quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Os desafios do eleitor brasileiro



Semana de 01 a 07 de outubro de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor. O primeiro turno das eleições está consolidado. Um dos piores cenários para o segundo turno, em 28 de outubro, foi materializado. O desafio entre o petismo e o antipetismo, na figura de Fernando Haddad (PT) e de Jair Bolsonaro (PSL) está posto. As chances de vencer o fascismo diminuíram consideravelmente. Voltaremos a assistir, por mais quinze dias, o cultivo do ódio como forma de fazer campanha política. O primeiro passo já foi dado. Responsabilizou-se, de imediato, o povo nordestino por não ter dado a vitória ao inominável no primeiro turno. Em pleno século XXI e num regime democrático, disparates deste tipo são inaceitáveis.
E o que esperar de uma decisão tão polarizada? Ao que parece, o eleitor seguirá com poucas informações para embasar a sua escolha com as discussões novamente centradas em pautas “gerais” pouco claras. Mas, qualquer que seja o candidato eleito, o desafio é enorme.
No âmbito político, terá que conquistar governabilidade no Parlamento e no âmbito econômico, enfrentará uma débil economia em lenta recuperação. O único dado positivo do momento é a queda da inflação, ameaçada nos últimos dias pela alta dos preços administrados (planos de saúde, combustíveis e energia elétrica) e sustentada por longo período pela alta ociosidade da economia. O Centro da Indústria do Amazonas corrobora esta afirmação ao apontar, em setembro, 40% de ociosidade na Zona Franca de Manaus. E isto tem se refletido nas vendas. Segundo o IBGE, as vendas no setor de móveis e eletrônicos chegaram a crescer 7,7% de janeiro a maio, mas desaceleraram para 6,8% em junho e para 5,2% em julho.
Portanto, a nova queda da produção industrial não aparece como novidade. A produção industrial caiu 0,3%, entre julho e agosto, segundo o IBGE. 14 dos 26 ramos industriais consultados apresentaram queda na produção. As maiores quedas aconteceram no ramo de bebidas (-10,8%), derivados de petróleo (-5,7%) e produtos têxteis (-2,4%). O gerente da coordenação de Indústria do IBGE afirma que este resultado é um “sinal de alerta”, já que foram registrados dois meses seguidos de queda.
Outro dado divulgado esta semana acena para a piora das condições de vida do trabalhador. Segundo levantamento da FGV Social, entre o fim de 2014 e o terceiro trimestre de 2018, o Índice de Gini da renda do trabalho, que mostra a distância entre os que ganham mais e os que ganham menos, e que varia de zero a um, sendo um a distribuição perfeitamente desigual, cresceu de 0,5636 para 0,5915. Isto significa que a desigualdade aumentou. E, para piorar o cenário, registre-se que, conforme dados do IBGE, em setembro, o país ainda possui estoque de 12,7 milhões de desempregados.
Neste ambiente turbulento permeado pelas eleições presidenciais, é assim que se apresenta a economia real. O mercado financeiro começou a mandar seu recado aos candidatos. A agência de classificação de risco S&P Global enxerga riscos à manutenção da nota soberana (o selo de bom pagador) que dependerá da forma como o novo governo vai lidar com os desafios econômicos. A julgar pelos interesses do mercado financeiro, já sabemos que seus ganhos estão relacionados à política de austeridade fiscal. Segundo a agência a alta rejeição dos dois candidatos torna a avaliação mais difícil, mas, um “outsider” como Bolsonaro “...aumenta o risco de incongruências ou atrasos em fazer as coisas serem feitas após a eleição”.
Mesmo assim, um dia após a apuração do primeiro turno, que garantiu 46,04% dos votos válidos a Bolsonaro e 29,26% a Fernando Haddad, o mercado entrou em euforia: o dólar despencou 2,49% e foi negociado a R$ 3,761e na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, teve alta de 3,9%. O que os vampiros do “mercado” mais uma vez fizeram foi, potencializar os seus ganhos mediante a possibilidade de vitória de um dos candidatos.
Os fatos que importam no momento e que merecem destaque são defender a democracia e conhecer quais soluções são indicadas para os atuais problemas econômicos (que se agravam à medida que caminhamos para 2019).
Eis os desafios postos ao eleitor brasileiro.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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