quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Afinal, quem ganhou as eleições?

Semana de 09 a 15 de fevereiro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

O clima festivo do carnaval trouxe ao governo um pouco de sossego. Pelo menos por alguns dias as atenções encontram-se voltadas para a folia, enquanto que os resultados econômicos do ano passado ainda trazem uma melancólica atmosfera de fim de festa. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que atua como sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), encerrou o ano de 2014 com queda de 0,15%, em comparação com 2013. Na indústria, os indicadores de emprego mostram o ano passado como o pior desde 2009. A ocupação cedeu 3,2%, as horas pagas caíram 3,9% e a folha de pagamento real recuou 1,1%.
            Para o presente ano, as estimativas dos analistas estão se deteriorando rapidamente. O boletim Focus, do Banco Central, que previa, no fim de dezembro, uma alta de 0,76% do PIB para 2015, atualmente, aponta estagnação da economia. A previsão de inflação saltou de 6,5% para 7,15%. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, descreve o corrente ano como o da “trindade impossível”. Para ele, o ajuste fiscal deverá ser mais expansivo do que o antecipado, o Executivo precisa ter apoio político para realizar os ajustes necessários na política fiscal e trazer a inflação para o centro da meta.
            Para o economista Caio Megale, o governo precisa que todas as medidas sejam aprovadas pelo Congresso sem que sofram alteração, e ainda serão necessários outros impostos. Pelos cálculos do Itaú, os ajustes feitos garantem um superávit primário de apenas 1%. Não é por acaso que um novo pacote para economizar mais R$ 10 bilhões virá até março. De acordo com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, serão tomadas medidas na fiscalização nas empresas, redução do gasto com a saúde do trabalho e a formalização de 500 mil trabalhadores.
            Vale ressaltar a visão do professor de economia da PUC-SP, Ladislau Dowbor, que, em entrevista à revista Carta Capital, evidenciou o seguinte: “a visão geral que os desequilíbrios e os entraves ao crescimento se devem a excessivos gastos públicos constitui postura ideológica sem base técnica coerente”. O professor continua afirmando que “o desafio está na redução dos juros, que travam tanto a demanda como os investimentos”. Pelo menos um país, aparentemente, já se rebelou contra programa de austeridade fiscal que lhe foi imposto.
            O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, reafirmou ao Parlamento suas promessas: fim do programa econômico da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), refeições e eletricidade de graça para os que não puderem pagar, recontratação de funcionários demitidos e aumento gradual do salário mínimo. Essa postura é apoiada por 67% dos gregos. No entanto, a Alemanha continua feroz opositora. Juntam-se ao coro, os governos português, espanhol e irlandês, temendo que seus eleitores possam ser encorajados a copiar o exemplo helênico.
            No campo político, a cada dia, novos depoimentos dos envolvidos na operação Lava-Jato complicam ainda mais a situação do Partido dos Trabalhadores (PT) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, impõe derrotas sucessivas ao governo. Entretanto, pelo menos até agora, o impacto não foi realmente sentido pelo Planalto. A aprovação do orçamento impositivo, obrigação que o governo execute as emendas individuais de senadores e deputados ao Orçamento da União, pode sair sem custo extra para os cofres públicos. Na prática, os valores acrescentados não devem superar a média histórica de execução orçamentária.
            A despeito do péssimo momento econômico que o país atravessa, o lucro dos cinco maiores bancos brasileiros – Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – cresceu 20%, em 2014. Não há reclamação alguma advinda do setor que navega em águas calmas. Quanto à Caixa, a ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior, assume a presidência, com a missão de avaliar a abertura de capital da empresa.
            Vale lembrar que, durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso de “defesa” e “fortalecimento” dos bancos públicos. Para os eleitores do PT, fica no ar aquela sensação de quem ganhou, mas não levou.



[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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