Semana de 20 a 26 de janeiro de 2025
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Nos dias de hoje, torna-se quase impossível
falarmos de conjuntura sem fazer considerações sobre o atual presidente dos
EUA, Donald Trump. É claro que ele foi eleito pelo povo americano e, por isso,
tem todo o direito de tomar decisões sobre seu país. No entanto, ele não foi
eleito presidente ou rei do mundo. Não podemos negar que os EUA são a maior
potência econômica e militar do planeta e merece todo o respeito. No entanto, é
preciso lembrar que existe o resto do mundo que, por sinal, representa a
maioria da população, do território, da economia etc. A maneira como se
comporta o Sr. Trump nos faz crer que ele não sabe disso. A arrogância com que
ele trata o resto do mundo nos faz crer que ele considera que seu país tudo
pode e não depende de qualquer relação com os outros. Durante os poucos dias de
seu governo, ele não assinou nenhum ato que não fosse de agressão, nem proferiu
nenhum discurso, que provocasse simpatia, nem mesmo de seus mais fiéis aliados
que, ao contrário, têm sofrido agressões.
Bancar o lunático tem sido uma ferramenta
recorrente na carreira de Donald Trump. Afinal, agir assim assusta seus
inimigos e os força a ceder. E é assim que ele tem agido. O detalhe é que seu
poder de chantagem se ampliou infinitamente. As ameaças feitas por ele
estarrecem o mundo. Logo de início declarou que pretendia apropriar-se do Canal
do Panamá, alegando algumas mentiras sobre os chineses. Em seguida, propôs a
anexação do Canadá, tornando-o o 51º estado americano. Taxou as importações do
México e do Canadá em 25%, rasgando o tratado de comércio existente entre estes
países, o USMCA. É bom referir que os EUA importam 40% do petróleo que consomem,
e, destes, 60% vêm do Canadá e 11% do México. Além disso estes dois países têm
75% de suas exportações destinadas aos americanos. Declarou ainda a intenção de
apropriar-se da Groelândia tomando-a da Dinamarca, o que provocou protestos
deste país e de toda a União Europeia, com pronunciamentos dos governos da
França, Alemanha e Inglaterra. Determinou ainda a mudança do nome do Golfo do
México para Golfo da América.
Mas, Trump ainda não ficou satisfeito.
Resolveu fazer nova arrumação no Oriente Médio. Decretou sua posse da Faixa de
Gaza propondo-se a esvaziá-la, retirando de lá todos os palestinos, a fim de
limpar os resíduos da guerra, reconstruir tudo e transformar a faixa em um
grande resort, uma verdadeira Riviera, melhor mesmo que Mônaco. Para o resto da
Palestina, ele propõe retirar os 2 milhões de palestinos que lá vivem,
exportando-os para o Egito e Arábia Saudita. O mundo árabe pegou fogo, com
protestos generalizados, não só dos países islâmicos, mas de muitos países da
União Europeia e do resto do mundo. Só Netanyahu aplaudiu, chamando Trump de
maior amigo que Israel já teve.
A América Latina também não ficou fora dos
planos do tirano. Começou enviando um avião militar com colombianos deportados
algemados e acorrentados para a Colômbia. O governo colombiano protestou e
recusou-se a receber seus cidadãos deportados naquelas condições. Sob pressão e
ameaças o governo recuou. Aconteceu o mesmo em relação aos brasileiros
deportados, que chegaram igualmente acorrentados, sendo necessária a
intervenção da Polícia Federal para tirar as algemas e não permitir novo
embarque, no mesmo avião, para completar o trajeto até Minas, local de destino.
Depois de protestos diplomáticos, chegou-se a um acordo para não desembarcar os
prisioneiros algemados, nem utilizar aviões militares no transporte, além de
usar o aeroporto de Fortaleza como destino, encarregando-se o Brasil pelo
restante da viagem em aviões nacionais. Para completar, Trump ordenou seus
militares a prepararem a base, que os EUA possuem em Guantánamo, Cuba, para
abrigar até 30.000 prisioneiros deportados, a fim de tirá-los dos EUA.
Internamente, as autoridades fazem uma
varredura em busca de imigrantes ilegais, prendendo em massa, na rua, nos
empregos, nos restaurantes, nos bares, provocando um verdadeiro pânico. Sua
promessa de campanha foi expulsar todos os ilegais, o que ele vem fazendo até
agora.
As consequências esperadas para a economia
dos EUA, vão desde a paralisação das atividades por falta de mão de obra, a
inflação, até a falta de produtos. Este é o
resultado da eleição do líder louco escolhido pelo povo americano. O pior é que
o resto do mundo nada tem com isto, mas vai igualmente pagar o preço da
insensatez. Esperamos que o preço seja pago na economia e não em sangue, o que
seria terrível.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os
pesquisadores: Paola Arruda, Julia Bomfin, Mateus Eufrasio, Icaro Formiga,
Ryann Felix e Guilherme de Paula.
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