quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Profundidade da Crise

Semana de 16 a 22 de março de 2009

Enquanto aguardamos a chegada ao fundo do poço e a retomada do crescimento, que a ela seseguirá, assistimos, dia após dia, uma avalanche de dados e informações sobre a situação econômica global, permeada por expectativas de uma taxa de crescimento cada vez menor, tanto para os países avançados, como para os países emergentes. A acelerada dinâmica de aprofundamento da crise dificulta significativamente a mensuração das perdas já ocorridas até agora, fazendo com que os números e cifras estejam sendo constantemente revisados. Não se sabe com exatidão o total dos prejuízos que os bancos obtiveram até o momento, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que as baixas contábeis das instituições financeiras se situam em torno de US$ 2,2 trilhões. Dos 3 trilhões de dólares em títulos de alto risco que existiam no mercado imobiliário dos Estados Unidos, apenas 1 trilhão foram contabilizados como perda, os outros 2 trilhões em papéis ainda estão à espera de uma operação de resgate, como a que foi recentemente anunciada pelo Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos), na qual serão injetados 1 trilhão de dólares no mercado imobiliário, para a compra de títulos que já não valem nada e que de outra forma teriam de ser computados como perdas.
Diferentemente dos bancos norte americanos e europeus, os bancos brasileiros parecem não sentirem os impactos da crise. De acordo com cálculo divulgado pela consultoria Economática, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco estão entre os cinco mais lucrativos das Américas. As três instituições ganharam espaço em relação ao ano passado, quando nenhuma delas aparecia entre as cinco primeiras do ranking. A revista Economist, declarou que os bancos HSBC e Citibank, que enfrentam problemas no resto do mundo, vão bem no Brasil, o que mais uma vez demonstra o privilégio e as vantagens que o capital financeiro encontra a sua disposição neste país.

Na Europa os números apontam um forte impacto negativo na produção industrial, que em janeiro registrou uma redução de 17,3% em comparação com igual período do ano passado. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, em matéria publicada no dia 21 de março, esta queda na produção industrial lembra a grande depressão, iniciada com o estouro da bolsa de Nova York em 1929. De fato parece haver alguma semelhança!



Produção industrial para países selecionados (*)

* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

No campo das projeções, o Fundo Monetário Internacional (FMI), em sua mais recente previsão, divulgou que o PIB europeu deverá decrescer 3,2%, em 2009. O FMI prevê ainda uma contração de 0,6% no PIB mundial. A estimativa anterior do organismo, divulgada em janeiro, apontava um crescimento de 0,5% da economia mundial. Já o Banco Mundial, revisou novamente para baixo a sua expectativa para o crescimento do PIB chinês, que passou de 7,5% para 6,5%, devido à redução das exportações, decorrente da queda da demanda mundial, fator que prejudicou os investimentos e o mercado de trabalho da China.
No Brasil o mercado cortou pela metade sua expectativa para o crescimento do PIB, neste ano. De acordo com a pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central, a previsão agora é de um tímido crescimento de 0,59%. Uma semana antes se esperava um crescimento de 1,2%. Entre os mais pessimistas, em relação ao crescimento da economia brasileira, está o banco Morgan Stanley, que prevê um encolhimento de 4,5% no PIB do país, em 2009. Por outro lado, as perspectivas de inflação continuam recuando, convergindo em direção ao centro da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5%. A estimativa de variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), agora é de 4,52% no ano, frente à projeção de 4,57% na semana anterior. Isto ajuda a garantir a estabilidade monetária, palavra de ordem do Banco Central brasileiro, mas não o crescimento da economia.
Apesar das expectativas de crescimento, cada vez menores, o presidente Lula, na sua buscaincessante por tentar manter o clima de otimismo, declarou que “enquanto a maioria dos países ricos mergulha na recessão, o Brasil vai continuar crescendo” e afirmou que o Brasil foi o último país a sofrer com a crise e será também o primeiro a sair dela. Entre os argumentos que serviram de base à sua previsão, o presidente citou o aumento do consumo de gás natural, de energia elétrica e da criação de empregos, em fevereiro, o que assinalaria um quadro de retomada do crescimento.

Com esta perspectiva talvez o jornal “Estado de S. Paulo”, pudesse publicar uma nova matériaintitulada: Queda da indústria na Europa lembra a depressão. No Brasil se está tentando esquecer que ela existe. O Emprego formal voltou a crescer no mês passado, puxado pelo setor de serviços, mas apesar da criação de mais de nove mil vagas, este ainda é o pior resultado para os meses de fevereiro, desde 1999. No primeiro bimestre do ano, o emprego acumula uma queda de 0,29%. Nos últimos 12 meses o emprego no Brasil perdeu 700 mil vagas. Diante disto, utilizar um dado mensal como este para forçar uma conclusão da existência de uma tendência de crescimento, como se observa em algumas notícias, além de ser precipitado e pouco prudente é de extrema má fé e parcialidade.

Taxa de desemprego para países selecionados(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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