe pela devolução de um crédito tributário sobre o faturamento das vendas ao exterior. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), constata que a queda das vendas do setor automobilístico, no primeiro semestre, foi de 7,6%. A instituição estima que a produção deva crescer no segundo semestre, mas os volumes não superarão o fracasso da primeira metade do ano e as vendas fecharão com queda de 5,4% e a produção com queda de 10%.
            A Associação Brasileira dos Produtores de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), compartilham da mesma opinião: os incentivos não salvarão o ano da indústria brasileira. No acumulado, até maio, a produção industrial caiu 1,6%, número que dificilmente será revertido no segundo semestre. Resta agora apelar para o setor agropecuário que salvou o PIB de 2013, crescendo 7%. Infelizmente, os sinais que detectamos para este setor não são os melhores. A Anfavea acabou de revisar para baixo as estimativas para as vendas de máquinas agrícolas em 2014. Segundo a instituição, as vendas desta modalidade recuarão 12% este ano. No acumulado dos 12 meses até junho, as vendas internas de máquinas agrícolas caíram 6% comparado ao mesmo período do ano anterior. No primeiro semestre do ano as vendas foram reduzidas em 20%.
            Enquanto o Brasil patina no futebol e na economia, os Estados Unidos, que sofrem do mesmo mal, estão tentando acabar com as especulações do “mercado” acerca da possível alta dos juros. O Fed, Banco Central americano, declarou que a expansão econômica dos Estados Unidos, visualizada através do aquecimento do mercado de trabalho e consequente redução da taxa de desemprego, esconde sérios problemas. A parcela da população que está trabalhando ou procurando emprego continua em níveis muito baixos e cresceu o número de pessoas trabalhando meio período, por não encontrarem emprego em tempo integral. O consumo interno continua fraco, fato que mostra um baixo crescimento dos salários.
            Portanto, os “agentes” do mercado financeiro não devem esperar, segundo a presidente do Fed, Janet Yellen, um aumento da taxa de juros, pois este não encontra uma justificativa plausível na realidade.
            Posicionamentos deste tipo, segundo os analistas, poderão condicionar os Bancos Centrais do mundo a adotarem posturas menos passivas em suas decisões, que acabam privilegiando os abutres do mercado financeiro.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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