quinta-feira, 20 de julho de 2017

A manipulação das estatísticas pelo Governo


Semana de 10 a 17 de julho de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Acuado pelas denúncias que se sucedem contra si e os seus auxiliares mais próximos, o presidente Temer continua suas ações desesperadas para demonstrar que sua posição é sólida e tranquila e que está recuperando a economia do país. Continua a afirmar que é o único capaz de realizar as “reformas” que salvarão o Brasil e nomeia-se defensor do povo trabalhador e da melhoria do emprego e dos salários para os mais necessitados.
A semana foi marcada ainda por importantes acontecimentos políticos. O relator do pedido de investigação contra o presidente recomendou a aceitação da denúncia, mas a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, após a troca de vários de seus membros e de muito dinheiro, rejeitou o relatório e aprovou outro recusando a abertura da investigação. O Rodrigo Maia, porém contrariando a vontade do governo, adiou para agosto a discussão final no plenário da Câmara.
O Senado, por seu lado, aprovou as alterações na legislação trabalhista, também em benefício dos trabalhadores, mas defendida ferozmente pelos empresários e rejeitada pelos sindicatos que representam os supostos beneficiados. Para evitar o retorno do projeto à Câmara, a lei foi aprovada sem emendas com a “promessa” de que seria alterada por vetos presidenciais, o que se tornou objeto de nova controvérsia diante da recusa do Rodrigo Maia de aceitar tal expediente.
No judiciário, a grande novidade foi a condenação do ex-presidente Lula, pelo juiz Sérgio Moro, o que originou protestos e possivelmente provocará muitas manifestações e poderá ter fortes consequências para as eleições de 2018.
A difícil situação econômica obriga o presidente e seus ministros, em particular o da fazenda Henrique Meirelles, a apresentar números que mostrem a recuperação da economia, única tábua de salvação disponível diante do mar de lama em que se afunda o governo. Com este objetivo, alteram os números e manipulam as estatísticas visando demonstrar que a economia já ultrapassou a recessão. O próprio Temer, em entrevista a jornalistas no exterior, decretou que a crise não existe no Brasil.
Em análises anteriores alertamos para a possibilidade de termos chegado ao fundo do poço, ou seja, a queda da economia estava atingindo o limite inferior. Isto pode ser constatado pela redução dos ritmos da queda. Também já comentamos que há sinais de recuperação em boa parte puxados pelo mercado externo. É o caso das “commodities” agrícolas (trigo, milho, soja, suco de laranja, etc.) e das exportações de automóveis.
A recuperação faz parte do movimento cíclico da economia e esperada depois da fase de crise. Mas esses movimentos da economia não são obra de nenhum governo nem da ação dos economistas. No entanto estas ações, feitas através da política econômica, podem acelerar ou entravar os movimentos. Infelizmente, a política de austeridade e de equilíbrio fiscal adotada pela “equipe dos pesadelos” só contribui para empurrar para trás e dificultar a recuperação que se anuncia. E não adianta esconder as estatísticas.
Na semana passada o Banco Central (BC) divulgou o seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) para o mês de maio. Este índice é uma estimativa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o período considerado. Toda a imprensa procurou esconder este número, pois ele foi negativo, ou seja, em relação a abril, não houve crescimento. O PIB caiu -0,51%, contrariando todas as estimativas do “mercado” que, em média, previa um crescimento de 0,3%. Ninguém publicou este número. Também não se falou que as vendas no comércio varejista, neste mesmo mês, caíram -0,1% no varejo restrito e -0,7% no varejo ampliado (que inclui automóveis e materiais de consumo), dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Se considerarmos que os investimentos do governo estão caindo (fruto da austeridade) e que os privados não se realizam (consequência da crise) está difícil ver a decolagem da economia. O comércio exterior ajuda mas não é suficiente. Todos os economistas sabem que os investimentos são os grandes responsáveis pela retomada de qualquer economia.
Não temos, portanto, elementos que apoiem as teses do desmoralizado governo Temer.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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