quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ajuste fiscal sem “recessão e retrocessos”?

Semana de 02 a 08 de fevereiro de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. Enquanto assistimos o desmonte da Petrobras, através da escalada de novas denúncias, delações premiadas e finalmente, o afastamento da presidente da empresa, Graça Foster e de toda a sua diretoria, os rumos da economia continuam nebulosos.
A Grécia provocou nova onda de dissidências pela Europa, desta vez, por eleger um primeiro ministro de esquerda que se recusa a continuar implantando as medidas da troika e que prometeu ao povo tratar as “feridas” da austeridade. Mas, o Banco Central Europeu não aceita a proposta de Alexis Tsipras. Ele propôs um acordo com os credores europeus através de um programa de transição até junho, período em que poderia negociar os termos e as condições do pagamento que não comprometam a soberania nacional. Alemanha e Espanha recusam-se veementemente a renegociar. Tal fato não impediu que o premier grego corresse a Europa em busca de apoio. Desde 2010, a Grécia adota medidas de austeridade, mas a economia continua débil apresentando, nos quatro trimestres de 2014, taxas de crescimento do PIB de -3,1%, -0,4%, 0,9% e 1,9%. A situação econômica grega e a instabilidade entre Rússia e Ucrânia, têm tirado o sono dos que comandam a zona de euro, que ainda não mostra sinais de recuperação. Nos Estados Unidos, a recuperação continua cada vez mais incerta. O Institute for Supply Management, que reúne gerentes de compras, informou queda do índice que detecta o termômetro das encomendas, produção e contratação de mão de obra, pela terceira vez seguida. O índice caiu de 55,1 para 53,1, o que ainda representa uma expansão, embora em menor grau.
Em terras brasileiras, só os bancos comemoram. Juntos, Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander lucraram R$ 37,5 bilhões, em 2014, cifra 25,8% maior que a apresentada em 2013. O Banco Safra fechou o ano com lucro líquido de R$ 1,55 bilhão, 13,9% mais que em 2013.
Fora isto, a situação continua preta. Somada ao escândalo sem precedentes na Petrobras, que arrasta para o caos dezenas de empresas, o racionamento de água e energia, é cada vez mais provável. O Boletim Focus já aferia um crescimento de apenas 0,03% para o PIB, mas o Credit Suisse estima que se houver racionamento de energia o PIB poderá cair em até 1,5%. A Consultoria GO Associados, ao considerar o racionamento, apura queda de 1,3%.
A atividade econômica segue lenta. Levantamentos mostram que a indústria pode ter finalizado o ano com o pior desempenho desde 2009, com queda de aproximadamente 3,1%. A indústria automobilística, que fechou o ano com queda de 7,1% nas vendas, continua a se arrastar. Em janeiro a queda foi de 18,8%, se comparada a janeiro de 2013, e em relação a dezembro foi de 31,4%. A Volkswagen vai fechar o terceiro turno na fábrica de Taubaté, em São Paulo, que segundo a empresa encontra-se com alta capacidade ociosa e ainda dará 20 dias de férias coletivas a partir de 23 de fevereiro. A GM abriu um Programa de Demissão Voluntária em São Caetano do Sul e São José dos Campos. A Ford, a Scania e a GM irão parar durante o carnaval. Até a Whirlpool, fabricante de produtos da linha branca, aderiu às férias coletivas em fábricas de São Paulo e Santa Catarina.
Embora o cenário interno se apresente nebuloso, Joaquim Levy, atual ministro da Fazenda, continua empenhado nas atribuições para as quais foi designado. Juntou-se à sua equipe o novo secretário de política econômica. Afonso de Mello Franco, engenheiro civil e doutor em Economia pela Universidade de Chicago, foi muito bem recebido. Segundo o seu amigo José Roberto Afonso, economista pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, ele é “o cara certo no lugar certo”, já que fez um “ajuste fiscal” no prédio onde morava, enquanto atuou como síndico. Pode?
Enquanto isso, Dilma discursa ao Congresso Nacional reafirmando descaradamente que, apesar do reequilíbrio fiscal ser necessário, não promoverá “recessão e retrocessos”. Economistas heterodoxos vinculados à Unicamp lançaram um texto intitulado “Política social e desenvolvimento” em que fazem críticas à nova política econômica. Segundo aqueles que antes apoiaram a reeleição de Dilma, a presidente cedeu aos apelos do mercado e à “fadinha da credibilidade” que promete, em meio à demanda cadente, reacender o espírito animal dos empresários. A quem a digníssima presidente quer enganar?
O purgante e os seus efeitos colaterais já são amplamente conhecidos. A Grécia que o diga.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog