quinta-feira, 5 de março de 2015

Ainda não chegamos ao fundo do poço

Semana de 23 de fevereiro a 01 de março de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Diz o povo que não há nada tão ruim que não possa piorar. Esta afirmação retrata muito bem a situação da nossa economia hoje. De acordo com a teoria que serve de fundamento às nossas análises, deveríamos estar na fase de depressão do ciclo econômico, ou seja, no fundo do poço. Temos de corrigir nossa avaliação para pior. A economia continuará a cair ainda com mais violência pelo menos durante todo o ano de 2015. Portanto, ainda não chegamos ao fundo do poço.
As notícias confirmam nosso prognóstico. As montadoras continuam com os cortes na produção. O déficit na balança comercial da indústria de transformação, em janeiro, foi de US$ 63,5 bilhões. A queda da arrecadação de impostos, também em janeiro, foi de 5,4%, primeiro mês da administração Levy, em relação ao mesmo mês do ano anterior. A greve dos caminhoneiros, bloqueando as estradas, está provocando a paralisação de várias atividades. O escândalo da Petrobrás está provocando uma reação em cadeia e comprometendo várias empresas, como a Sete Brasil, responsável pela contratação de navios e plataformas com os estaleiros como o Estaleiro Atlântico Sul (Pernambuco), a Enseada Indústria Naval, o Consórcio Estaleiro Paraguaçu, etc., que vão paralisando suas atividades. As grandes empreiteiras também se encontram em situação difícil, como o Grupo Galvão que ameaça paralisar as obras da BR – 153 (Tocantins-Goiás) por falta de financiamento. A Engevisa ameaça entrar em ruptura se não encontrar uma saída para o pagamento de uma multa de R$ 538 milhões que está sendo cobrada pelo Ministério Público Federal.
Diante da passividade dos bancos públicos, os bancos privados sobem os juros, recompondo os seus “spreads”. Segundo o Banco Central (BC), os “spreads” no crédito livre chegaram a 17,5%, em janeiro, maior valor desde 2012. Por sua vez os juros no crédito rotativo dos cartões de crédito já atingem 334% ao ano e no cheque especial, 208,7% ao ano.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) admite que, se houver racionamento de energia, o PIB poderá cair de 1% a 2% neste ano.
Enquanto isso, o homem da tesoura, o ministro Levy, descarrega sua fúria sobre os assalariados mudando as regras do seguro desemprego, o que afetará 4,8 milhões de trabalhadores, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Econômicos (Dieese). Alterou também o valor das pensões por morte penalizando as viúvas e os órfãos, certamente os grandes vilões da catástrofe nacional. Sobrou também para os empresários. Além da elevação dos juros dos empréstimos subsidiados do BNDES e do BB, elevou as alíquotas das contribuições previdenciárias das empresas, de 1% para 2,5% e de 2% para 4,5%. E ainda ironizou: “Essa brincadeira (desoneração da folha) nos custa R$ 25 bilhões por ano”.
Os protestos das centrais sindicais já provocou uma reunião com três ministros do governo Dilma (Previdência, Planejamento e Trabalho) que terminou sem qualquer acordo e o impasse poderá levar a novos confrontos.
Parece que chegou ao fim a política de agradar a gregos e troianos, a burgueses e proletário, feita pelos governos do PT. Nos bons tempos de elevados preços das commodities e exportações recordes, petróleo abundante, superávit na balança comercial e afluxo de capitais financeiros, foi possível favorecer os empresários com juros subsidiados, financiamento abundante ao consumo, desonerações e renúncias fiscais, favorecer aos trabalhadores com os programas sociais e garantir os elevados juros ao capital financeiro, tudo isto a custa dos cofres do Estado. Parece que o ex-ministro Mantega tinha a esperança de que o ciclo mundial passasse à fase de recuperação, o que lhe permitiria fazer uma mudança de rumo, depois da vitória nas eleições. Calculou mal. E a presidente Dilma, forçada a conduzir o país ao fundo do poço, é que ficou com a bomba nas mãos, enfeitada com os ramos da roubalheira que os seus companheiros lhe presentearam, com ou sem o seu consentimento.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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