Semana de 13 a 19 de abril de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A economia continua a afundar. O Fundo
Monetário Internacional (FMI) divulgou o seu documento Panorama Econômico
Mundial em que considera “que o mundo está entrando em sua pior recessão desde
a Grande Depressão” (1930). O FMI mostra
que a renda per capita está caindo em 90% dos países, que se assiste uma
explosão do endividamento e caos nos mercados financeiros. Entre 21 de janeiro
e 9 de abril, US$100 bilhões saíram dos países emergentes. Até 3 de abril o
dólar teve uma valorização de 8,5% e os preços das commodities desabaram. Para
o Brasil o FMI prevê uma queda de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020,
e a dívida bruta em relação ao PIB subirá de 89,5% para 98,2%, o que deve fazer
tremer o sinistro Paulo Guedes e sua “equipe dos pesadelos”, os “chicago
oldies”, empenhados no equilíbrio fiscal. A situação é igualmente preocupante
para o crescimento da dívida bruta dos EUA (cresce de 109% para 131,1% do PIB)
e do Japão (cresce de 237,4% para 251,9%).
É bom frisar que esta crise não é do
coronavirus pois já vinha sendo gestada desde 2019 conforme previmos em nossas
Análises. O coronavirus foi o agente deflagrador e amplificador do fenômeno
que, na verdade, é mais uma fase de crise do ciclo econômico mundial.
Como também havíamos previsto, a chegada da
crise mundial agravaria a situação interna do país. Se, à duras penas, não
conseguíamos entrar na fase de reanimação, que se arrastava, com este choque externo
agravado pelo covid-19 a economia desabou. Daí o desespero do governo.
É preciso lembrar, porém, que antes o
fracasso da ação do governo já era evidente com as taxas de crescimento
medíocres, o desemprego elevado, a disparada do dólar, a fuga de capitais, a
falta de investimentos e todo o desgaste político provocado pelas atitudes
destemperadas do próprio presidente. Mas este quadro não afeta o comportamento
do tresloucado. Como um cão raivoso ele investiu contra o seu novo desafeto (o
grande acontecimento da semana): demitiu o ministro da saúde Henrique Mandetta,
o que foi rejeitado por 76% do país. Enciumado com a popularidade do ministro
diante do apoio de 72,2% da população ao regime de quarentena por ele proposto
e do qual o presidente discorda, Bolsonaro demitiu Mandetta.
Além dos presidentes da Câmara e do Senado,
que assinaram um comunicado condenando a demissão, muitas outras autoridade,
entidades e organizações engrossaram os protestos. A fúria do capitão reformado parece que aumentou
e ele passou a arremeter contra tudo e todos. O ponto culminante foi a
participação em uma manifestação de grupos golpistas feita em frente a um
quartel em Brasília. A manifestação trouxe palavras de ordem contra o
Congresso, o STF, os parlamentares, os governadores dos estados, com apelos
pela volta do AI-5 e da ditadura com intervenção das Forças Armadas.
Todos estes desatinos ocorrem no momento em
que uma pesquisa feita pela Consultoria Atlas Político mostrou que 55% dos
entrevistados avaliaram negativamente o presidente e apenas 39% positivamente.
Além disso 43% consideraram a gestão do governo ruim ou péssima e apenas 23%
ótima ou boa.
Pressionado o governo foi obrigado a
distribuir dinheiro aos desempregados e informais que não podem trabalhar por
causa da quarentena. É um grande alento para as famílias que correm
desesperadas aos bancos enfrentando todo tipo de burocracia e submetendo-se a
filas humilhantes. Conciliador, o novo ministro da Saúde repara um plano para a
saída da quarentena. O BNDES, Ipea e outros órgãos de planejamento preparam
planos para o fim da pandemia e recuperação da economia. A corrente econômica
liberal faliu. O sinistro Guedes está desesperado. O governo aumenta os gastos,
o déficit fiscal e a dívida pública crescem. O mercado e o empresariado mostram
a sua incapacidade para enfrentar uma emergência. Nada como um apelo ao velho
Estado e ao planejamento diante da inevitável continuação da pandemia e da
crise.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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