quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Recortes da conjuntura atual

Semana de 22 a 28 de novembro de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Uma nova mutação do Coronavírus entrou no rol das chamadas “variantes de preocupação” da Organização Mundial da Saúde. Batizada de Ômicron, esta variante foi detectada em vários países do mundo. Pouco se sabe sobre ela, até agora, mas seu potencial perigo está no número de mutações que tem. Porém, ainda não há estudos que comprovem se ela é mais mortal, mais transmissível ou tem resistência às vacinas já desenvolvidas. O que sabemos é que o governo brasileiro não tem seguido as recomendações da Anvisa em relação aos turistas que chegam por aqui. Por exemplo, até hoje, não é preciso do “passaporte vacinal” para entrar no Brasil.

Estar atento a isto é crucial para podermos (tentar) dimensionar a largura e a profundidade do buraco que a Pandemia de Covid-19 está causando nas economias brasileira e mundial. Em outras análises, já falamos inúmeras vezes sobre como as medidas necessárias para combater o vírus desmantelaram as cadeias produtivas. Para além da geração de emprego e renda, isto resultou em desabastecimento de certos insumos básicos e aumento de preços em todo o mundo. Os países onde a inflação mais se elevou nos 12 meses terminados em outubro de 2021 foram Argentina (49,9%), Turquia (19,9%), Brasil (10,7%), Rússia (8,1%) e México (6,2%).

E por falar em inflação, o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) e o Banco Central Europeu resolveram manter políticas comedidas contra a elevação dos preços. Segundo os comunicados oficiais, a inflação oficial das regiões não está em patamares alarmantes. Nos EUA os preços subiram 6,2%, enquanto na Zona do Euro a subida foi a maior em 13 anos, de 4,2%. Na interpretação deles, a causa fundamental da inflação atual é o desmantelo causado pela Pandemia. Isto não mudou, apenas ameaça se prolongar para 2022 com o surgimento de novas variantes do Coronavírus. De toda forma, as autoridades monetárias mais importantes do planeta dão sinais claros de que se preocupam mais em resolver os problemas “reais” do que com as “expectativas” dos agentes.

Continuando no tema, o caro leitor deve ter visto o movimento encabeçado pelos EUA e seguido por China, Reino Unido, Japão, Índia e Coreia do Sul para conter o aumento no preço internacional do petróleo. Estima-se que, juntos, os seis países vão por pra jogo entre 65 e 70 milhões de barris que eles têm estocados como reserva estratégica. O motivo? A inflação e a consequente insatisfação da população, que estão aumentando junto com o preço da commodity. Lembrando que no caso do Brasil é pior, pois o preço da gasolina aumenta ainda mais por conta da política artificial de paridade internacional, praticada pelo governo Bolsonaro. A reação das grandes potências foi inútil. A OPEP e os especuladores foram mais poderosos e os preços continuaram a subir nas bolsas de Nova Iorque e Londres.

E por falar em petróleo, saíram os Planos de Negócios propostos pelo governo Bolsonaro para a Petrobrás entre os anos de 2022 e 2026. Duas coisas chamaram a atenção. A primeira é a garantia de uma renda mínima, literalmente, para os acionistas da empresa. Segundo o Plano, enquanto o barril estiver acima dos US$ 40, a empresa vai distribuir para seus acionistas um mínimo de US$ 4 bilhões, ou R$ 22 bilhões na cotação atual. Isso daria para pagar R$ 400 para 17 milhões de brasileiros por pouco mais de 3 meses. Mas esse é só o mínimo. A previsão é de que, entre 2022 e 2026, a empresa pague entre US$ 65 bi e US$ 70 bi aos acionistas, sendo que cerca de um terço seria para a União. O segundo destaque é o processo de ampliação dos investimentos em refinarias, mas não para aumentar a produção de derivados pela Petrobrás. O objetivo é deixar as refinarias prontas, modernas e eficientes para vendê-las a empresas privadas. Naturalmente, empresas como Crédit Suisse, BTG Pactual, Ativa Investimentos e o Banco Safra foram a público elogiar o que o governo Bolsonaro está fazendo com a Petrobrás.

Eis os recortes da conjuntura atual...


[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: lan Gomes, Guilherme de Paula e Ana Isadora Meneguetti.

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