Semana de 06 a 12 de abril de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Antes de iniciar o texto propriamente dito, gostaria
de sugerir ao leitor o seguinte vídeo informativo:
https://www.youtube.com/watch?v=s-lgS-4Xqy0. Nele tem-se uma ótima explicação
da importância do isolamento no achatamento da “curva de infecção”.
Depois da 2ª Guerra Mundial, os países ricos
passaram por uma fase conhecida como Estado de Bem-Estar Social. Foi um período
onde o Estado era provedor e garantidor de emprego, renda e assistência social
para todos. Esse foi o período onde ocorreram as maiores reduções na
desigualdade social das economias capitalistas mais ricas. Nas economias
periféricas, o bem-estar chegou em pequenas parcelas. O preço dessa “aventura”
foi cobrado na década de 1970. Uma das dimensões do problema é a que os Estados
das principais economias do mundo passaram por severas crises fiscais e de
endividamento, mostrando que aquele pacto social não era viável. Apesar dos
Estados de economias “subdesenvolvidas” nunca terem tido “Bem-Estar Social”,
eles também pagaram a conta.
A interpretação de que a atuação do Estado
garantidor do bem-estar social era a causadora da crise fez ascender dos locais
mais obscuros a tese de que o Estado não deveria interferir de forma ativa na vida
social. Ele deveria apenas regulamentar o mínimo possível e dar assistência
àquilo que as “forças do mercado” não pudessem resolver sozinhas. À maneira
como a sociedade “organizou” a área econômica a partir de então costuma-se
chamar de “neoliberal”.
Entretanto, não é de agora, ou mera consequência da
“Crise do Coronavírus”, que o capitalismo neoliberal se mostra problemático. Já
há alguns anos que empresários, CEOs e economistas (incluindo alguns liberais)
levantam questões acerca dos rumos que a desigualdade social e suas
consequências vêm tomando no mundo inteiro. Os dados do “World Inequality Lab”
nos dão uma noção em números.
Quando falamos em desigualdade, vem logo à cabeça a
riqueza que se tem. Em 2019, apenas 0,9% dos adultos mais ricos do mundo detinham
um total de 43,9% da riqueza mundial e 56,6% dos adultos mais pobres detinham
apenas 1,8% da riqueza mundial. Para se ter uma ideia, em 2009, 380 pessoas
tinham uma riqueza equivalente à de todas as pessoas que compõem os 50% mais
pobres. Em 2018 apenas 26 pessoas tinham a mesma riqueza que a soma dos 50%
mais pobres de todo o mundo.
Isto, claro, interfere diretamente na renda que as
pessoas auferem, pois a riqueza prévia (aquilo que é acumulado pelos pais, por
exemplo) é um importante determinante da forma (salários ou lucros, por
exemplo) e do montante de remuneração que as pessoas recebem. No mundo todo, os
1% “de cima” se apropriavam de 16,3% da renda gerada em 1980, enquanto em 2016
o percentual foi de 20,4%. Já os 50% “de baixo” ficaram com 8% da renda em 1980
e com 9,7% em 2016.
Obviamente, isto se reflete nas condições de vida
das pessoas. Afinal, o capitalismo, seja neoliberal ou de bem-estar social, é
um sistema econômico onde tudo é comprado e vendido. Quem não tem renda, não
tem o que vestir, onde morar, como ir e vir, muito menos como se cuidar em uma
pandemia. Não é à toa que nos EUA a parte da população que mais tem sofrido com
a Covid-19 é a negra. Isto está diretamente ligado à desigualdade social. Lá, a
riqueza média dos brancos em 2016 era de US$ 147 mil, enquanto a riqueza média
dos negros era de US$ 3,6 mil (menos da metade do que em 1983). Aqui no Brasil
já há dados oficiais que mostram a maior letalidade do coronavírus na população
negra e parda (maioria nos rincões da pobreza) em comparação com a branca.
Há quem diga que o capitalismo neoliberal e seus
defensores serão “engolidos” pela brutalidade da “Crise do Coronavírus”. Da
mesma forma que a Crise de 1929 acabou com o “liberalismo clássico” e o Choque
do petróleo com o “Bem-Estar Social”, podemos estar a ver uma transição na
forma de organização econômica. Pode ser que a “Crise do Coronavírus” seja o
deflagrador da próxima mudança, que pode ser para melhor ou pior.
A questão que fica é: independente da forma que
assuma, será que o capitalismo é o melhor sistema econômico para a sociedade?
Cabe a nós dar essa resposta!
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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