Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Em nossas últimas análises têm sido recorrente, as
revisões das projeções para o crescimento do PIB de 2017 e 2018. Mas, quem nos
acompanha, sabe que, com a atual crise política, não havia perspectiva de
recuperação econômica até o final do ano. A taxa de crescimento do PIB, após
recuar 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, será nula em 2017. Para 2018, as previsões
têm caído a menos de 2%.
O Bank of America (BofA) Merrill Lynch no Brasil,
reduziu suas projeções para a expansão do PIB deste ano de 1% para 0,25% e de
2018, de 3% para 1,5%. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (Ibre-FGV) reviu de 0,4% para 0,2% este ano. E o pior é que, segundo a
FGV, se não fosse o setor agropecuário que crescerá 9,4% em 2017, o PIB
recuaria 0,3% este ano. A instituição também revisou a estimativa para 2018, de
2,4% para 1,8%. O Banco Fator cortou suas estimativas de 2017 de 1% para 0,4% e
a de 2018, de 2,1% para 1,4%. A previsão mais pessimista vem da 4E Consultoria.
Para este ano, prevê queda do PIB de 0,1% e em 2018, alta de 1,2%. O elevado
endividamento de empresas e famílias, a lenta recuperação do emprego e outros
indicadores de conjuntura, reforçam a piora dos cenários para estes dois anos.
A Confederação Nacional da Indústria divulgou o
índice de evolução da produção industrial brasileira, que subiu de 41,6 pontos,
em abril, para 53,8 pontos, em maio. Mas, segundo nota da CNI: “É cedo para
dizer que a recuperação de maio vai se sustentar nos próximos meses.” O
indicador do número de empregados na indústria subiu de 47 pontos para 48,1
pontos, entre abril e maio, mas como está abaixo de 50 pontos, este número
continua a indicar queda do emprego, embora em menor intensidade. A Utilização
da Capacidade Instalada (UCI), apesar de subir de 63% para 66%, se mantém ainda
em nível muito baixo.
Para o mês de junho, segundo a CNI, as expectativas
da indústria melhoraram, apesar da crise política. Os indicadores de
expectativas de compra de matérias-primas, de demanda e de quantidade exportada
foram positivos. Mas, o índice para novos investimentos caiu. Já o (Ibre-FGV)
divulgou queda de 2,8 pontos do Índice de Confiança da Indústria (ICI) entre
maio e junho. A contração da confiança pôde ser vista tanto no Índice de
Expectativas (IE) que caiu 3,6 pontos, quanto no Índice da Situação Atual
(ISA), que tombou 2,0 pontos. Para o consumidor, a confiança voltou a piorar em
junho. A Fundação Getúlio Vargas apurou que o Índice de Confiança do Consumidor
(ICC) registrou queda de 1,9 pontos, neste mês, e devolveu a alta de maio. O
(ISA) registrou a terceira queda consecutiva, o que indica pessimismo mesmo
antes da crise política.
O Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC)
informou que a situação do setor piorará este ano por meio da revisão da
projeção para as vendas internas. Esperava-se inicialmente, mesmo antes da
crise política, uma queda de 5% a 7%, mas, a entidade acabou de aumentar o intervalo
da queda para entre 5% a 9%. De janeiro a maio, as vendas de cimento caíram
8,9% e a ociosidade do setor é altíssima. Segundo o SNIC, o setor poderá fechar
o ano com apenas 47% de uso da capacidade instalada.
Uma pesquisa da Fundação Seade apontou que a taxa de
desemprego da região metropolitana de São Paulo subiu de 19,6% em abril, para
19,8% em maio. O contingente de desempregados na Grande SP chegou a 2,119
milhões, em maio.
Conforme mostrado acima, o tormento brasileiro vem
em bocados, a cada estatística divulgada. E as revisadas previsões oficiais,
que já saíam nas entrelinhas, em meio às declarações da equipe econômica, foram
agora admitidas, com alto grau de “enrolation”, pelo ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles. Ele informou que vai revisar para baixo a previsão atual,
de 0,5%, para o PIB de 2017. Segundo ele: “Será um pouco menor que isso, mas
certamente será positivo, estará nesse intervalo entre 0% e 0,5%”. E a sua
comparação preferida entre o último trimestre deste ano e o último trimestre de
2016 que era de 2,7% também será revista. Segue o “enrolation” ministerial:
“Mantemos ainda projeção de crescimento na margem acima de 2% no último
trimestre deste ano versus o último trimestre de 2016. Chegamos num certo
momento a 2,7%, não mudamos essa projeção formalmente, mas de fato ela tem um
certo viés de baixa, mas não é algo que será abaixo de 2%, será acima. Qualquer
coisa entre 2% e 2,7% é o que estamos avaliando.” Apesar destas constatações, a
retomada do crescimento está ocorrendo, segundo Meirelles. “Há pontos
fundamentais para o estímulo econômico: o mercado de emprego começou a
melhorar, o desemprego parou de subir no sentido de que já houve criação
positiva. Embora não seja um número forte, mostra alguma recuperação. Há ainda
a inflação caindo sem perspectiva de reversão, permitindo à autoridade
monetária dar mais estímulo à economia. Portanto, há uma série de fatores
econômicos que dão sustentação à trajetória de crescimento que esperamos, mas
com algum ajuste.”
Certo viés de baixa? Qualquer coisa entre...? Algum
ajuste? A fala confusa do ministro da Fazenda só reforça o cenário de
crescimento nulo em 2017.
Ou será 0,01%?
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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