Semana de 18 a 24 de maio de 2009
Os dados divulgados sobre a situação econômica brasileira, nos últimos dias, nos levam a observar o otimismo das fontes oficiais, em contraposição à prudência dos homens de negócio, na leitura dos indicadores econômicos. O otimismo foi puxado pelos ministros de Estado, em especial, o da Fazenda, Guido Mantega e do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Para Mantega, o país voltou a crescer, no segundo trimestre, e a recuperação será maior nos meses seguintes. Ele admitiu o quadro de recessão técnica, mas afirmou que, no segundo trimestre do ano, a economia já está retomando o crescimento. O ânimo das declarações teve origem nas informações acerca da abertura, em abril, de novos postos de trabalho (que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged - estima em cerca de 100 mil), na queda da taxa de juros, na elevação do nível de crédito e dos preços das commodities. Tais fatos positivos levaram o ministro a declarar que “ mais importante que a fotografia (negativa) da economia brasileira, no primeirotrimestre, é o filme de todo o ano de 2009”.
O resultado positivo divulgado no último Caged também foi comemorado pelo Ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. O ministro explicou que os números dos próximos meses serão melhores devido à recuperação da construção civil, beneficiada pelos programas do governo, e graças à ajuda da agricultura, setor que, juntamente com os serviços, mais contratou em abril.
No entanto, os dados econômicos divulgados no final de maio não apóiam este otimismo, pois apresentaram trajetória de crescimento observada no trimestre que se encerrou começou a ser suavizada. Além disso, os índices continuam a mostrar resultados inferiores aos do ano passado. Esta situação pode ser constatada na balança comercial e na arrecadação de tributos federais e nos dados do próprio Caged. O saldo positivo de 106 mil empregos, comemorado pelos ministros com o número de contratações maior que o de demissões (1,350 milhão contra 1,244 milhão, respectivamente), foi o melhor do ano, mas ficou bem abaixo do saldo de 294.522 postos de trabalho, apurado em abril de 2008. A recuperação do mercado de trabalho também não foi generalizada. Segmentos de extrativismo mineral, metalurgia e mecânica, registraram perda de unidades de trabalho, em relação a março.
As exportações brasileiras registraram queda de 18,1% em relação aos primeiros 90 dias úteis do ano, enquanto que as importações reduziram-se em 23,4%, comparado ao mesmo período de 2008. As principais quedas nas vendas externas foram de produtos semimanufaturados, básicos e manufaturados. Comprou-se menos adubo e fertilizantes, combustíveis, lubrificantes e equipamentos elétricos e eletrônicos.
A arrecadação de tributos e contribuições sociais da Receita Federal registrou a sexta queda mensal consecutiva. Em abril houve um avanço de 5,19%, em relação ao mês anterior, mas uma queda real de 6,48%, em comparação aos 12 meses anteriores. A perda de R$ 13,9 bilhões foi motivada pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), pela redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Cide, além da alteração da tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física.
Enquanto as autoridades faziam declarações otimistas, o setor industrial, porém, continuou cauteloso com relação aos próximos meses de 2009. A Companhia Vale do Rio Doce reduziu seu plano de investimentos, para este ano, em 36%. A indústria de autopeças, que fornece insumos para as montadoras de veículos, além de tentar diminuir custos, suspendeu alguns investimentos diante da expectativa de uma demanda menor nos mercados interno e externo. O presidente da ZF na América do Sul, Wilson Bricio, explica que, com o declínio da demanda dos caminhões nos últimos quatro meses e a elevação dos estoques de veículos, as montadoras pretendem rebaixar o volume da produção de carros comerciais no segundo semestre. Mário Buttino, presidente da Dura Automotive, é taxativo sobre a situação no setor de veículos: “Mesmo com a redução do IPI, o preço não é fator decisivo para a compra de um automóvel. A inadimplência está aumentando e quem comprou um carro não está conseguindo pagar”.
Pelo visto, o otimismo dos ministros está encontrando como resposta a cautela da experiência empresarial. Afinal, pouco adianta blefar, pois quem entende mesmo de capitalismo são os capitalistas.
A queda verificada na balança comercial brasileira, na verdade, faz parte do quadro de contração do comércio mundial e reflete o colapso na demanda de vários mercados. A Organização Mundial do Comércio (OMC) calculou que haverá neste ano uma redução de 9% no comércio internacional. Tal previsão pode ser verificada em notícias sobre o mau desempenho econômico dos países europeus, dos Estados Unidos e da Ásia, no primeiro trimestre de 2009.
O Produto Interno Bruto da zona do euro retraiu-se 2,5% (entre janeiro e março de 2009) em relação ao último trimestre de 2008. A Grã-bretanha, que não pertence a zona do euro, contraiu 1,9% na mesma base de comparação, considerada a pior queda desde 1979. Já a Rússia encolheu 9,5%, no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2008.
Martin van Vliet, economista do banco ING, embora reconhecendo que o bloco europeu ainda não atingiu o pico do desemprego, assegura que “o primeiro trimestre foi o pior em termos de declínio”.
Os Estados Unidos apresentaram a terceira queda consecutiva do PIB, pela primeira vez desde a recessão dos anos 1970. O México, seu vizinho, também viu seu PIB recuar no primeiro trimestre. A retração foi de 8,2%, em comparação com os 12 meses anteriores.
O desemprego, umas das maiores conseqüências sociais do quadro recessivo mundial, passou a ser o tema das grandes preocupações das nações. Os governos têm atuado de várias formas na tentativa de amenizar a situação.
Nos Estados Unidos, desde dezembro de 2007, o governo vem aumentando os postos de trabalho em seus quadros. Foram criados 244 mil cargos entre as administrações federal, estadual e municipal.
O interessante são as formas que as empresas japonesas encontraram para manter os funcionários ocupados. Passaram a cultivar hortas, em espaços ociosos das fábricas, ou a utilizar os trabalhadores para varrer ruas e recolher o lixo nos bairros.
Os trabalhadores temporários, no entanto, foram as primeiras vítimas das demissões. Isto atingiu particularmente os imigrantes, dentre os quais se encontravam os dekasseguis latino-americanos. Conforme estimativas do Sebrae e do Consulado do Japão, no Paraná, o número de brasileiros que ficaram sem emprego, no Japão, pode ficar entre 10 mil e 30 mil. Esse grupo de pessoas não teve outra alternativa senão aceitar os três mil dólares do governo japonês para retornar ao país de origem e nunca mais voltar para a terra do sol nascente.
Em tempos de crise, os bolsões de superpopulação relativa tornam-se tão incômodos que mais vale pagar para exportá-los. Os desempregados tornam-se assim um novo e exótico produto de exportação que é pago pelo vendedor.
Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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O resultado positivo divulgado no último Caged também foi comemorado pelo Ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. O ministro explicou que os números dos próximos meses serão melhores devido à recuperação da construção civil, beneficiada pelos programas do governo, e graças à ajuda da agricultura, setor que, juntamente com os serviços, mais contratou em abril.
No entanto, os dados econômicos divulgados no final de maio não apóiam este otimismo, pois apresentaram trajetória de crescimento observada no trimestre que se encerrou começou a ser suavizada. Além disso, os índices continuam a mostrar resultados inferiores aos do ano passado. Esta situação pode ser constatada na balança comercial e na arrecadação de tributos federais e nos dados do próprio Caged. O saldo positivo de 106 mil empregos, comemorado pelos ministros com o número de contratações maior que o de demissões (1,350 milhão contra 1,244 milhão, respectivamente), foi o melhor do ano, mas ficou bem abaixo do saldo de 294.522 postos de trabalho, apurado em abril de 2008. A recuperação do mercado de trabalho também não foi generalizada. Segmentos de extrativismo mineral, metalurgia e mecânica, registraram perda de unidades de trabalho, em relação a março.
As exportações brasileiras registraram queda de 18,1% em relação aos primeiros 90 dias úteis do ano, enquanto que as importações reduziram-se em 23,4%, comparado ao mesmo período de 2008. As principais quedas nas vendas externas foram de produtos semimanufaturados, básicos e manufaturados. Comprou-se menos adubo e fertilizantes, combustíveis, lubrificantes e equipamentos elétricos e eletrônicos.
A arrecadação de tributos e contribuições sociais da Receita Federal registrou a sexta queda mensal consecutiva. Em abril houve um avanço de 5,19%, em relação ao mês anterior, mas uma queda real de 6,48%, em comparação aos 12 meses anteriores. A perda de R$ 13,9 bilhões foi motivada pela isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), pela redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Cide, além da alteração da tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física.
Enquanto as autoridades faziam declarações otimistas, o setor industrial, porém, continuou cauteloso com relação aos próximos meses de 2009. A Companhia Vale do Rio Doce reduziu seu plano de investimentos, para este ano, em 36%. A indústria de autopeças, que fornece insumos para as montadoras de veículos, além de tentar diminuir custos, suspendeu alguns investimentos diante da expectativa de uma demanda menor nos mercados interno e externo. O presidente da ZF na América do Sul, Wilson Bricio, explica que, com o declínio da demanda dos caminhões nos últimos quatro meses e a elevação dos estoques de veículos, as montadoras pretendem rebaixar o volume da produção de carros comerciais no segundo semestre. Mário Buttino, presidente da Dura Automotive, é taxativo sobre a situação no setor de veículos: “Mesmo com a redução do IPI, o preço não é fator decisivo para a compra de um automóvel. A inadimplência está aumentando e quem comprou um carro não está conseguindo pagar”.
Pelo visto, o otimismo dos ministros está encontrando como resposta a cautela da experiência empresarial. Afinal, pouco adianta blefar, pois quem entende mesmo de capitalismo são os capitalistas.
A queda verificada na balança comercial brasileira, na verdade, faz parte do quadro de contração do comércio mundial e reflete o colapso na demanda de vários mercados. A Organização Mundial do Comércio (OMC) calculou que haverá neste ano uma redução de 9% no comércio internacional. Tal previsão pode ser verificada em notícias sobre o mau desempenho econômico dos países europeus, dos Estados Unidos e da Ásia, no primeiro trimestre de 2009.
O Produto Interno Bruto da zona do euro retraiu-se 2,5% (entre janeiro e março de 2009) em relação ao último trimestre de 2008. A Grã-bretanha, que não pertence a zona do euro, contraiu 1,9% na mesma base de comparação, considerada a pior queda desde 1979. Já a Rússia encolheu 9,5%, no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2008.
Produto Interno Bruto para países selecionados - 1º quadrimetre(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
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Martin van Vliet, economista do banco ING, embora reconhecendo que o bloco europeu ainda não atingiu o pico do desemprego, assegura que “o primeiro trimestre foi o pior em termos de declínio”.
Os Estados Unidos apresentaram a terceira queda consecutiva do PIB, pela primeira vez desde a recessão dos anos 1970. O México, seu vizinho, também viu seu PIB recuar no primeiro trimestre. A retração foi de 8,2%, em comparação com os 12 meses anteriores.
O desemprego, umas das maiores conseqüências sociais do quadro recessivo mundial, passou a ser o tema das grandes preocupações das nações. Os governos têm atuado de várias formas na tentativa de amenizar a situação.
Nos Estados Unidos, desde dezembro de 2007, o governo vem aumentando os postos de trabalho em seus quadros. Foram criados 244 mil cargos entre as administrações federal, estadual e municipal.
Taxa de desemprego dessazonalizada - Estados Unidos (Maio 2007-Maio 2009)(*)
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Por seu lado, o governo japonês resolveu oferecer subsídios às empresas, através de reembolsos, para ajudar no pagamento dos funcionários de maneira a evitar as demissões. Em março, perto de 48 mil empresas já pediram subsídios para 2,38 milhões de trabalhadores, incluindo grandes exportadoras, como a Nissan Motor e a NEC Eletronics. O montante de recursos para esses reembolsos já atinge 624 milhões de dólares neste ano. Esta solução é decorrente da cultura japonesa onde ainda existe o chamado “sistema do emprego vitalício”. Esta é uma das razões apontadas pelos analistas para explicar por que, em abril, a taxa de desemprego nipônica, de 4,8%, foi menor que a apresentada pelos Estados Unidos e Europa (8,9%), apesar de, no primeiro trimestre, a economia japonesa ter sofrido uma contração anualizada de 15,2%, considerada a pior, desde 1955.* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
O interessante são as formas que as empresas japonesas encontraram para manter os funcionários ocupados. Passaram a cultivar hortas, em espaços ociosos das fábricas, ou a utilizar os trabalhadores para varrer ruas e recolher o lixo nos bairros.
Os trabalhadores temporários, no entanto, foram as primeiras vítimas das demissões. Isto atingiu particularmente os imigrantes, dentre os quais se encontravam os dekasseguis latino-americanos. Conforme estimativas do Sebrae e do Consulado do Japão, no Paraná, o número de brasileiros que ficaram sem emprego, no Japão, pode ficar entre 10 mil e 30 mil. Esse grupo de pessoas não teve outra alternativa senão aceitar os três mil dólares do governo japonês para retornar ao país de origem e nunca mais voltar para a terra do sol nascente.
Em tempos de crise, os bolsões de superpopulação relativa tornam-se tão incômodos que mais vale pagar para exportá-los. Os desempregados tornam-se assim um novo e exótico produto de exportação que é pago pelo vendedor.
Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Jornalista, mestranda em Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. progeb@ccsa.ufpb.br
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