sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

TERRAS-RARAS: UM DEBATE QUE REMONTA À TERRA DE SANTA CRUZ

Semana de 24 a 30 de novembro de 2025

     

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

    

A história daquilo que chamamos de Brasil se confunde com a própria história do capitalismo. Fruto da expansão marítima europeia, a ocupação do nosso território teve uma função clara: atender aos interesses econômicos da burguesia mercantil europeia, em especial, a portuguesa. Nossa maior função era fornecer matérias-primas e alimentos baratos para o capitalismo nascente europeu. Mesmo com a independência política, continuamos a cumprir esta função, não mais como colônia, mas periferia no sistema internacional.

No início, nos idos de 1500, era tudo mato, literalmente... O principal produto fornecido pela então chamada Terra de Santa Cruz era o pau-brasil. Esta árvore era extraída diretamente da natureza pelos indígenas e adquirida por meio do escambo. Em seguida, era embarcada em toras de madeira nas caravelas. Depois, já como Brasil, a ocupação colonial do território esteve em função do fornecimento de açúcar à Europa. Diferentemente da fase do pau-brasil, a fase do açúcar envolvia não apenas o plantio da cana (um cultivo exótico, originário da Ásia), mas seu beneficiamento e transformação em produto final.

Concomitantemente à decadência da atividade açucareira brasileira descobriu-se no Brasil aquela que era a mercadoria mais desejada à época: o ouro. Muito mais do que um produto desejado pelo consumo direto, este metal, como dinheiro, simbolizava a própria riqueza material. Assim, no século XVII iniciou-se mais uma fase no desenvolvimento colonial brasileiro, liderada pela atividade extrativa do ouro. Esta fase durou até fins do século XVIII, quando, por contrabando, já havia se iniciado o cultivo de outra planta exótica no território nacional.

O café chegou ao Brasil por volta de 1720, através do estado do Pará, se expandindo para o resto do país ao longo do século. Mas foi apenas após a independência, já no início do século XIX, que a cafeicultura assumiu o protagonismo na dinamização da economia nacional. Tivemos, então, o início da fase cafeeira, a qual ainda se caracterizava como uma atividade voltada para o atendimento das necessidades estrangeiras.

Ela se inicia sob uma base econômica herdada do antigo sistema colonial, ainda escravista, monocultora, latifundiária e exportadora. Com o tempo, diante do desenvolvimento da própria atividade e das pressões externas advindas, sobretudo, da Inglaterra, novas bases foram surgindo e se consolidando. A cafeicultura foi se transformando numa atividade capitalista, trocando a exploração escravista pela assalariada imigrante e introduzindo forças produtivas mecanizadas.

Este foi o ponto de partida para uma profunda mudança que se sucedeu ao longo do século XX: apesar de não ter elevado nossa economia a uma posição de país avançado e de ter mantido nossa condição de economia dependente, passamos por um intenso processo de industrialização voltada para o consumo interno. O que isto significou? Que grande parte daquilo que são as riquezas naturais do país, como os minerais e o solo fértil, passaram a ser beneficiados no nosso próprio território. Para além de exportador de produtos primários, passamos a beneficiá-los e transformá-los em bens de consumo para a economia local, gerando dinâmica (emprego e renda) dentro do país. Esta fase ocorreu entre 1930 e a década de 1970.

Contudo, a partir dos anos 1990, passamos por um processo regressivo de desenvolvimento econômico, conhecido como desindustrialização. Os motivos para isso são os mais diversos, mas, em sua essência, está a forma como o capitalismo passou a se dinamizar nos últimos 50 anos. Dentre os fatores que resultaram deste processo, viu-se uma mudança na forma como alguns países atuam na divisão internacional do trabalho. Alguns países da periferia do capitalismo global passaram a exportar produtos de alto valor agregado, enquanto outros, como o Brasil, regressaram à posição de grandes fornecedores de bens primários e importador de manufaturados de alta intensidade tecnológica. Foi nesse contexto que ganhamos a falaciosa alcunha de “celeiro do mundo”.

Pois bem, o Brasil se encontra em mais um momento em que tem a “oportunidade” de “escolher” o que fazer com a riqueza natural que possui: utilizamos nossas imensas jazidas de terras-raras para atender diretamente os mercados estrangeiros, ávidos pelo material bruto, ou desenvolvemos uma indústria nacional capaz de beneficiar os minerais e, com isso, criar emprego e renda de maior qualidade em nosso território?

Essa não é uma pergunta muito difícil de responder...


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Antônio Queirós, Jessica Brito, Julia Bomfim, Maria Julia Alencar e Ícaro Moisés.


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