Semana de 01 a 07 de setembro de 2025
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Em condições normais de temperatura e
pressão, esta análise seria focada nos dados do PIB brasileiro no segundo
trimestre de 2025. As informações dão conta de uma já esperada desaceleração da
atividade econômica, com destaque negativo para a queda de 2,2% nos
investimentos. Atribui-se esta redução à política monetária fortemente
contracionista, que mantém a taxa real de juros no Brasil em torno de 10%. No
total, o PIB brasileiro cresceu 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2025 e
2,2% em relação ao segundo trimestre do ano passado.
Contudo, a semana que passou ficou
merecidamente marcada pelo início do “julgamento do século”. Pela primeira vez
na nossa história, o país colocou no banco dos réus um
Ainda no Brasil Colônia, toda a estrutura
econômico-social do território recém invadido tinha como alicerce a repressão
máxima das liberdades da população. Partindo do genocídio dos povos
originários, passando pela vinda de portugueses proprietários, até chegar à
escravização de africanos, o sistema colonial impediu qualquer tipo de
organização espontânea dos que viviam no Brasil à época. Sequer aqueles que
atuavam como classe dominante tinham liberdade para desenvolver-se plenamente
no país. Por exemplo, a Coroa Portuguesa impôs leis que proibiam a criação de
atividades manufatureiras que concorressem com os negócios da metrópole.
Por conta desta imposição, o Brasil passou
mais de 300 anos sem constituir, de fato, uma estrutura social diversa e ampla.
As pessoas que não fossem ligadas ao funcionamento da capitania ou ao comércio
externo, eram meras figurantes. Por isso, mal foram constituídas classes
sociais baseadas em interesses próprios e verdadeiramente “nacionais”,
sobretudo
O sintoma mais evidente desta aberração foi
nossa Independência. Em tese, as grandes transformações sociais acontecem
quando classes ascendentes se fortalecem a ponto de derrubar a velha estrutura
de poder e construir outra em seu lugar. Porém, no caso do Brasil, o “grito de
independência” limitou-se a quebrar as amarras que nos ligavam à Portugal,
mantendo quase toda a base colonial. O país continuava sob uma realeza de
origem portuguesa, com economia monocultora, latifundiária, escravista e
exportadora. Esta foi a sustentação da economia cafeeira durante o Brasil
Império.
Neste período, o país, de fato, iniciou um
processo de transformação mais profundo, porém, de forma lenta, gradual e
conciliatória. Em essência, nunca houve uma efetiva derrubada das velhas ações
coloniais,
As duas maiores transformações na política
do Brasil aconteceram com a Proclamação da República e com a Revolução de 1930,
quando novas frações da classe dominante surgiram e reivindicaram seu espaço no
comando do Estado (mas sem retirar a tradicional aristocracia agrária dele).
Nos dois casos, os militares foram essenciais para essa transformação, pois,
seguindo a tradição, foram “o braço forte” e “a mão amiga” dos ocupantes do
poder. Desde então, em muitos anos
Enfim, o julgamento que deve se encerrar no
dia 12 de setembro de 2025 é um importante marco. Os militares, que sempre se
reconheceram como moderadores do poder no Brasil, estão sendo julgados por
civis, por atentarem contra a vontade das urnas pela primeira vez. Os mais
otimistas acreditam que isto pode representar uma transformação na
institucionalidade brasileira.
Contudo, na opinião do humilde redator
desta análise, não podemos esperar muito da classe dominante brasileira.
Afinal, sua essência violenta (e subalterna) ainda não foi eliminada por
nenhuma outra classe que surgiu desde a colonização. Apenas mudou a forma, mas
o conteúdo se mantém. Quando for preciso, tenha certeza, caro leitor, que a
força militar será usada contra aqueles que se revoltarem contra as verdadeiras
injustiças do país. Enquanto este momento não chega, apreciemos com satisfação
e prazer este solene momento que antecede a condenação de Bolsonaro e sua
gangue.
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Camylla Martins, Julia Bomfim, Lara Souza,
Maria Julia Alencar, Nelson Rosas, Rubens Cunha e Victoria Rodrigues.