Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
As pesquisas apontam para uma vitória expressiva do
fascismo-antipetismo nesse 2º turno das eleições de 2018. Criado pelo ódio às
diversas faces dos governos do PT (positivas e negativas), o atual movimento de
rejeição ao partido somou-se ao contraditório discurso de repulsa ao diferente
(de si e de suas crenças e tradições) e ao que está aí (na estrutura política).
Além dos fatos concretos motivadores desse sentimento, a grande mídia
brasileira cumpriu o papel de inflamar a opinião pública.
Desde as manifestações de junho de 2013, mas,
sobretudo, a partir de 2014, vimos a responsabilidade por todos os problemas
econômicos ser atirada contra o governo Dilma e sua política intitulada de
“irresponsável”.
Como bem sabe qualquer economista que se preze, as
economias capitalistas apresentam uma característica básica: a alternância
periódica de momentos de aquecimento e desaquecimento da atividade produtiva.
No final de 2008, o Brasil foi atingido pela “Crise do Subprime”, originada no
mercado financeiro estadunidense. Como reação a isto, o então presidente Lula
utilizou-se de políticas econômicas de combate aos efeitos da crise. Ao assumir
a presidência, em 2011, Dilma Rousseff manteve e, em alguns pontos, ampliou
tais medidas.
O problema fundamental é que, mesmo com o aparente
superpoder que o Estado supostamente teria, ele só é capaz de combater os
sintomas da crise. Sua causa fundamental, contudo, ele é incapaz de eliminar.
Sua ação se assemelha a um analgésico, que inibe os efeitos de uma infecção,
mas não combate o mal causador da patologia. Quando o analgésico é utilizado de
forma contínua, a tendência é de que sua eficiência se reduza gradativamente,
até chegar ao ponto de não mais surtir qualquer efeito. O mesmo pode-se dizer
das medidas anticrise adotadas por um governo. O limite da intervenção é o
orçamento governamental, que, em períodos de crise, por si só, tende a
tornar-se deficitário.
As restrições na intervenção governamental começaram
a se manifestar em 2014, ano em que a presidente foi reeleita, derrotando o
candidato do PSDB, Aécio Neves. No ano seguinte, no início do seu segundo
mandato, Dilma, de imediato, adotou uma política de forte cunho restritivo, e
este foi um dos grandes erros no trato da crise econômica. Isto significou que,
mesmo sem ter superado a fase crítica de desaquecimento, o Estado não só
reduziu a dosagem do analgésico, como tomou medidas para piorar a situação da
atividade produtiva. Isto se manteve nos primeiros meses de 2016, quando houve
o Golpe.
A partir daí, o bombardeio de críticas à política
econômica se intensificou e por todos os lados: além da grande mídia, também
entrou no jogo a esmagadora maioria dos partidos políticos, inclusive os que
outrora eram aliados. O objetivo primordial era aniquilar o PT e associar toda
a desgraça do país a ele. As eleições de 2014 já haviam mostrado que faltava
pouco para a direita (agora centro-direita, diante do atual cenário) voltar ao
poder do Executivo nacional. Contudo, “esqueceram de combinar com os russos”,
quer dizer, com Joesley Batista. No ano passado, o dono da JBS revelou a
verdadeira face da menina dos olhos da burguesia, Aécio e o próprio PSDB: seu
envolvimento com a corrupção a qualquer custo (inclusive custos com a vida
alheia). Com isto, os grandes problemas da “velha política” e do PT também
estavam enraizados nos tucanos, ou seja, eles estavam contaminados e seriam
carta fora do baralho, como o 1º turno demonstrou.
É neste ponto chave que se dá a reviravolta e a
ascensão de uma figura de intelecto duvidoso, que desde 1993 despeja excremento
através de palavras ofensivas, mas que conseguiu incorporar parte do clamor
social e tornar-se porta-voz dele. Surgiu, então, a figura do “mito” (sic) Jair
Bolsonaro. Este, por sua vez, tratou de alinhar-se, também, com as frações da
burguesia que detêm o poder no Brasil: os setores financeiro e agrário.
Assim, sem um candidato tradicional capaz de se
aproveitar do antipetismo, a elite e seus “peixes-piloto” (a classe média)
tiveram que apostar na carta fascista.
A questão que
fica é a seguinte: em que momento deve vir o arrependimento por essa infeliz
escolha, tão semelhante àquela feita pela Alemanha ou pela Itália no início do
século passado?
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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