Semana de 11 a 17 de maio de 2015
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Todos os dados divulgados durante a semana confirmam que a economia continua a desacelerar em direção ao fundo do poço. As vendas desabam, a inadimplência cresce, o mercado de trabalho encolhe, a produção cai, o desemprego aumenta. E ainda vai piorar até o fim do ano, pelo menos.
O Índice de Clima Econômico (ICE) calculado pela fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo Instituto alemão Ifo é o pior dos últimos 26 anos. O indicador de inadimplência do S.P.C e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), em abril, em relação à março, mostrou um aumento de 2,83%, o dobro da média histórica para abril. Em cada 10 brasileiros quatro estão inadimplentes.
O número de desempregados, no primeiro trimestre, aumentou 23%, em relação ao trimestre anterior, e vai crescer mais, com a desaceleração. A construção civil é afetada e nesse mesmo período, em São Paulo, por exemplo, o número de unidades lançadas reduziu-se em 50,4%, em relação ao ano passado, enquanto as vendas encolheram 27,1%.
Nestas circunstâncias, os economistas estimam que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), para o primeiro trimestre, revelará uma retração da atividade econômica de 0,5%.
Estes dados mostram que a demanda não consegue absorver a produção que é lançada no mercado. Com excesso de estoques as empresas reduzem a produção, demitem ou dão férias coletivas aos seus trabalhadores ou mesmo vão à falência. Temos as características de uma crise de superprodução instalada.
Estranhamente, e esta é a grande novidade, apesar do excesso de oferta, os preços continuam a subir, ou seja, temos inflação com estagnação, o que significa “estagflação”, palavra maldita que ninguém quer pronunciar.
O Banco Central, com sua visão ideológica, só consegue ver a subida dos preços que ele carimba como inflação. E na sua mofada cartilha só consta um remédio: taxa de juros. Para o BC, a inflação é provocada pelo excesso de demanda em relação à oferta e não interessa se os dados mostram o contrário, pois ele não os consegue ver. A intenção declarada do BC é dificultar o crédito e com isto comprimir o consumo. O objetivo é aumentar o desemprego, reduzir os salários e os investimentos e as despesas do governo. O BC está conscientemente agravando a recessão porque isto é o que está escrito no seu velho manual, a bíblia bolorenta da ideologia econômica oficial.
Pelo outro lado ataca o Levy, o homem da tesoura, com o aperto fiscal. Na sua fúria para equilibrar o orçamento ele atira o fardo nos ombros dos trabalhadores e particularmente sobre os velhos, viúvas, órfãos, enfermos e demais beneficiários da Previdência Social. A equipe econômica do governo Dilma faz do governo dos trabalhadores, um governo contra os trabalhadores. A união do Chicago boy Levy com o BC mais “Hawkish” do mundo, o único que continua aumentando as taxas de juros entre os mais importantes países, está levando o Brasil a uma verdadeira desestruturação do setor produtivo.
E há outros agravantes. A situação mundial continua instável e sem sinais de recuperação, e a operação lava-jato ameaça paralisar as grandes empreiteiras e vários estaleiros do país, além de começar a estender-se em direção às autoridades políticas e particularmente aos parlamentares, incluído os presidentes da Câmara e do Senado. Para acalmar e neutralizar os descontentes o governo está distribuindo 1.200 cargos entre os afilhados dos partidos da base. Para estes há sempre fartura.
Mas, há quem esteja no melhor dos mundos. No primeiro trimestre os quatro maiores bancos Banco do Brasil, Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander, apresentaram ganhos de tesouraria de R$ 8,4 bilhões, valor 63% superior ao do mesmo período de 2014. O lucro líquido dos quatro foi de R$ 16,48 bilhões, 49% maior no mesmo período de comparação.
E a troika Levy-Tombini-Barbosa está apenas iniciando o seu reinado. O pior ainda está por vir.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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