quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Ela vem aí



Semana de 08 a 14 de outubro de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Apesar de toda a agitação eleitoral começo pela economia. Já falamos várias vezes da formação de nuvens carregadas no horizonte. A ameaça de nova crise mundial aumenta. Os avisos surgem de todos os lados com diferentes formulações. Segundo William White, ex-vice-presidente do Banco do Canadá e presidente da comissão de análise econômica e de desenvolvimento da OCDE, uma “Perigosa maré financeira em alta”. White alerta ainda para a desaceleração do crescimento provocada pela política protecionista de Trump e para o perigo que corre o sistema monetário mundial baseado no dólar, resultado da utilização da moeda como arma geopolítica. Finalmente alerta ele que “não está tudo bem abaixo da superfície. Se uma nova crise financeira ocorrer, a recessão subsequente poderá ser ainda mais onerosa do que a última”.
O relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI afirma que “os riscos de uma crise para os mercados emergentes tem aumentado” e que a fuga de capitais, que retornam aos EUA, deve ocorrer em um período de quatro a oito trimestres, diante da elevação das taxas de juros pelo Banco Central (BC) americano. Cita ainda que as tensões comerciais e a elevação das incertezas políticas podem levar a um repentino aperto nas condições financeiras globais.
Para o FMI o ritmo da economia global é menos vigoroso que há seis meses e os riscos aumentaram. O jornal Valor Econômico em editorial, referindo-se ao relatório do FMI, afirma que “o crescimento global começou a fraquejar no ano corrente e deverá declinar um pouco mais nos próximos dois anos”. Em relação ao Brasil o Valor prevê que “terá crescimento abaixo de previsto este ano (1,4% ante 1,8%) ... e continuará sua tendência de voar mais baixo que os emergentes...”.
O nervosismo crescente já é sentido e refletido nas bolsas de valores do mundo e na de Wall Street, como a recente onda de “sell-off” que levou o Índice Dow Jones, um dos principais do mercado financeiro dos EUA, a cair 832 pontos em um dia (quarta feira, 10), a terceira maior queda da história.
No Brasil os números também não são animadores. O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) caiu 3,3 pontos, em setembro, pelo sétimo mês consecutivo, situando-se em 91,0 pontos, o menor nível desde dezembro de 2016. O Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) aumentou 1,3 pontos, também em setembro, o que mostra a incerteza quanto ao crescimento da economia e à geração de emprego.
Em São Paulo, a produção industrial recuou 0,9%, em agosto, em relação a julho, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal – Regional (PIM-Regional), divulgada pelo IBGE. Outros estados também tiveram queda: Amazonas (-5,3%) Pará (-1,1%), Espírito Santo (-0,9%), Santa Catarina (-0,7%) e Rio de Janeiro (-0,3%). Segundo o Iedi, isto mostra uma “razoável disseminação do mau desempenho do mês”.
A euforia histérica dos empresários e dos especuladores do “mercado” com a vitória eleitoral do Bolsonaro, no primeiro turno, repercutiu na bolsa de valores elevando o Ibovespa aos 86 mil pontos. O chamado “kit eleições” valorizou-se 19,9%, subindo de R$931 bilhões para R$1,12 trilhão. O kit é um pacote com os papéis da Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Itaú, Unibanco, Bradesco, Magazine Luiza, Lojas Rener, Cemig, Copel e Embraer. Supõem os especuladores que elas são afetadas pelos resultados das eleições.
A euforia com as boas chances de vitória do militar excita também os especuladores internacionais que, considerando que “o ambiente por aqui é hoje construtivo” se atiram às ações de empresas brasileiras. O ingresso de capitais estrangeiros já chegou a R$2,21 bilhões, em outubro, até o dia 8.
Nesse ambiente de crise iminente caminhamos para o segundo turno sob o risco de afundarmos no fascismo e no obscurantismo de um tosco capitão, reformado pelo próprio exército como incapaz e promovido a líder pelas forças mais reacionárias do país e simbolizando o que há de mais grotesco, primário, clerical e preconceituoso da sociedade.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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