O mercado aguardava com ansiedade esta semana pela decisão do Copom em relação à nova taxa de juros e pelos novos números da atividade econômica no segundo trimestre.
Sem surpreender, o Copom manteve a taxa de juros em 10,75% sem viés. Não viu ameaça de aceleração da inflação e justificou dizendo que “... neste momento, a manutenção da taxa de juros básica no nível estabelecido em sua reunião de julho proporciona condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas."
Embora não tenha surpreendido, o Comitê continuou sendo criticado pelas associações industriais. Segundo o presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, a próxima ata do Copom deveria começar com a frase: "Desculpem, mas erramos", em virtude das altas anteriores que o mesmo considerou como desnecessárias. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI), através de nota, declarou esperar a retomada dos cortes já na próxima reunião.
A decisão do Copom sempre produz ganhadores e perdedores. Os que recebem rendimentos financeiros são os ganhadores, já os que utilizam o crédito e fazem a economia crescer perderam mais uma vez. Mesmo criticando a decisão, os que bebem do mercado financeiro continuam auferindo rendimentos altíssimos, já que o Brasil continua liderando o ranking dos juros reais mais altos do mundo, à frente da África do Sul e da Rússia. Entre as primeiras 40 economias do mundo, 26 estão adotando taxas de juros negativas.
Mesmo assim, “apreensivas” com a decisão, empresas ligadas ao mercado financeiro criticaram o Copom. André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, por exemplo, declarou que o Banco Central errou a mão, pois se o colegiado tivesse aumentado em 0,5 ponto percentual a taxa, a transição para o próximo governo seria mais tranqüila. Prevalece a visão de que o Banco Central perdeu o “foco”, já que a atividade continua aquecida.
O crescimento da economia, que, no primeiro trimestre, havia sido de 2.7% em relação ao trimestre anterior, caiu para 1,2% no segundo trimestre, em relação ao primeiro. A agropecuária contribuiu com um crescimento de 2,1%, a indústria, 1,9% e os serviços, 1,2%. Em valores correntes, o PIB alcançou, no segundo trimestre, R$ 900,7 bilhões
Diante destes números, a decisão do Copom tem sido bastante criticada. Embora Henrique Meirelles sustente que o diagnostico do Copom está certo, acabou não sendo convincente. Otimista, o ministro da Fazenda divulgou esperar um crescimento de 7 % no PIB este ano e enalteceu o que chamou de neodesenvolvimentismo, a busca do crescimento forte e sustentável, que, segundo ele, ajudou o Brasil a enfrentar a crise e retomar o crescimento.
Em relação à recuperação mundial, só a Alemanha, embora timidamente, está festejando o crescimento de 2,2% no segundo trimestre, impulsionado pela demanda externa, principalmente da China. Alguns setores, segundo o governo, já estão no limite de sua capacidade produtiva e grandes empresas caminham para a divulgação de lucros recordes.
O Japão colocou à disposição da população ¥10 trilhões (US$ 118 bilhões) para financiamentos, com taxas baixas, e ¥920 bilhões em estímulos à economia. Mas, economistas advertem que tais medidas podem não reverter a confiança dos japoneses, influenciada pela desaceleração interna, risco de queda da economia dos EUA e valorização do iene. Para o segundo trimestre, espera-se que a economia do país cresça apenas 0,4%.
A economia americana, por sua vez, continua agonizando. Em julho, as vendas de casas usadas caíram 27% e as de casas novas, 12%. O governo estuda um programa emergencial para financiar o setor. O Departamento do Comércio, para o segundo trimestre do ano, revisou sua estimativa de crescimento do PIB de 2,4%, para 1,6%. O presidente do Fed, Ben Bernanke, após a divulgação dos novos números da atividade econômica, declarou que a instituição está preparada para evitar uma segunda recessão. Embora não tenha especificado que medidas serão adotadas, além da recompra de papéis do governo, espera-se uma redução dos juros dos empréstimos para o consumo, cortes nos impostos para a classe média, desenvolvimento de energia limpa e maiores gastos em infraestrutura.
Além da incerteza associada à economia americana, um forte indício da fragilidade da recuperação econômica mundial é o crescimento vertiginoso das aplicações vinculadas ao ouro. Segundo a Bloomberg, o metal registrou a 10ª alta consecutiva dos preços (valorização de 13% desde janeiro) e o montante representado pelas negociações (278 toneladas) encheria em duas vezes as caixas-fortes da Suíça. George Soros, grande investidor do mercado financeiro, vê o investimento como alternativa à crise e o descreve como a “bolha definitiva”.
Texto escrito por:
Rosângela Palhano Ramalho: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (progeb@ccsa.ufpb.br)
0 comentários:
Postar um comentário