quarta-feira, 22 de abril de 2020

A economia afunda, a pandemia agrava-se


Semana de 13 a 19 de abril de 2020

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
A economia continua a afundar. O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou o seu documento Panorama Econômico Mundial em que considera “que o mundo está entrando em sua pior recessão desde a Grande Depressão” (1930). O FMI  mostra que a renda per capita está caindo em 90% dos países, que se assiste uma explosão do endividamento e caos nos mercados financeiros. Entre 21 de janeiro e 9 de abril, US$100 bilhões saíram dos países emergentes. Até 3 de abril o dólar teve uma valorização de 8,5% e os preços das commodities desabaram. Para o Brasil o FMI prevê uma queda de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, e a dívida bruta em relação ao PIB subirá de 89,5% para 98,2%, o que deve fazer tremer o sinistro Paulo Guedes e sua “equipe dos pesadelos”, os “chicago oldies”, empenhados no equilíbrio fiscal. A situação é igualmente preocupante para o crescimento da dívida bruta dos EUA (cresce de 109% para 131,1% do PIB) e do Japão (cresce de 237,4% para 251,9%).
É bom frisar que esta crise não é do coronavirus pois já vinha sendo gestada desde 2019 conforme previmos em nossas Análises. O coronavirus foi o agente deflagrador e amplificador do fenômeno que, na verdade, é mais uma fase de crise do ciclo econômico mundial.
Como também havíamos previsto, a chegada da crise mundial agravaria a situação interna do país. Se, à duras penas, não conseguíamos entrar na fase de reanimação, que se arrastava, com este choque externo agravado pelo covid-19 a economia desabou. Daí o desespero do governo.
É preciso lembrar, porém, que antes o fracasso da ação do governo já era evidente com as taxas de crescimento medíocres, o desemprego elevado, a disparada do dólar, a fuga de capitais, a falta de investimentos e todo o desgaste político provocado pelas atitudes destemperadas do próprio presidente. Mas este quadro não afeta o comportamento do tresloucado. Como um cão raivoso ele investiu contra o seu novo desafeto (o grande acontecimento da semana): demitiu o ministro da saúde Henrique Mandetta, o que foi rejeitado por 76% do país. Enciumado com a popularidade do ministro diante do apoio de 72,2% da população ao regime de quarentena por ele proposto e do qual o presidente discorda, Bolsonaro demitiu Mandetta.
Além dos presidentes da Câmara e do Senado, que assinaram um comunicado condenando a demissão, muitas outras autoridade, entidades e organizações engrossaram os protestos.  A fúria do capitão reformado parece que aumentou e ele passou a arremeter contra tudo e todos. O ponto culminante foi a participação em uma manifestação de grupos golpistas feita em frente a um quartel em Brasília. A manifestação trouxe palavras de ordem contra o Congresso, o STF, os parlamentares, os governadores dos estados, com apelos pela volta do AI-5 e da ditadura com intervenção das Forças Armadas.
Todos estes desatinos ocorrem no momento em que uma pesquisa feita pela Consultoria Atlas Político mostrou que 55% dos entrevistados avaliaram negativamente o presidente e apenas 39% positivamente. Além disso 43% consideraram a gestão do governo ruim ou péssima e apenas 23% ótima ou boa.
Pressionado o governo foi obrigado a distribuir dinheiro aos desempregados e informais que não podem trabalhar por causa da quarentena. É um grande alento para as famílias que correm desesperadas aos bancos enfrentando todo tipo de burocracia e submetendo-se a filas humilhantes. Conciliador, o novo ministro da Saúde repara um plano para a saída da quarentena. O BNDES, Ipea e outros órgãos de planejamento preparam planos para o fim da pandemia e recuperação da economia. A corrente econômica liberal faliu. O sinistro Guedes está desesperado. O governo aumenta os gastos, o déficit fiscal e a dívida pública crescem. O mercado e o empresariado mostram a sua incapacidade para enfrentar uma emergência. Nada como um apelo ao velho Estado e ao planejamento diante da inevitável continuação da pandemia e da crise.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog