quarta-feira, 18 de março de 2015

O turbilhão político e econômico brasileiro

Semana de 07 a 13 de março de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor, enquanto os dados econômicos de 2014 e do início de 2015 são divulgados, o país fervilha inundado com a onda de corrupção propiciada pela investigação da Operação Lava Jato e pela dificuldade de articulação política do governo. Há um clima de insatisfação no ar, que se propaga pelas redes sociais. São diversos, variados e até mesmo esdrúxulos, alguns dos anseios dos manifestantes. O fato é que o turbilhão político e econômico encurralou a presidente, que resolveu se pronunciar no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher. E não foi uma boa ideia. Todos sabem que Dilma Rousseff cedeu às pressões, e engoliu o pacote fiscal, atualmente adotado. Mesmo assim, ela continua sendo pressionada, desta vez, a defender a medida, sob pena, dizem, de não contribuir para o resgate da credibilidade do país.
Assim, a presidente foi valentemente à rede nacional de televisão defender o ajuste. Em seu pronunciamento, afirmou que: “Estamos fazendo tudo com equilíbrio, de forma que tenhamos o máximo possível de correção com o mínimo possível de sacrifício.”
            Os trabalhadores acabam por não identificar isto na realidade, pois o primeiro ato do ajuste foi o de puni-los, mudando as regras para os benefícios sociais. Mas a presidente continua: “...não vamos trair nossos compromissos com os trabalhadores e com a classe média, nem deixar que desapareçam suas conquistas e seus direitos.Queremos e sabemos como fazer isso, distribuindo os esforços de maneira justa e suportável para todos.”
A expressão “suportável para todos”, também soou estranha, pois até agora o peso do ajuste através das Medidas Provisórias 664 e 665 é maior sobre uma classe apenas, a trabalhadora. E a Medida Provisória 669, que prevê o aumento das alíquotas relativas à desoneração da folha de pagamentos das empresas, foi amplamente rechaçada pela classe empresarial, que tratou de por a boca no trombone, apenas quatro dias após o pronunciamento da presidente. E o que seria impensável acontece: cinco centrais sindicais e mais de cem líderes empresariais uniram-se contra as três medidas provisórias. Reunidos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) as conversas seguiram o tom de que trabalhador não existe sem empresa e nem empresa sem trabalhador. A ideia é criar um comitê de ação permanente que reivindique a queda de impostos e proponha medidas para reanimar a economia.
Fica a pergunta: E o setor financeiro, não vai dividir os custos do ajuste?
A única iniciativa para envolver outros setores, que não o produtivo e o trabalhador, está na possibilidade de tributação das grandes fortunas. Mas nada de concreto há até agora.
A continuar o seu discurso, a presidente, ainda lançou a seguinte mentira: “Como temos fundamentos sólidos e as dificuldades são conjunturais, esperamos uma primeira reação já no final do segundo semestre deste ano.” Até parece que ela está falando de outro Brasil. Todas as projeções indicam aprofundamento da crise com crescimento negativo para o ano. O Boletim Focus do Banco Central, por exemplo, já projeta uma queda de 0,66% para o PIB deste ano. As perspectivas para o setor produtivo são sombrias. A Sondagem de Investimentos do 1º trimestre de 2015, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas, detectou que o empresário continua a não ver motivos para investir. Dentre as 669 empresas pesquisadas, 31% disseram que vão reduzir o investimento em capital fixo e 42% que manterão os atuais níveis.
Há, ainda, outro agravante. A inflação continua a aumentar. Segundo o Focus, o IPCA fechará o ano com alta de 7,8%. Um novo tempero para o aumento da inflação é o aumento da taxa de câmbio. Segundo analistas, o câmbio deve continuar a subir até o teto de R$ 2,90 por dólar. E todos já sabemos o que isto significa. O único e “infalível” remédio contra a inflação será novamente engatilhado. A taxa de juros provavelmente irá aumentar.
Mas o brasileiro não deve se preocupar. Segundo a presidente, o tempo de vacas magras, logo acabará. O momento atual é de “...travessia para um tempo melhor, que vai chegar rápido e de forma ainda mais duradoura.”Quando? E por quanto tempo?
O governo, com o discurso de 08 de março atirou no próprio pé. Nada do que foi dito soou crível, por não ter correspondência com a realidade. Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, foi escolhido para esclarecer em entrevista coletiva no dia seguinte, o pronunciamento de Dilma.O movimento organizado pró-impeachment, para o dia 15 de março ganhou força e o governo convocou os movimentos de esquerda para demonstrar que ainda tem o apoio dos trabalhadores.
Cedendo às pressõese tentando justificar as medidas adotadas, o governo Dilma se complica e desmoraliza cada vez mais. Qual será a saída? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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