Semana de 01 a 07 de outubro de 2018
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. O primeiro turno das eleições está
consolidado. Um dos piores cenários para o segundo turno, em 28 de outubro, foi
materializado. O desafio entre o petismo e o antipetismo, na figura de Fernando
Haddad (PT) e de Jair Bolsonaro (PSL) está posto. As chances de vencer o
fascismo diminuíram consideravelmente. Voltaremos a assistir, por mais quinze
dias, o cultivo do ódio como forma de fazer campanha política. O primeiro passo
já foi dado. Responsabilizou-se, de imediato, o povo nordestino por não ter
dado a vitória ao inominável no primeiro turno. Em pleno século XXI e num
regime democrático, disparates deste tipo são inaceitáveis.
E o que esperar de uma decisão tão polarizada? Ao
que parece, o eleitor seguirá com poucas informações para embasar a sua escolha
com as discussões novamente centradas em pautas “gerais” pouco claras. Mas,
qualquer que seja o candidato eleito, o desafio é enorme.
No âmbito político, terá que conquistar
governabilidade no Parlamento e no âmbito econômico, enfrentará uma débil
economia em lenta recuperação. O único dado positivo do momento é a queda da
inflação, ameaçada nos últimos dias pela alta dos preços administrados (planos
de saúde, combustíveis e energia elétrica) e sustentada por longo período pela
alta ociosidade da economia. O Centro da Indústria do Amazonas corrobora esta
afirmação ao apontar, em setembro, 40% de ociosidade na Zona Franca de Manaus.
E isto tem se refletido nas vendas. Segundo o IBGE, as vendas no setor de
móveis e eletrônicos chegaram a crescer 7,7% de janeiro a maio, mas
desaceleraram para 6,8% em junho e para 5,2% em julho.
Portanto, a nova queda da produção industrial não
aparece como novidade. A produção industrial caiu 0,3%, entre julho e agosto,
segundo o IBGE. 14 dos 26 ramos industriais consultados apresentaram queda na
produção. As maiores quedas aconteceram no ramo de bebidas (-10,8%), derivados
de petróleo (-5,7%) e produtos têxteis (-2,4%). O gerente da coordenação de
Indústria do IBGE afirma que este resultado é um “sinal de alerta”, já que
foram registrados dois meses seguidos de queda.
Outro dado divulgado esta semana acena para a piora
das condições de vida do trabalhador. Segundo levantamento da FGV Social, entre
o fim de 2014 e o terceiro trimestre de 2018, o Índice de Gini da renda do
trabalho, que mostra a distância entre os que ganham mais e os que ganham
menos, e que varia de zero a um, sendo um a distribuição perfeitamente
desigual, cresceu de 0,5636 para 0,5915. Isto significa que a desigualdade
aumentou. E, para piorar o cenário, registre-se que, conforme dados do IBGE, em
setembro, o país ainda possui estoque de 12,7 milhões de desempregados.
Neste ambiente turbulento permeado pelas eleições
presidenciais, é assim que se apresenta a economia real. O mercado financeiro
começou a mandar seu recado aos candidatos. A agência de classificação de risco
S&P Global enxerga riscos à manutenção da nota soberana (o selo de bom
pagador) que dependerá da forma como o novo governo vai lidar com os desafios
econômicos. A julgar pelos interesses do mercado financeiro, já sabemos que
seus ganhos estão relacionados à política de austeridade fiscal. Segundo a
agência a alta rejeição dos dois candidatos torna a avaliação mais difícil,
mas, um “outsider” como Bolsonaro “...aumenta o risco de incongruências ou
atrasos em fazer as coisas serem feitas após a eleição”.
Mesmo assim, um dia após a apuração do primeiro
turno, que garantiu 46,04% dos votos válidos a Bolsonaro e 29,26% a Fernando
Haddad, o mercado entrou em euforia: o dólar despencou 2,49% e foi negociado a
R$ 3,761e na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, teve alta de 3,9%. O
que os vampiros do “mercado” mais uma vez fizeram foi, potencializar os seus
ganhos mediante a possibilidade de vitória de um dos candidatos.
Os fatos que importam no momento e que merecem
destaque são defender a democracia e conhecer quais soluções são indicadas para
os atuais problemas econômicos (que se agravam à medida que caminhamos para
2019).
Eis os desafios postos ao eleitor brasileiro.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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