Semana de 03 a 09 de fevereiro de 2025
Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]
O
retorno de Donald Trump à cena política norte-americana, no entanto, expõe,
mais uma vez, a hipocrisia desse discurso. Ao anunciar a imposição de tarifas
sobre produtos vindos do Canadá, do México e, principalmente, da China, Trump
contraria a lógica que sustentou a supremacia econômica americana por décadas.
Mas, mais que isso, a conduta americana revela como os princípios do livre
mercado e da não intervenção são frequentemente abandonados, quando
determinados interesses nacionais estão em jogo.
Isso
quer dizer, caro leitor, que, no fim das contas, a adesão ao liberalismo
econômico por parte das grandes potências é mais uma questão de conveniência
política do que de real compromisso econômico. O mesmo país que difundiu a
democracia liberal pelo mundo, em oposição à regimes ditatoriais e em “defesa”
da “soberania” e da “autodeterminação dos povos”, hoje, fala em acabar com a
independência do Canadá e em anexar outros territórios soberanos, como a
Groenlândia e o Canal do Panamá.
Veja,
não é a “ditadura” chinesa que está falando em intervir em outros territórios,
mas a “livre democracia” norte-americana. As ideias e ações de Donald Trump, em
tão pouco tempo de governo, indicam a possibilidade de instauração de uma
guerra comercial. As consequências de tais decisões é que não estão ainda
claras e não há garantia de que saiam como esperadas para os EUA.
China, Canadá e México são os três maiores
parceiros comerciais do país, e a imposição de tarifas não apenas poderá gerar
retaliações, como, provavelmente, impulsionará as nações a buscar novos
mercados. Nesse contexto, a América Latina pode se tornar ainda mais
estratégica para a China, especialmente diante da crescente tensão provocada
pelas ameaças dos EUA ao Canal do Panamá e ao México, ampliando o espaço para a
influência chinesa na região.
No
que tange às relações com o Brasil, a postura cada vez mais agressiva dos
Estados Unidos em relação a imigrantes reforça as tensões na política externa.
A recente deportação de 88 brasileiros, que chegaram algemados ao país, em 24
de janeiro, evidenciou o tratamento desumano imposto pelo governo
norte-americano. No campo comercial, ainda não está claro se o Brasil será alvo
das tarifas protecionistas impostas pelos EUA. Apesar da gravidade do episódio
e do aumento das tensões, o governo brasileiro tem adotado uma abordagem
pragmática e cautelosa, com ênfase na reciprocidade.
Portanto, caro leitor, o cenário global se desenha cada vez mais instável, com os Estado Unidos assumindo uma postura protecionista, que contradiz seu próprio discurso. Espera-se, então, a remodelação das relações globais, já que as ações agressivas e os discursos retrógrados daquele país gerarão reações em cadeia. O Brasil, assim como outras nações emergentes, deve se preparar para um contexto de maior disputa geopolítica e realinhamentos estratégicos. A ascensão da China como alternativa comercial e a crescente pressão americana tornam imprescindível uma política externa equilibrada, capaz de defender interesses nacionais sem abrir mão da autonomia, da estabilidade e do crescimento econômico.
[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduada em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Rubens Gabriel, Antônio Queiroz, Ícaro Moisés, Miguel Oliveira, e Raquel Lima.
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