quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Pessimismo, não! (2)



Semana de 24 a 30 de setembro de 2018


Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Estimado leitor, trago, novamente, este título para a presente coluna. Agora, não é a economia brasileira que traz sinais de perigo, mas a política. Se, em 2014, acreditávamos que havia uma grande polarização no cenário político brasileiro (entre PT e PSDB, “esquerda” e direita), fomos pouco criativos em pensar que não poderia ser pior. O próximo final de semana nos revelará como os principais polos políticos do Brasil, a saber, o petismo e o antipetismo, sairão da disputa eleitoral.
De um lado, estão os fiéis eleitores de Lula, que, para não trair o grande líder, devem votar em Fernando Haddad. Há alguns que ainda acreditam no “Projeto para o Brasil” que o PT diz ter. Contudo, apesar dos inúmeros avanços que, de fato, o país teve na década passada, o atual projeto petista em muito pouco ou quase nada difere daquele realizado por Lula.
Do outro lado, está um “ser” que, pelo discurso ao mesmo tempo simples, agressivo e que toca boa parte dos dogmas da “tradicional” família brasileira, conseguiu atrair para si a maior parte do antipetismo que veio crescendo desde a era Lula.
Duas são as causas básicas para a adesão a esse antipetismo. A primeira é moral e está intimamente ligada à desmoralização que o PT teve que passar (na opinião dos defensores do partido) para garantir sua governabilidade: a adesão orgânica ao sistema político brasileiro e aos seus vícios de funcionamento (leia-se corrupção). A segunda, e principal causa do antipetismo, é, fundamentalmente, econômica.
Para além do argumento que destaca o ódio típico das classes média e alta brasileiras, aqui, concordo com a opinião de Luiz Filgueiras no artigo “A Economia Política do Fascismo” (https://diplomatique.org.br/a-economia-politica-do-fascismo/). A ascensão social anteriormente alcançada (curiosamente, boa parte desta na época do PT) e a atual ameaça de retrocesso do “status social” (fruto da estagnação econômica), tendem a criar, em boa parte da população brasileira, um pavor irracional que abre espaço para uma inimaginável intolerância ao outro (que difere dos padrões normativos da sociedade) e ao que está aí (ao PT e aos seus “aliados” de esquerda). Não que a esmagadora maioria dos seus eleitores tenham, necessariamente, uma posição política ou ideológica fascista. Mas, a linguagem de senso comum e os apelos irracionais e emocionais do discurso contra a insegurança individual (em todos os sentidos) se tornam o canto da sereia e, assim, a adesão ao discurso fascista de Bolsonaro é praticamente automática.
O problema é que esta polarização entre petismo e antipetismo assumiu contornos preocupantes no presente momento. Apesar de existirem outras 11 opções de presidenciáveis, o fanatismo e a irracionalidade parecem predominar. Dentre os que têm alguma chance de vitória, a divisão está bem clara. Na centro-esquerda estão aqueles que, segundo eles próprios, têm um projeto de Brasil que incorpora as demandas sociais das camadas mais baixas. No espectro da direita, temos um racha: a extrema direita, que flerta com o fascismo, e a direita tradicional, mais moderada. Se, por um lado, ambas as frações à direita privilegiam os interesses do “mercado” e das elites tradicionais brasileiras, por outro, elas dizem discordar quanto ao fascismo de Bolsonaro. A rejeição a este, na verdade, junto com o antipetismo, parece ter sido o grande ponto de conexão entre todos os demais candidatos ao longo da disputa eleitoral, incluindo o folclórico Cabo Daciolo.
Por outro lado, de acordo com as pesquisas recentes, teríamos um possível segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, ou seja, petismo e fascismo disputariam o segundo turno das eleições 2018. Agora, peço a reflexão ao prezado leitor desta coluna: dentre estas opções, quem você acha que a direita e as elites brasileiras votariam no segundo turno? E as demais camadas antipetistas, escolheriam quem?
Sem querer pagar para ver, resta-nos ter esperança de que o voto útil, tradicionalmente utilizado no segundo turno, seja trazido para o primeiro como estratégia racional.
Assim, quem sabe, a centro-esquerda (incluindo o PT) concentre suas forças em um candidato que tenha reais chances de vencer o verdadeiro inimigo, o fascismo.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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