Semana de 08 a 14 de outubro de 2018
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Apesar de toda a agitação eleitoral começo
pela economia. Já falamos várias vezes da formação de nuvens carregadas no
horizonte. A ameaça de nova crise mundial aumenta. Os avisos surgem de todos os
lados com diferentes formulações. Segundo William White, ex-vice-presidente do
Banco do Canadá e presidente da comissão de análise econômica e de
desenvolvimento da OCDE, uma “Perigosa maré financeira em alta”. White alerta
ainda para a desaceleração do crescimento provocada pela política protecionista
de Trump e para o perigo que corre o sistema monetário mundial baseado no
dólar, resultado da utilização da moeda como arma geopolítica. Finalmente
alerta ele que “não está tudo bem abaixo da superfície. Se uma nova crise
financeira ocorrer, a recessão subsequente poderá ser ainda mais onerosa do que
a última”.
O relatório de Estabilidade Financeira
Global do FMI afirma que “os riscos de uma crise para os mercados emergentes
tem aumentado” e que a fuga de capitais, que retornam aos EUA, deve ocorrer em
um período de quatro a oito trimestres, diante da elevação das taxas de juros
pelo Banco Central (BC) americano. Cita ainda que as tensões comerciais e a
elevação das incertezas políticas podem levar a um repentino aperto nas
condições financeiras globais.
Para o FMI o ritmo da economia global é
menos vigoroso que há seis meses e os riscos aumentaram. O jornal Valor
Econômico em editorial, referindo-se ao relatório do FMI, afirma que “o
crescimento global começou a fraquejar no ano corrente e deverá declinar um
pouco mais nos próximos dois anos”. Em relação ao Brasil o Valor prevê que
“terá crescimento abaixo de previsto este ano (1,4% ante 1,8%) ... e continuará
sua tendência de voar mais baixo que os emergentes...”.
O nervosismo crescente já é sentido e
refletido nas bolsas de valores do mundo e na de Wall Street, como a recente
onda de “sell-off” que levou o Índice Dow Jones, um dos principais do mercado
financeiro dos EUA, a cair 832 pontos em um dia (quarta feira, 10), a terceira
maior queda da história.
No Brasil os números também não são
animadores. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) caiu 3,3 pontos, em setembro, pelo sétimo mês consecutivo,
situando-se em 91,0 pontos, o menor nível desde dezembro de 2016. O Indicador
Coincidente de Desemprego (ICD) aumentou 1,3 pontos, também em setembro, o que
mostra a incerteza quanto ao crescimento da economia e à geração de emprego.
Em São Paulo, a produção industrial recuou
0,9%, em agosto, em relação a julho, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal
– Regional (PIM-Regional), divulgada pelo IBGE. Outros estados também tiveram
queda: Amazonas (-5,3%) Pará (-1,1%), Espírito Santo (-0,9%), Santa Catarina
(-0,7%) e Rio de Janeiro (-0,3%). Segundo o Iedi, isto mostra uma “razoável
disseminação do mau desempenho do mês”.
A euforia histérica dos empresários e dos
especuladores do “mercado” com a vitória eleitoral do Bolsonaro, no primeiro
turno, repercutiu na bolsa de valores elevando o Ibovespa aos 86 mil pontos. O
chamado “kit eleições” valorizou-se 19,9%, subindo de R$931 bilhões para R$1,12
trilhão. O kit é um pacote com os papéis da Petrobrás, Eletrobrás, Banco do
Brasil, Itaú, Unibanco, Bradesco, Magazine Luiza, Lojas Rener, Cemig, Copel e
Embraer. Supõem os especuladores que elas são afetadas pelos resultados das
eleições.
A euforia com as boas chances de vitória do
militar excita também os especuladores internacionais que, considerando que “o
ambiente por aqui é hoje construtivo” se atiram às ações de empresas
brasileiras. O ingresso de capitais estrangeiros já chegou a R$2,21 bilhões, em
outubro, até o dia 8.
Nesse ambiente de crise iminente caminhamos
para o segundo turno sob o risco de afundarmos no fascismo e no obscurantismo
de um tosco capitão, reformado pelo próprio exército como incapaz e promovido a
líder pelas forças mais reacionárias do país e simbolizando o que há de mais
grotesco, primário, clerical e preconceituoso da sociedade.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
0 comentários:
Postar um comentário