quarta-feira, 13 de abril de 2016

Mais um ano perdido

Semana de 04 a 10 de abril de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
É penoso falar de economia no momento atual. A nação ferve e os ânimos exaltados colocam em confronto duas opções opostas: “Fora Dilma” e “Não vai ter golpe”. Nesta dicotomia terá de haver um derrotado. Não há terceira solução. Ninguém a quer. A direita “democrática”, enquanto finge que não vê, açula os bolsomineons que ladram como cães raivosos em meio aos apelos ao golpe militar e à restauração da ditadura. O governo joga todos os seus trunfos para sobreviver. Todos aguardam ansiosos o primeiro defunto.
Enquanto isso, a economia segue o seu curso que não é perturbado por maiores interferências, enquanto todos brigam. O governo não tem tempo para governar, ocupado em esquivar-se dos golpes que recebe de todos os lados, e a oposição, enquanto critica o imobilismo do governo, tudo faz para impedi-lo de mover-se.
A vontade que se tem é entrar no debate político e deixar de lado esta fria e apática economia onde nada de novo acontece. No entanto, a função desta coluna é analisar a conjuntura. Não nos resta outra alternativa senão dar conta desta espinhosa missão. Vamos a isso!
 As observações que temos feito em relação à situação precária da economia mundial continuam a se confirmar. As reações são visíveis. Para estimular a economia o Banco Central Europeu (BCE) mantém sua ação de comprar papéis de dívida de corporações. Estima-se que, só de “covered bonds”, títulos de dívida emitidos por bancos, o estoque do BCE já atinge 200 bilhões de Euros, cerca de 28% do total do mercado. Agora, a intenção é comprar também papéis de empresas não financeiras. A Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê um crescimento “decepcionante” do comércio mundial este ano, inferior a 3% em volume. Os dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), da OMC, do Banco Mundial (BM), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE), e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), reuniram-se com a premier alemã Angela Merkel, em Berlim, e concluíram que “o crescimento continua medíocre, frágil e permanecerá abaixo das tendências históricas”. Calcularam que 197 milhões de pessoas estavam desempregadas, em 2015, e mais 3 milhões perderão o emprego nos próximos dois anos. Nos EUA, levando em consideração esta situação e a lenta recuperação da economia americana, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, adiou a elevação dos juros afirmando que “os acontecimentos econômicos e financeiros globais continuam representando riscos”. Com a preocupação de tentar estimular a economia mundial, todas as propostas são bem vindas. Adair Turner, presidente do Institute for New Economic Thinking, centro de estudos fundado por George Soros, propõe a solução conhecida como “helicopter Money” (jogando dinheiro de helicóptero). Os BCs emitiriam notas que seriam distribuídas às pessoas de qualquer forma como, por exemplo, depositando US$ 1.000,00 na conta corrente de todos os cidadãos.
A situação da economia nacional é ainda mais delicada. Os dados são abundantes e preocupantes. Afirma-se o quadro de uma típica fase de crise do ciclo econômico. As montadoras têm, no primeiro trimestre, a pior produção dos últimos 13 anos, de acordo com a Anfavea. No caso dos caminhões, o prazo sobe para 16 anos e, neste setor, só 20% da capacidade produtiva instalada está sendo usada. Espera-se uma queda de 10% na produção de motos e, na de barcos de recreio, a queda já se situa em torno dos 50%. Na construção civil o prejuízo, no ano passado, foi de R$ 2,91 bilhões. A crise estende-se ao comércio e ao setor de varejo. Cerca de 10% das lojas nas cadeias de shoppings estão em situação difícil e aumenta o número de empresas que pediram recuperação judicial ou mesmo falência. No primeiro trimestre os pedidos de recuperação aumentaram 165,7%, segundo a Serasa. A consequência é o aumento do desemprego, queda dos salários e da renda e o empobrecimento da população. Sem demanda, não há vendas, os estuques aumentam e as fábricas param. Por enquanto não surge nenhuma indicação de que tal quadro tenda a se inverter.
2016 é um ano perdido qualquer que seja a solução do conflito político. E é bom rezar para que a economia mundial não entre em nova fase de crise.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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