quarta-feira, 20 de abril de 2016

The day after

Semana de 11 a 17 de abril de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
O governo foi derrotado e a Câmara aprovou a continuação do processo de impeachment da presidente Dilma, que agora segue para o Senado, a quem caberá a palavra final. O processo é bastante complicado com a criação de nova comissão e várias votações. Na votação definitiva a maioria de 2/3 deporá a presidente. Antes disso ela terá de afastar-se por até 180 dias enquanto decorrem as apurações finais. Neste caso o vice-presidente Temer assumirá provisoriamente até a conclusão. Se o impeachment não for aprovado a presidente reassumirá o governo. Temos, portanto, um longo processo durante o qual o país ficará parado. Enquanto isso Temer mantém os entendimentos que considera convenientes para constituir o seu possível ministério.
O espetáculo que a Câmara dos Deputados ofereceu ao país foi uma das coisas mais deprimentes de que se tem notícia. Uma vergonha indescritível. O que se pode elogiar é o comportamento das duas torcidas pró e contra Dilma que, apesar de ruidosas, souberam manter uma convivência civilizada não se registrando agressões significativas. Agora, enquanto uns comemoram a vitória e outros choram a derrota o país continua a afundar-se na crise. Os dados mostram a queda nas vendas, o aumento do desemprego, o aumento da inadimplência tanto das empresas como dos consumidores, a queda da produção de cimento e de materiais de construção o que mostra a desaceleração da construção civil, etc. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já revisou para baixo suas estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e para a produção industrial. Calculam que a queda do PIB será de 3,1% e a da produção industrial 5%.
A situação internacional também continua com a mesma tendência. A divulgação do “Panorama Econômico Mundial”, publicação do Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a constatar que a recuperação global é desigual, lenta e está demorando mais que o previsto. Alertam para a situação dos países emergentes e particularmente para a China. Estimam um crescimento da economia mundial de 3,2%, em 2016. O diretor do departamento monetário e de mercado de capitais do FMI defendeu a adoção de juros negativos pelos BCs e de políticas monetárias não convencionais. Afirmou que as medidas adotadas até aqui não foram suficientes e são necessárias “medidas adicionais” sob pena da economia global cair em uma estagnação financeira.  A Eurostat, agência de estatísticas da União Europeia mostrou que, em fevereiro, a produção caiu 0,8%, a maior queda em 18 meses. Tanto o FMI como o Banco Mundial consideram que a situação política do Brasil dificulta a superação dos problemas que a economia do país enfrenta.
Vive-se agora no país um período de ressaca pós-impeachment. Dentro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), considerada “a casa do impeachment”, o seu presidente Paulo Skaf procura desculpas para justificar junto a setores empresariais descontentes, o envolvimento “inusitado” da entidade que “fugiu aos padrões” e não comenta o custo da campanha que promoveu, sendo acusado de manipulação em função de sua intenção de concorrer ao governo de São Paulo pelo PMDB. A CNI resolveu também entrar na guerra contra o governo enviando carta a todos os parlamentares com a sua posição. E as propostas para uma política econômica alternativa começam a surgir. É claro que todas defendem os interesses dos empresários: rigorosa austeridade fiscal, elevação de impostos, reforma da previdência, flexibilização dos contratos de trabalho, simplificação do licenciamento ambiental, revisão da política de salário mínimo, privatização de serviços públicos, etc.
No lado oposto, as organizações sociais preparam-se para a defesa dos seus interesses voltando a disputar as ruas e preparando manifestações. Aproximam-se, portanto, grandes embates e há rumores inquietantes em Brasília. Especula-se sobre a decretação de um “Estado de Defesa” que seria autorizado pelos “Conselhos da República” e da “Defesa Nacional” e aprovado pelo Congresso. Isto implicaria na suspensão das garantias constitucionais e adoção de medidas de exceção.
Atenção! O golpe branco pode virar vermelho!       

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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