sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Recuperação Econômica em Xeque

Semana de 11 a 17 de janeiro de 2010

O processo de recuperação da atividade econômica mundial continua dando sinais de fragilidade e instabilidade, deixando dúvidas e gerando incerteza quanto à sua concretização ainda este ano. Dados dos países europeus mostram desaceleração no ritmo daquilo que muitos analistas já estavam considerando como uma retomada do crescimento. A Alemanha, uma das principais economias do continente Europeu, encerrou o ano de 2009 com uma contração de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB), a maior retração desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Tal resultado decepcionou aqueles que apostavam que o país assumiria a liderança da recuperação no continente. Assim como a Alemanha, importantes economias também registraram contração. A França, por exemplo, apresentou um recuo de 2,2% do PIB, a Espanha, 3,7%, a Holanda, 4,5%, o Reino Unido, 4,6% e Itália, 4,7%.
A forte dependência das exportações está entre os principais fatores que contribuíram para esse resultado. Com a redução da demanda global, significativamente puxada pelos Estados Unidos, que também fechou 2009 com retração de 2,5%, o comércio internacional perdeu volume. Na Alemanha, as exportações caíram 14,7%, e, com o mercado mundial em baixa, os investimentos foram reduzidos em 20%, em relação ao ano anterior. O elevado nível de desemprego impede o crescimento do consumo na Espanha, onde a taxa de desemprego atingiu a casa dos 18%, a mais alta entre os países da zona do euro.
Os pacotes e medidas de estímulo à economia não foram suficientes para aumentar o investimento e o consumo. Em grande parte, isso está relacionado ao fato destas medidas, na maioria das vezes, estarem voltadas para o socorro às instituições financeiras em dificuldades. Os recursos foram injetados nos mercados para a aquisição de ativos financeiros “podres”, salvando assim capitais especulativos, mas deixando de lado maiores incentivos ao poder de compra da população, substancialmente enfraquecido pela crise econômica.  Em países como o Brasil, a criação de empregos permanece sendo puxada por setores como a Construção Civil, no qual os salários são relativamente mais baixos e o nível de qualificação exigida é menor. Em novembro do ano passado, o setor contratou 23,7 mil novos empregados.
No Brasil, comparando-se com o ano anterior, as exportações também diminuíram em 2009, apresentando queda de 29,38%, e a produção industrial do estado de São Paulo teve uma variação negativa de 0,1%. A apreciação da taxa de câmbio brasileira, além disso, continua comprometendo as vendas dos produtos nacionais no mercado externo. Segundo pesquisa da Bloomberg envolvendo 51 moedas, o real foi a moeda que mais se valorizou no ano passado. Estimativas do Banco Central (BC) indicam que a taxa de câmbio brasileira subiu mais de 40% desde dezembro de 2003, o que está fazendo com que a autoridade monetária continue comprando dólares no mercado de câmbio. Somente no início de janeiro, as compras somaram US$ 783 milhões. Com isso, as reservas internacionais alcançaram a cifra de US$ 240 bilhões.
O relatório Focus, publicado pelo Banco Central (BC), já prevê um déficit de mais de US$ 40 bilhões em transações correntes. Além disso, o BC espera um ingresso líquido de USS$ 45 bilhões correspondentes aos investimentos estrangeiros diretos. Caso o BC aumente a taxa de juros, como apostam os analistas, a entrada de capitais pode ser intensificada. Se essas expectativas estiverem corretas, isto pode dificultar a recuperação da economia brasileira. A cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), medida que foi tomada para conter a entrado de dólares no país, provocou apenas uma redução de 18% no volume de ações negociadas, segundo pesquisa do banco BNY Mellon.
Quanto à a inflação, apesar de todo o alarde que se tem feito, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2009 com uma variação positiva de 4,31%, abaixo, portanto, do centro da meta do governo, que é de 4,5%. Essa é a menor taxa desde 2006. Os alimentos estão entre os produtos que registraram menor aumento de preço. Já nos Estados Unidos, os gastos crescentes do governo para recuperar a economia fizeram o déficit orçamentário subir para US$ 91,9 bilhões. O país já acumula 15 meses consecutivos de déficits nas contas, nos quais se incluem todos os meses do atual ano fiscal, que se encerra em setembro. As contas devem ficar negativas em US$ 1 trilhão, e a atividade econômica ainda permanece em níveis baixos, como divulgou o Federal Reserve, banco central norte-americano, em seu relatório.
O processo de recuperação da economia e dos mercados globais, como já se esperava, está se mostrando bastante complexo e instável, desenrolando-se num ritmo lento e sendo influenciado por medidas que garantem apenas um ânimo momentâneo às economias, mas que não são suficientes para resolver, nem os problemas criados, nem os que foram aprofundados pela crise econômica, como é o caso de desemprego.


Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira 

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