Semana de 18 a 24 de novembro de 2024
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Os nossos leitores mais assíduos têm
acompanhado algumas discussões sobre os experimentos do líder louco, Donald
Trump. Vimos que, neste capitalismo em mudança, a retórica e a realidade têm
colidido e divergido bastante. Mas, não podemos negar que ele tem colocado o
mundo à prova, seja blefando, seja executando suas promessas de campanha. Nesse
contexto, a presente análise traz alguns elementos que nos dão uma dimensão do
poder que os EUA têm de interferir no comércio mundial, o que, ao mesmo tempo,
é sua fraqueza (no final do texto tem uma tabela com os dados).
Antes de mais nada, é importante lembrar
que, no capitalismo atual, a atividade produtiva se organiza com base nas
chamadas cadeias produtivas globais. Ou seja, o processo de produção de bens e
serviços foi fragmentado, descentralizado e espalhado por diversas partes do
planeta. Com o objetivo de aumentar
Naturalmente, as grandes empresas que
lideram e coordenam as cadeias produtivas globais são originárias dos países
mais avançados, como EUA, Alemanha e Japão. Assim, mesmo que uma parte da
produção tenha deixado de ocorrer nesses territórios, as empresas lá sediadas
continuaram a conduzir a produção de mercadorias, agora, em escala global.
Pois bem, um dos resultados diretos dis
Pois bem, de novo. Como maior economia
capitalista até aqui, os EUA também ampliaram intensamente seu comércio
internacional por esta via. Isto se deu por meio da negociação entre empresas
localizadas no país (principalmente americanas, mas também estrangeiras) e suas
controladas espalhadas pelo mundo (uma empresa controlada é qualquer empresa
sobre a qual outra empresa exerce controle significativo).
Entre 2021 e 2023, dos 8 setores
classificados pelo Sistema de Classificação Industrial da América do Norte
(NAICS, na sigla em inglês), em 4 deles mais de 20% das vendas externas se deu
entre empresas com algum grau de controle entre si. Em outras palavras, as
vendas das empresas destes 4 setores para o resto do mundo foram, na verdade,
vendas para outras empresas ligadas àquela que exportou. O destaque foi a
“Manufatura, Parte 2” (setor de matérias-primas de médio valor agregado), tendo
em vista que 40,1% das suas exportações corresponderam a comércio entre
empresas controladas e controladoras. No caso da “Manufatura, Parte 3”
(atividades de maior valor agregado), 35,9% das vendas externas foi para
empresas relacionadas com a empresa exportadora.
No caso das compras externas a situação é
ainda mais interessante. Entre 2021 e 2023, dos 8 setores da NAICS, 7 tiveram
mais de 20% das suas importações correspondendo a comércio entre empresas
controladas e controladoras. Ou seja, foram empresas localizadas nos EUA que
compraram produtos estrangeiros produzidos por outras empresas espalhadas pelo
mundo, sendo que estas tinham alguma relação de controle com aquelas que
importaram. Em 3 setores, mais de 50% das compras externas se deram entre
empresas controladas/controladoras: “Manufatura, Parte 2” (56,1%); “Petróleo,
Gás, Minerais e Minérios” (55,0%); “Manufatura, Parte 3” (50,1%).
Buscando sintetizar, mas deixando mais
reflexões do que conclusões, os dados mostram uma complexa rede de conexões
comerciais entre empresas localizadas nos EUA e no resto do mundo. Por um lado,
vê-se o poder que o capital estadunidense tem, ao emaranhar-se em meio às
cadeias fornecedoras e consumidoras de empresas das mais diversas
nacionalidades. Por outro, isto também é a fraqueza das propostas de Donald
Trump, pois são muitos os flancos através dos quais os países podem retaliar os
EUA.
Resta esperar para ver quem vai ganhar e quem vai perder, pois, apesar dessas medidas atenderem aos interesses de alguma fração da burguesia ianque, está claro que elas vão afetar fortemente todo o mundo. É pegar a pipoca e assistir ao desfecho.
Tabela 1 - Percentual do comércio externo que se deu entre empresas controladas/controladoras nos EUA: 2021-2023
Fonte: https://data.census.gov/
- Manufatura, Parte 1: Alimentos e Produtos Similares; Bebidas e Produtos de Tabaco; Têxteis e Tecidos; Produtos de Fiação e Tecelagem; Vestuário e Acessórios; Couro e Produtos Correlatos.
- Manufatura, Parte 2: Produtos de Madeira; Papel; Matérias Impressas e Produtos Relacionados; Produtos de Petróleo e Carvão; Produtos Químicos; Produtos de Plástico e Borracha; e Produtos Minerais Não Metálicos.
- Manufatura, Parte 3: Fabricação de Metais Primários; Produtos de Metal Fabricados, NESOI; Maquinário, Exceto Elétrico; Produtos de Computador e Eletrônicos; Equipamentos Elétricos, Eletrodomésticos e Componentes; Equipamentos de Transporte; Mobiliário e Acessórios; Produtos Manufaturados Diversos.
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Brenda Tiburtino, Gustavo Figueiredo,
Camylla Costa, Jéssica Brito, Maria Júlia Gomes e Paola Arruda.
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