Antonio Carneiro de Almeida Júnior [i]
Na análise da semana que vai do dia 05 ao
dia 11 de julho, intitulada “As Características da Retomada da Economia
Brasileira”, concluímos, com base na apreciação de vários indicadores, que
“frente às medidas restritivas que vem sendo tomadas pelo governo Temer e de
outros fatores internos que impedem que mecanismos endógenos provoquem a
retomada da economia brasileira, estando esta ligada indissoluvelmente ao
movimento cíclico da economia mundial pelo fenômeno que conhecemos como
globalização, tal retomada será certamente patrocinada pela poupança externa”.
Trocando em miúdos, nossa previsão era de que seriam a demanda externa e os
recursos externos que desencadeariam a retomada do crescimento econômico no
Brasil. Tal previsão, por sua vez, permanece sendo confirmada pela conjuntura.
De acordo com o Banco Central do Brasil, no
acumulado do primeiro semestre de 2017, o Balanço Comercial do país apresentou
o maior saldo positivo desde o início da série história em 1989: US$36,2
bilhões. Isto, por sua vez, fez o governo elevar a previsão para o superávit
dessa conta, de US$55 bilhões, para US$60 bilhões. O secretário do comércio
exterior, Abrão Neto, além disso, destaca que houve aumento em todas as
categorias de exportações.
Esta elevação da demanda externa, por sua
vez, já está produzindo impactos na economia. Com o mês passado sendo
consagrado como o melhor junho em vendas externas de automóveis nos últimos 12
anos (a receita das exportações somou US$1,143 bilhão, um crescimento de 56,7%
ante o mesmo mês de 2016), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores, a Anfavea, elevou sua previsão para o número de veículos
exportados pelo Brasil. A nova previsão da entidade, uma saída de 705 mil
automóveis, representaria um crescimento de 35,6% frente ao ano anterior. A
previsão de expansão para o mercado interno, contudo, permanece em 4%. Mesmo
assim, puxada pela demanda externa, a produção de automóveis no primeiro
semestre de 2017 aumentou 23,3% ante ao mesmo período de 2016, totalizando
1,263 milhão de unidades.
Dizer que houve crescimento em todas as
categorias de exportação significa, por sua vez, que, em medidas distintas, os
demais setores da economia também estão sendo puxados pela demanda externa e
que esse crescimento, mais cedo ou mais tarde, cause a expansão do mercado
interno, gerando mais crescimento. Há alguns sinais de que isso de fato está
ocorrendo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
IBGE, a produção industrial aumentou 0,8% em maio (4%, frente a maio de 2016),
o que fez com que a indústria acumulasse um crescimento de 0,5% nos cinco
primeiros meses do ano. É curioso notar que essa elevação foi puxada em grande
parte pela produção de bens de capital, que aumentou 3,5% no mês. Tal
acontecimento é explicado pelo bom desempenho do setor agrícola, que também
está sendo puxado pela demanda externa, na safra 2016/2017. Esse desempenho
provocou o aumento da demanda de mais bens de capital para a colheita e venda
da produção de máquinas agrícolas no primeiro semestre desse ano. De acordo com
a Anfavea, o crescimento desse setor foi de 21,8% em relação ao mesmo período
de 2016. O bom resultado da safra combinado com uma demanda externa em
expansão, portanto, além de tirar do vermelho diversas empresas do setor agrícola
– como a SLC, a Terra Santa e a BrasilAgro, que tiveram lucros líquidos
positivos no primeiro trimestre de 2017, frente aos prejuízos apresentados no
ano anterior – acabou gerando demanda para demais setores da economia.
O processo de alavancagem da demanda
interna pelo crescimento dos setores que são puxados pela demanda externa,
contudo, não se dá de imediato. Propaga-se aos poucos. Não é à toa que, como já
apresentamos em análises anteriores, as previsões de diversas instituições para
o crescimento do Produto Interno Bruto, PIB, da economia brasileira em 2017
giram em torno de 0%. De toda forma, é oportuno chamar atenção para o fato de
que esse movimento parece ter se iniciado no presente momento. Mas, é também
válido lembrar que ainda são incertos os impactos que a crise política que se
desenrola atualmente no país poderá causar na economia.
[i] Professor
Substituto do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e pesquisador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
(www.progeb.blogspot.com).
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