Semana de 13 a 19 de dezembro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Nas
duas últimas Análises discutimos dois assuntos controversos que caracterizam a
situação atual: a estagflação e a crise. O Professor Lucas apontou algumas
peculiaridades da chamada “crise do covid” mostrando que ela é uma crise
econômica com peculiaridades especiais. No capitalismo as crises econômicas são
crises de superprodução. Superprodução de capital sob todas as formas:
mercadoria, produtiva e financeira. A sociedade entra em crise por ter criado
riqueza demais. Isto não significa que todas as necessidades estejam
satisfeitas. Nas condições do capitalismo, só consome quem tem dinheiro e as
relações capitalistas de produção se encarregam de produzir uma gigantesca
concentração de renda que empobrece os possíveis consumidores.
A
crise manifesta-se pelo acúmulo de mercadoria que não encontra consumidores.
Com o covid as coisas mudaram e novas características apareceram como bem
referiu o Professor Lucas na Análise passada. Isto por si já é inusitado e
dificulta o trabalho dos estudiosos. Com este novo tipo de crise surgiu, porém,
outro problema: a inflação. Segundo a teoria oficial a elevação dos preços só
ocorre quando há uma grande pressão da procura que a oferta não consegue
atender. Mas uma pressão de demanda muito forte estimula os empresários a
aumentar a produção. Por outro lado, esta demanda é resultado de pleno emprego
e salários elevados, ou seja, quando o desemprego é muito baixo. O nosso caso é
o oposto. Temos uma grande massa de desempregados, de subempregados, de
desalentados e os salários são muito baixos. O número de pobres e miseráveis
cresce, a fome se alastra e os empregos informais e de baixa qualidade com
baixos salários superam os empregos de melhor qualificação e mais bem
remunerados. Apesar disso a inflação continua a disparar. Eis o mistério que o
sinistro Guedes e sua equipe de “Chicago oldies” não consegue decifrar.
O
Banco Central (BC) comandado pelo Roberto Campos Neto, (neto do conhecido
Roberto Campos chamado de Bob Fields nos velhos tempos pela sua subserviência
aos americanos) e leitor da mesma cartilha, arranca os cabelos. Aplica a única
receita que sua ideologia econômica lhe recomenda: a elevação dos juros. Os
documentos do próprio BC reconhecem que as maiores causas da inflação atual,
vêm do exterior ou de fatores naturais: preços das commodities (petróleo),
crise hídrica, preços da energia, entraves ao comércio internacional, pandemia
do covid, etc., sobre os quais os juros não exercem qualquer efeito. Por outro
lado, sabem também que a elevação dos juros dificulta o financiamento dos
negócios e entrava a retomada da produção. Mesmo assim, na sua demência
ideológica prometem continuar a elevação da Selic até “ancorar as expectativas”
dos agentes que deixariam de subir os preços. É isto que devemos esperar nos
próximos tempos: juros contra o coronavírus, São Pedro e as condições
climáticas, o comércio mundial etc.
Passemos
então à parte mais chata da nossa análise. O que mostram os dados da semana?
Citaremos apenas os que se referem às questões tratadas anteriormente.
As
previsões de bancos e consultorias dizem que o BC vai elevar a Selic, dos
atuais 9,25 para 11,75% ao longo de 2022 provocando aumento do custo fiscal
para o setor público e dificultando empréstimos e financiamentos com
consequências negativas para a recuperação da economia. Lembremos que em
janeiro a Selic era 2%.
A
Câmara Brasileira da Indústria de Construção (CBIC) estima que o PIB do país em
2022 terá crescimento entre 0,5% e 1% e que o PIB da construção civil cairá dos
7,6% atuais para 2% no próximo. O endividamento dos consumidores chegou a 60%
em agosto e tende a piorar. A queda da renda do trabalho chega a -6,5% em 2021
Também na agroindústria, nosso carro chefe, a situação é grave. A FGVAgro
divulgou seu índice PIMAgro para outubro mostrando queda na produção de -11,3%
em relação a 2020. Estre as causas apontadas estão juros, inflação, covid,
aumento de custos de produção, mercado de trabalho fraco. Todos consideram que
a inflação continuará a crescer o consumo com a produção a cair e o desemprego
aumentar. Eis a estagflação. Juros nela!
[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Alan Gomes, Ana Isadora Meneguetti.
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