Semana de 29 de novembro a 05 de
dezembro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Estamos assistindo a “coisa dramática”
anunciada por A. C. Pastore: “subida da taxa de juros com economia encolhendo”.
O espetáculo provoca os lamentos de todos os economistas oficiais
(neoclássicos), incluindo o próprio Pastore, que apoiam a ação do BC de subir
os juros para conter a inflação, a única receita que eles conhecem.
Nós já estávamos prevendo isto há mais de 4
meses. Agora todos admitem o fenômeno que julgavam ultrapassado. Mas, vamos aos
dados. O leitor nos perdoe pelo aborrecimento. Os indicadores antecedentes do
Banco Central (IBC-Br) e do Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-Agro), o PIMAgro, que apresentamos na Análise passada,
mostraram-se confiáveis e precisos. Agora, o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) divulgou os números que mostram a realidade
Segundo estas estatísticas, no terceiro
trimestre do ano, em relação ao segundo trimestre, o Produto Interno Bruto
(PIB) (soma de todas as riquezas produzidas no país pela indústria, agricultura
e serviços) sofreu uma queda de -0,1%. Como no segundo trimestre o PIB já havia
caído -0,4%, em relação ao primeiro, configurou-se o que eles definiram como
“recessão técnica”, (a queda do PIB por dois trimestres seguidos). O sinistro
da economia, Paulo Guedes, está metido em uma saia justa. A sua recuperação em
V configura-se como um voo de galinha. Mas ainda não foi o bastante para ele
calar o bico. Como bom falastrão ele já saiu por aí afirmando que “A
arrecadação está muito forte o que mostra que o Brasil está decolando de novo”.
Além disso chamou de “conversa de maluco” as previsões de baixo crescimento
feitas pelas consultorias e economistas. O Ministério da Economia continua
mantendo sua previsão de crescimento de 5,1% para 2021 e de 2,1% para 2022
(segundo o Boletim Focus do BC 4,7% e 0,5%)
Mas há ainda outras estatísticas negativos.
A agropecuária, que tem sido o carro chefe do crescimento, teve uma queda de -8%.
A indústria de transformação caiu -0,7%. A indústria extrativa -0,4%, os
investimentos -0,1%, mas o consumo aparente de máquinas e equipamentos caiu
-2,6%. Os analistas apontam como possíveis causas a escassez de insumos, a
inflação, a elevação dos juros, o mercado de trabalho fraco, as precariedades
das vagas de emprego, os salários baixos, a pandemia, a fragilidade das contas
públicas, a escassez hídrica os preços das commodities.
Este ambiente adverso provocou uma queda
nas expectativas dos empresários. Sobre isto a FGV calcula 3 Índices: o Índice
de Confiança Empresarial que caiu 3,3 pontos ficando em 97 pontos (abaixo de
100 indica desconfiança), o Índice de Situação Atual (ISA), com queda de 2,5
pontos e o Índice de Expectativas (IE) que caiu 4,5 pontos.
Como este quadro tende a se manter não são
boas as expectativas para o quarto trimestre e, portanto, para o ano de
2021. O BC já divulgou que vai manter a
elevação da taxa Selic mesmo sabendo que isto é mortal para a recuperação
econômica, mas ele não conhece outra receita, pois não consta do seu manual de
instruções. Segundo a ideologia deles a inflação é provocada pelo excesso de
procura e taxas de juros elevadas reprimem os negócios tanto pelo lado de quem
compra como de quem vende, ao dificultar os financiamentos. O governo continua
sua louca política de criar entraves para a batalha contra o coronavírus, que
nos ameaça com a nova mutação Ômicron, tendo o apoio do incompetente
bolsominion ministro da Saúde. A campanha política vai se intensificando com o
aparecimento de novos candidatos e parece pouco provável uma alternativa
diferente da polarização final de Lula contra Bozo ou Moro duas faces da mesma
moeda.
As últimas pesquisas têm mostrado a queda
na avaliação do governo o que está levando Bolsonaro ao desespero. Ninguém pode
prever o que o louco poderá fazer se encurralado. Temos dito aqui que ele é
capaz de jogar pedra na lua. A degradação do ambiente econômico agrava muito a
situação.
A recessão técnica chegou e com a inflação. Temos assim a tão temida estagflação para a qual nenhuma receita consta no manual. Coitado do Guedes!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ana Isadora Meneguetti, Carolina Nantua, Guilherme de Paula e
Maria Cecília Neres.
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