quarta-feira, 15 de abril de 2020

Desigualdade social e suas consequências


Semana de 06 a 12 de abril de 2020

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Antes de iniciar o texto propriamente dito, gostaria de sugerir ao leitor o seguinte vídeo informativo: https://www.youtube.com/watch?v=s-lgS-4Xqy0. Nele tem-se uma ótima explicação da importância do isolamento no achatamento da “curva de infecção”.
Depois da 2ª Guerra Mundial, os países ricos passaram por uma fase conhecida como Estado de Bem-Estar Social. Foi um período onde o Estado era provedor e garantidor de emprego, renda e assistência social para todos. Esse foi o período onde ocorreram as maiores reduções na desigualdade social das economias capitalistas mais ricas. Nas economias periféricas, o bem-estar chegou em pequenas parcelas. O preço dessa “aventura” foi cobrado na década de 1970. Uma das dimensões do problema é a que os Estados das principais economias do mundo passaram por severas crises fiscais e de endividamento, mostrando que aquele pacto social não era viável. Apesar dos Estados de economias “subdesenvolvidas” nunca terem tido “Bem-Estar Social”, eles também pagaram a conta.
A interpretação de que a atuação do Estado garantidor do bem-estar social era a causadora da crise fez ascender dos locais mais obscuros a tese de que o Estado não deveria interferir de forma ativa na vida social. Ele deveria apenas regulamentar o mínimo possível e dar assistência àquilo que as “forças do mercado” não pudessem resolver sozinhas. À maneira como a sociedade “organizou” a área econômica a partir de então costuma-se chamar de “neoliberal”.
Entretanto, não é de agora, ou mera consequência da “Crise do Coronavírus”, que o capitalismo neoliberal se mostra problemático. Já há alguns anos que empresários, CEOs e economistas (incluindo alguns liberais) levantam questões acerca dos rumos que a desigualdade social e suas consequências vêm tomando no mundo inteiro. Os dados do “World Inequality Lab” nos dão uma noção em números.
Quando falamos em desigualdade, vem logo à cabeça a riqueza que se tem. Em 2019, apenas 0,9% dos adultos mais ricos do mundo detinham um total de 43,9% da riqueza mundial e 56,6% dos adultos mais pobres detinham apenas 1,8% da riqueza mundial. Para se ter uma ideia, em 2009, 380 pessoas tinham uma riqueza equivalente à de todas as pessoas que compõem os 50% mais pobres. Em 2018 apenas 26 pessoas tinham a mesma riqueza que a soma dos 50% mais pobres de todo o mundo.
Isto, claro, interfere diretamente na renda que as pessoas auferem, pois a riqueza prévia (aquilo que é acumulado pelos pais, por exemplo) é um importante determinante da forma (salários ou lucros, por exemplo) e do montante de remuneração que as pessoas recebem. No mundo todo, os 1% “de cima” se apropriavam de 16,3% da renda gerada em 1980, enquanto em 2016 o percentual foi de 20,4%. Já os 50% “de baixo” ficaram com 8% da renda em 1980 e com 9,7% em 2016.
Obviamente, isto se reflete nas condições de vida das pessoas. Afinal, o capitalismo, seja neoliberal ou de bem-estar social, é um sistema econômico onde tudo é comprado e vendido. Quem não tem renda, não tem o que vestir, onde morar, como ir e vir, muito menos como se cuidar em uma pandemia. Não é à toa que nos EUA a parte da população que mais tem sofrido com a Covid-19 é a negra. Isto está diretamente ligado à desigualdade social. Lá, a riqueza média dos brancos em 2016 era de US$ 147 mil, enquanto a riqueza média dos negros era de US$ 3,6 mil (menos da metade do que em 1983). Aqui no Brasil já há dados oficiais que mostram a maior letalidade do coronavírus na população negra e parda (maioria nos rincões da pobreza) em comparação com a branca.
Há quem diga que o capitalismo neoliberal e seus defensores serão “engolidos” pela brutalidade da “Crise do Coronavírus”. Da mesma forma que a Crise de 1929 acabou com o “liberalismo clássico” e o Choque do petróleo com o “Bem-Estar Social”, podemos estar a ver uma transição na forma de organização econômica. Pode ser que a “Crise do Coronavírus” seja o deflagrador da próxima mudança, que pode ser para melhor ou pior.
A questão que fica é: independente da forma que assuma, será que o capitalismo é o melhor sistema econômico para a sociedade? Cabe a nós dar essa resposta!

[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)

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