Semana de 23 a 29 de março de 2009
Absorvido o impacto causado pelas estatísticas do quarto trimestre de 2008, que mostraram uma situação preocupante, dois fatos marcaram a semana. O primeiro deles foi a divulgação dos resultados de uma sondagem de opinião que acusou uma queda na popularidade do governo. Embora ainda continue como o mais popular da história, a avaliação positiva (ótimo e bom) que representava 73% dos entrevistados, em dezembro, caiu para 64%, ou seja, uma queda de quase 10%. Por outro lado, a aprovação do presidente caiu de 84% para 78%. A crise e a ameaça de desemprego foram as principais causas apontadas pelas pesquisas. Finalmente, a população começa a descobrir os engodos que têm sido disseminados pelo Presidente Lula. O segundo acontecimento são os pronunciamentos do próprio presidente. O que causou mais comentários na imprensa internacional foi a responsabilização dos “brancos de olhos azuis”, pela crise. Mas o presidente, não satisfeito, em Pernambuco, foi mais além. Lá ele mudou de opinião reconhecendo que “existe uma crise e que ela é muito grave”, mas é como uma gripe. “Num cabra muito fino, deixa ele de cama. Num cabra macho ele vai trabalhar e não perde uma hora de serviço por causa de uma gripe”. E, depois de culpar “a irresponsabilidade do sistema financeiro internacional”, pela crise, ele apresentou sua proposta: “nós vamos enfrentar essa crise trabalhando, quanto mais crise, mais trabalho, quanto mais crise, mais investimentos”. Ele só esqueceu de dizer onde é que os desempregados vão trabalhar e quem fará os investimentos. Não explicou também porque, precisamente os criminosos por ele apontados, os bancos e os representantes do sistema financeiro internacional, são os mais favorecidos pela sua política econômica que garante, aos especuladores, as mais elevadas taxas de juros do mundo. Aliás, vale a pena uma correção. Não é a sua política econômica, mas a política econômica do governo anterior que ele aprimorou e ampliou. Em um seminário promovido pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), no dia 24 passado, velhos conhecidos como Gustavo Franco e Pedro Malan, fiéis servidores do governo FHC, cansaram de discursar reivindicando a autoria e elogiando a maestria com que o saudoso Antônio Palocci a aplicou.
Não há como deixar de comentar também a última operação da Polícia Federal e do Ministério Público que enviaram para a prisão doleiros e diretores da Camargo Correia por suspeita de fraude e evasão de divisas. É claro que o poder judiciário, como sempre, correu solícito para libertar os trambiqueiros e o Ministro Gilmar Mendes rapidamente se pronunciou contra as arbitrariedades da Polícia Federal. Desculpem-me os leitores, mas é impossível não levantar suspeitas sobre o comportamento do poder judiciário, no país.
As notícias econômicas que enchem os jornais continuam a confirmar o agravamento da crise, no país e no mundo.
No Brasil, a inadimplência subiu de 4,6%, em janeiro, para 4,8%, em fevereiro, e o consumo de energia elétrica, também em fevereiro, caiu de 4,4%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi o pior fevereiro desde 2002. No primeiro bimestre deste ano, em relação ao ano passado, as vendas de materiais de construção caíram 12%. Apenas em fevereiro, o faturamento do setor caiu 12,5%. Mais grave foi a queda no setor de máquinas. Ela atingiu 25,9%, no primeiro bimestre, em relação ao ano anterior e, só em janeiro, em relação a dezembro, a queda foi de 37,1%. Também no bimestre, o consumo aparente (vendas internas mais importação), caiu 9,4%. As dificuldades das empresas continuaram. Desta vez foi a Suzano Papel e Celulose que anunciou um prejuízo de R$ 451 milhões, em 2008.
Fonte: CNI - Indicadores Industriais
Em relação ao desemprego as demissões também continuaram. De janeiro para fevereiro, o desemprego aumentou de 1,3% com mais 229.000 desempregados, segundo dados do Dieese e da Fundação Seade. A percentagem da população economicamente ativa desempregada aumentou de 13,1%, para 13,9%. Em São Paulo, em fevereiro, a indústria cortou 27.354 postos de trabalho. As empresas que mais desempregaram foram as de médio porte. No bimestre, o estado já acumula 38.770 desempregados. É claro que, nessas horas, os empresários demitem os funcionários mais velhos, com maior escolaridade e principalmente com maiores salários. Empresas como a Bridgestone, além de criarem um programa de demissões voluntárias colocou 1.500 empregados em férias coletivas diante do aumento do estoque para 1,2 milhões de pneus. A Pirelli, também com seus depósitos cheios, resolveu reduzir durante dois meses a sua jornada de trabalho em 18% e os salários em 11%. Ela já havia concedido férias coletivas aos seus empregados desde 19 de fevereiro até 10 de março.
O Banco Central, em sua pesquisa sobre o humor do mercado, divulgou que os cem agentes consultados estimam, para o ano de 2009, um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,01% e que a produção industrial sofrerá uma retração de 2%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem opinião muito semelhante. Estima que o crescimento do país será zero e que a queda da produção industrial será de 2,8%. O nível de utilização da capacidade instalada que, em fevereiro de 2008, era de 81,9%, caiu para 77,6%. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também reduziu suas estimativas para o crescimento do PIB, de 1,9%, para 0,3%, enquanto aumentou a previsão da inadimplência de 4,9%, para 5,4%.
As medidas para enfrentar a crise, anteriormente chamada de marolinha, agora são tomadas às pressas. A proposta de construir um milhão de casas é uma delas. Embora não se saiba em quanto tempo e o plano não tenha saído do papel a propaganda já está nas ruas. A redução do IPI sobre materiais de construção vem no mesmo sentido. Também foi reduzido o IPI para a compra de veículos o que animou as vendas. O governo resolveu aumentar em duas parcelas o seguro desemprego o que ocorrerá já a partir deste mês.
No mundo, a situação também continua a se agravar. No Japão está prevista para o primeiro trimestre deste ano uma contração do PIB de 15,1%, o pior resultado desde 1945. A produção mundial da Toyota, em fevereiro, em relação ao mesmo mês do ano passado caiu 53%, a maior queda dos últimos 23 anos. A produção da Nissan Motor Co, a terceira maior montadora do país, caiu 51%. Ainda neste mês, as vendas despencaram nos seguintes ritmos: 40% na Toyota, 38% na Honda, 37% na Nissan. As exportações do país caíram, em fevereiro, 49,4% em relação a fevereiro de 2008. No terceiro trimestre do ano passado, o PIB caiu 12,1% e são esperados números ainda piores para o primeiro trimestre deste ano. Nos EUA, as vendas da General Motors caíram 53% e da Ford Motor, 48%. A gigante americana Nike, que é americana, mas não está nos EUA, pois tem 640 fábricas terceirizadas em todo o mundo (principalmente na China, Vietnã, Indonésia, Tailândia e Coréia do Sul), anunciou demissão de 1.400 empregados e cancelamento de encomendas em todo o mundo. A falida Ford que já vendeu as marcas Aston Martin, a Jaguar e a Land Rover agora negocia a venda da Volvo que igualmente vem registrando prejuízos.
No entanto, enquanto a crise abala os alicerces do mundo 25 grandes gestores continuaram a embolsar US$ 11,6 bilhões, entre os quais James H Simons ganhou US$ 2,5 bilhões, John A. Paulson embolsou US$ 2 bilhões e o conhecido George Soros, US$ 1,1 bilhão. Menos sorte tiveram os bilionários russos. Os 25 mais ricos do país perderam US$ 230 bilhões, no fim do ano passado. Oleg Deripaska, por exemplo, teve suas riqueza reduzida de US$ 28 bilhões, para modestos US$ 3,5 bilhões e Vladirir Potanin, dos US$ 19,3 bilhões que possuía, ficou com apenas US$ 2,1 bilhões. Além de provocar estas modestas perdas, estas épocas de crise expõem o lixo que existia debaixo do tapete. Em vários pronunciamentos o primeiro ministro britânico Gordon Brown, por um lado, e a ministra da Economia da Suíça, ajudada pelo presidente da Associação de Bancos Suíços e pelo secretário geral da Associação Suíça de Bancos Privados, trocaram acusações mútuas de abrigarem as maiores máquinas de lavagem de dinheiro sujo do mundo.
As notícias econômicas que enchem os jornais continuam a confirmar o agravamento da crise, no país e no mundo.
No Brasil, a inadimplência subiu de 4,6%, em janeiro, para 4,8%, em fevereiro, e o consumo de energia elétrica, também em fevereiro, caiu de 4,4%, em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi o pior fevereiro desde 2002. No primeiro bimestre deste ano, em relação ao ano passado, as vendas de materiais de construção caíram 12%. Apenas em fevereiro, o faturamento do setor caiu 12,5%. Mais grave foi a queda no setor de máquinas. Ela atingiu 25,9%, no primeiro bimestre, em relação ao ano anterior e, só em janeiro, em relação a dezembro, a queda foi de 37,1%. Também no bimestre, o consumo aparente (vendas internas mais importação), caiu 9,4%. As dificuldades das empresas continuaram. Desta vez foi a Suzano Papel e Celulose que anunciou um prejuízo de R$ 451 milhões, em 2008.
Fonte: CNI - Indicadores Industriais
Em relação ao desemprego as demissões também continuaram. De janeiro para fevereiro, o desemprego aumentou de 1,3% com mais 229.000 desempregados, segundo dados do Dieese e da Fundação Seade. A percentagem da população economicamente ativa desempregada aumentou de 13,1%, para 13,9%. Em São Paulo, em fevereiro, a indústria cortou 27.354 postos de trabalho. As empresas que mais desempregaram foram as de médio porte. No bimestre, o estado já acumula 38.770 desempregados. É claro que, nessas horas, os empresários demitem os funcionários mais velhos, com maior escolaridade e principalmente com maiores salários. Empresas como a Bridgestone, além de criarem um programa de demissões voluntárias colocou 1.500 empregados em férias coletivas diante do aumento do estoque para 1,2 milhões de pneus. A Pirelli, também com seus depósitos cheios, resolveu reduzir durante dois meses a sua jornada de trabalho em 18% e os salários em 11%. Ela já havia concedido férias coletivas aos seus empregados desde 19 de fevereiro até 10 de março.
O Banco Central, em sua pesquisa sobre o humor do mercado, divulgou que os cem agentes consultados estimam, para o ano de 2009, um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,01% e que a produção industrial sofrerá uma retração de 2%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem opinião muito semelhante. Estima que o crescimento do país será zero e que a queda da produção industrial será de 2,8%. O nível de utilização da capacidade instalada que, em fevereiro de 2008, era de 81,9%, caiu para 77,6%. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também reduziu suas estimativas para o crescimento do PIB, de 1,9%, para 0,3%, enquanto aumentou a previsão da inadimplência de 4,9%, para 5,4%.
As medidas para enfrentar a crise, anteriormente chamada de marolinha, agora são tomadas às pressas. A proposta de construir um milhão de casas é uma delas. Embora não se saiba em quanto tempo e o plano não tenha saído do papel a propaganda já está nas ruas. A redução do IPI sobre materiais de construção vem no mesmo sentido. Também foi reduzido o IPI para a compra de veículos o que animou as vendas. O governo resolveu aumentar em duas parcelas o seguro desemprego o que ocorrerá já a partir deste mês.
No mundo, a situação também continua a se agravar. No Japão está prevista para o primeiro trimestre deste ano uma contração do PIB de 15,1%, o pior resultado desde 1945. A produção mundial da Toyota, em fevereiro, em relação ao mesmo mês do ano passado caiu 53%, a maior queda dos últimos 23 anos. A produção da Nissan Motor Co, a terceira maior montadora do país, caiu 51%. Ainda neste mês, as vendas despencaram nos seguintes ritmos: 40% na Toyota, 38% na Honda, 37% na Nissan. As exportações do país caíram, em fevereiro, 49,4% em relação a fevereiro de 2008. No terceiro trimestre do ano passado, o PIB caiu 12,1% e são esperados números ainda piores para o primeiro trimestre deste ano. Nos EUA, as vendas da General Motors caíram 53% e da Ford Motor, 48%. A gigante americana Nike, que é americana, mas não está nos EUA, pois tem 640 fábricas terceirizadas em todo o mundo (principalmente na China, Vietnã, Indonésia, Tailândia e Coréia do Sul), anunciou demissão de 1.400 empregados e cancelamento de encomendas em todo o mundo. A falida Ford que já vendeu as marcas Aston Martin, a Jaguar e a Land Rover agora negocia a venda da Volvo que igualmente vem registrando prejuízos.
No entanto, enquanto a crise abala os alicerces do mundo 25 grandes gestores continuaram a embolsar US$ 11,6 bilhões, entre os quais James H Simons ganhou US$ 2,5 bilhões, John A. Paulson embolsou US$ 2 bilhões e o conhecido George Soros, US$ 1,1 bilhão. Menos sorte tiveram os bilionários russos. Os 25 mais ricos do país perderam US$ 230 bilhões, no fim do ano passado. Oleg Deripaska, por exemplo, teve suas riqueza reduzida de US$ 28 bilhões, para modestos US$ 3,5 bilhões e Vladirir Potanin, dos US$ 19,3 bilhões que possuía, ficou com apenas US$ 2,1 bilhões. Além de provocar estas modestas perdas, estas épocas de crise expõem o lixo que existia debaixo do tapete. Em vários pronunciamentos o primeiro ministro britânico Gordon Brown, por um lado, e a ministra da Economia da Suíça, ajudada pelo presidente da Associação de Bancos Suíços e pelo secretário geral da Associação Suíça de Bancos Privados, trocaram acusações mútuas de abrigarem as maiores máquinas de lavagem de dinheiro sujo do mundo.
Em um quadro como este quem irá investir seriamente e em que porta os desempregados deverão bater a procura de trabalho? Brilhante é a solução apontada pelo Presidente Lula para enfrentar a crise! Tudo é uma questão de macheza.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
Arquivo para download em formato pdf.
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Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira
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