Nelson Rosas Ribeiro[i]
Acuado pelas denúncias que se sucedem
contra si e os seus auxiliares mais próximos, o presidente Temer continua suas
ações desesperadas para demonstrar que sua posição é sólida e tranquila e que
está recuperando a economia do país. Continua a afirmar que é o único capaz de
realizar as “reformas” que salvarão o Brasil e nomeia-se defensor do povo
trabalhador e da melhoria do emprego e dos salários para os mais necessitados.
A semana foi marcada ainda por importantes
acontecimentos políticos. O relator do pedido de investigação contra o
presidente recomendou a aceitação da denúncia, mas a Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara, após a troca de vários de seus membros e de muito
dinheiro, rejeitou o relatório e aprovou outro recusando a abertura da
investigação. O Rodrigo Maia, porém contrariando a vontade do governo, adiou
para agosto a discussão final no plenário da Câmara.
O Senado, por seu lado, aprovou as alterações
na legislação trabalhista, também em benefício dos trabalhadores, mas defendida
ferozmente pelos empresários e rejeitada pelos sindicatos que representam os
supostos beneficiados. Para evitar o retorno do projeto à Câmara, a lei foi
aprovada sem emendas com a “promessa” de que seria alterada por vetos
presidenciais, o que se tornou objeto de nova controvérsia diante da recusa do
Rodrigo Maia de aceitar tal expediente.
No judiciário, a grande novidade foi a
condenação do ex-presidente Lula, pelo juiz Sérgio Moro, o que originou
protestos e possivelmente provocará muitas manifestações e poderá ter fortes
consequências para as eleições de 2018.
A difícil situação econômica obriga o
presidente e seus ministros, em particular o da fazenda Henrique Meirelles, a
apresentar números que mostrem a recuperação da economia, única tábua de
salvação disponível diante do mar de lama em que se afunda o governo. Com este
objetivo, alteram os números e manipulam as estatísticas visando demonstrar que
a economia já ultrapassou a recessão. O próprio Temer, em entrevista a
jornalistas no exterior, decretou que a crise não existe no Brasil.
Em análises anteriores alertamos para a
possibilidade de termos chegado ao fundo do poço, ou seja, a queda da economia
estava atingindo o limite inferior. Isto pode ser constatado pela redução dos
ritmos da queda. Também já comentamos que há sinais de recuperação em boa parte
puxados pelo mercado externo. É o caso das “commodities” agrícolas (trigo,
milho, soja, suco de laranja, etc.) e das exportações de automóveis.
A recuperação faz parte do movimento
cíclico da economia e esperada depois da fase de crise. Mas esses movimentos da
economia não são obra de nenhum governo nem da ação dos economistas. No entanto
estas ações, feitas através da política econômica, podem acelerar ou entravar
os movimentos. Infelizmente, a política de austeridade e de equilíbrio fiscal
adotada pela “equipe dos pesadelos” só contribui para empurrar para trás e
dificultar a recuperação que se anuncia. E não adianta esconder as
estatísticas.
Na semana passada o Banco Central (BC)
divulgou o seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) para o mês de maio. Este
índice é uma estimativa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o
período considerado. Toda a imprensa procurou esconder este número, pois ele
foi negativo, ou seja, em relação a abril, não houve crescimento. O PIB caiu
-0,51%, contrariando todas as estimativas do “mercado” que, em média, previa um
crescimento de 0,3%. Ninguém publicou este número. Também não se falou que as
vendas no comércio varejista, neste mesmo mês, caíram -0,1% no varejo restrito
e -0,7% no varejo ampliado (que inclui automóveis e materiais de consumo),
dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) publicados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE)
Se considerarmos que os investimentos do
governo estão caindo (fruto da austeridade) e que os privados não se realizam
(consequência da crise) está difícil ver a decolagem da economia. O comércio
exterior ajuda mas não é suficiente. Todos os economistas sabem que os
investimentos são os grandes responsáveis pela retomada de qualquer economia.
Não temos, portanto, elementos que apoiem
as teses do desmoralizado governo Temer.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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