quinta-feira, 13 de julho de 2017

Os Primeiros Sinais da Recuperação


Semana de 03 a 09 de julho de 2017

Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]

Na análise da semana que vai do dia 05 ao dia 11 de julho, intitulada “As Características da Retomada da Economia Brasileira”, concluímos, com base na apreciação de vários indicadores, que “frente às medidas restritivas que vem sendo tomadas pelo governo Temer e de outros fatores internos que impedem que mecanismos endógenos provoquem a retomada da economia brasileira, estando esta ligada indissoluvelmente ao movimento cíclico da economia mundial pelo fenômeno que conhecemos como globalização, tal retomada será certamente patrocinada pela poupança externa”. Trocando em miúdos, nossa previsão era de que seriam a demanda externa e os recursos externos que desencadeariam a retomada do crescimento econômico no Brasil. Tal previsão, por sua vez, permanece sendo confirmada pela conjuntura.
De acordo com o Banco Central do Brasil, no acumulado do primeiro semestre de 2017, o Balanço Comercial do país apresentou o maior saldo positivo desde o início da série história em 1989: US$36,2 bilhões. Isto, por sua vez, fez o governo elevar a previsão para o superávit dessa conta, de US$55 bilhões, para US$60 bilhões. O secretário do comércio exterior, Abrão Neto, além disso, destaca que houve aumento em todas as categorias de exportações.
Esta elevação da demanda externa, por sua vez, já está produzindo impactos na economia. Com o mês passado sendo consagrado como o melhor junho em vendas externas de automóveis nos últimos 12 anos (a receita das exportações somou US$1,143 bilhão, um crescimento de 56,7% ante o mesmo mês de 2016), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea, elevou sua previsão para o número de veículos exportados pelo Brasil. A nova previsão da entidade, uma saída de 705 mil automóveis, representaria um crescimento de 35,6% frente ao ano anterior. A previsão de expansão para o mercado interno, contudo, permanece em 4%. Mesmo assim, puxada pela demanda externa, a produção de automóveis no primeiro semestre de 2017 aumentou 23,3% ante ao mesmo período de 2016, totalizando 1,263 milhão de unidades.
Dizer que houve crescimento em todas as categorias de exportação significa, por sua vez, que, em medidas distintas, os demais setores da economia também estão sendo puxados pela demanda externa e que esse crescimento, mais cedo ou mais tarde, cause a expansão do mercado interno, gerando mais crescimento. Há alguns sinais de que isso de fato está ocorrendo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, a produção industrial aumentou 0,8% em maio (4%, frente a maio de 2016), o que fez com que a indústria acumulasse um crescimento de 0,5% nos cinco primeiros meses do ano. É curioso notar que essa elevação foi puxada em grande parte pela produção de bens de capital, que aumentou 3,5% no mês. Tal acontecimento é explicado pelo bom desempenho do setor agrícola, que também está sendo puxado pela demanda externa, na safra 2016/2017. Esse desempenho provocou o aumento da demanda de mais bens de capital para a colheita e venda da produção de máquinas agrícolas no primeiro semestre desse ano. De acordo com a Anfavea, o crescimento desse setor foi de 21,8% em relação ao mesmo período de 2016. O bom resultado da safra combinado com uma demanda externa em expansão, portanto, além de tirar do vermelho diversas empresas do setor agrícola – como a SLC, a Terra Santa e a BrasilAgro, que tiveram lucros líquidos positivos no primeiro trimestre de 2017, frente aos prejuízos apresentados no ano anterior – acabou gerando demanda para demais setores da economia.
O processo de alavancagem da demanda interna pelo crescimento dos setores que são puxados pela demanda externa, contudo, não se dá de imediato. Propaga-se aos poucos. Não é à toa que, como já apresentamos em análises anteriores, as previsões de diversas instituições para o crescimento do Produto Interno Bruto, PIB, da economia brasileira em 2017 giram em torno de 0%. De toda forma, é oportuno chamar atenção para o fato de que esse movimento parece ter se iniciado no presente momento. Mas, é também válido lembrar que ainda são incertos os impactos que a crise política que se desenrola atualmente no país poderá causar na economia.


[i] Professor Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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