Semana de 03 a 08 de agosto de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Parece que, finalmente, o governo resolveu
ficar calado. Bolsonaro descobriu que seu forte é não abrir a boca ou a cloaca
e que foi graças a isso que ganhou as eleições. Não só ele, mas a chamada ala
ideológica. Damares deixou de ver entidades na goiabeira, o subministro da
Saúde deixou de vender cloroquina e negar os mortos pela covid-19, o
anti-ministro do meio ambiente calou-se, apesar da Amazônia e do pantanal
arderem em chamas, não se ouve falar de educação e marxismo cultural etc. A
bola está nos pés do ministro da justiça enrolado com um dossiê secreto e com o
Guedes, sinistro da economia, o posto Ipiranga do governo. Embora continue
perdendo colaboradores mais radicais que não estão suportando as concessões no
afrouxamento da austeridade fiscal por causa da covid-19 e das eleições, o
Guedes, mesmo com fortes dores no fígado, está preferindo continuar.
Provavelmente o que entra no bolso compensa o sofrimento ideológico.
O governo continua “passando a boiada” como
uma gigantesca “bola de demolição” impedindo ou dificultando o lento processo
de recuperação, para usar a expressão do ex-BC Armindo Fraga, ao defender seu
“modelo social-democrata com liberalismo na produção e solidariedade na
gestão”. Armindo argumenta que a solução, nas atuais condições, terá de vir da
política.
Aí está o problema. Tentando encontrar
apoio no Centrão, o governo é obrigado a abrir o cofre irritando a equipe
econômica. O fracasso da criação do partido Aliança pelo Brasil, obriga o
governo a negociar com o congresso onde se digladiam 3 grandes grupos: o do
governo, o do Rodrigo Maia e o da oposição. Não causa preocupação se os mortos
pela covid-19 ultrapassam os 100.000 levando o país em direção ao pódio
mundial.
Mas, enquanto a bola de demolição da ação
governamental espalha o caos a economia move-se lentamente. Alguns
acontecimentos importantes marcaram a semana.
O primeiro deles foi a redução para 2,0% ao
ano da taxa de referência Selic, pelo COPOM, órgão do Banco Central (BC), novo
recorde histórico. O COPOM sente-se confortável com a inflação, mas preocupado
com a lentidão da recuperação, considerando que a conjuntura exige estímulos
elevados.
Outro assunto quente da semana, mas que
deve continuar a ocupar espaço nas próximas semanas ou meses, foi a reforma
fiscal. Além do IVA e do CBS (Contribuição de Bens e Serviços) que prometem
unificar vários impostos entrou na mira as alterações no Imposto de Renda. O
sinistro Guedes voltou a ofensiva também com a nova CPMF tentando angariar no
congresso defensores para a ideia. Teme-se a ofensiva sobre os 3 pilares que
controlam as despesas: a lei da responsabilidade fiscal, a regra de ouro e o
teto dos gastos. A proximidade das eleições está obrigando o governo a novo
tipo de “pedaladas”. Muitos já defendem o abandono do teto de gastos. Entidades
internacionais já alertam para a desordem fiscal que pode ocorrer nos países pós-pandemia,
principalmente nos ditos emergentes. Os estímulos monetários e fiscais, o corte
de juros, o aumento de despesas, a redução dos investimentos estão elevando a
relação dívida/PIB que, nos emergentes, já atinge 230%. Com tudo isto e sem
recuperação econômica a situação deve agravar-se.
Os índices de desemprego tiveram um
resultado desastroso. A taxa subiu para 13,3%, a segunda pior desde 2012. No
entanto ela ainda não reflete a realidade. Aos 12,8 milhões de desempregados é
preciso somar 77,78 milhões que estão fora do mercado. Do total dos que estão
na idade economicamente ativa, 90,6 milhões não trabalham e apenas 83,3 milhões
estão ocupados. Acompanhando o resto do mundo a indústria apresentou sinais de
recuperação. Em junho, em relação a maio, a indústria cresceu 8,9% puxada pelas
montadoras. Os bens de capital
contribuíram com 13,1%, os bens intermediários com 4,9% e os semi e não
duráveis com 6,4%. No entanto esta recuperação não inverte a tendência anual.
Em 12 meses temos uma queda de -5,6% e no ano de 2020, -10,9%. Esperamos que a
bola de demolição não reduza este pequeno progresso a escombros.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.
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