sábado, 18 de setembro de 2010

Qual a verdadeira política econômica do governo?

Semana de 06 a 12 de setembro de 2010


Está a caminho uma nova onda de valorização do real, a moeda que mais ganhou força ante o dólar até agora entre os grandes países. O Banco Internacional de Compensações (BIS) mostra que o fluxo de capitais para os emergentes continua intenso, com a consequente apreciação das moedas.

As estimativas são de valorização de 33,6% do real entre janeiro de 2009 e julho deste ano, enquanto a rupia, da Índia, subiu 12,7% e, na China, o yuan, sob forte controle, caiu 2,5%. Isto se deve ao aumento das operações chamadas de “carry trade”, que são a preferência dos “investidores” por aplicações nas economias, que têm altas taxas de juros, ao invés de aplicarem nos países desenvolvidos à baixas taxas.

Essas entradas de capitais nas economias emergentes causam volatilidade no câmbio e trazem sérios dilemas à política econômica. O Banco Central (BC) do Brasil entrou no jogo do mercado de câmbio e, com atuações diárias, tenta controlar a desvalorização do dólar. As expectativas envolvendo a oferta de ações da Petrobras e a retomada das captações externas por bancos e empresas ajudaram o dólar comercial a romper o "piso informal" de R$ 1,75, que prevaleceu por quatro meses.

O processo de valorização do real frente ao dólar deverá arrefecer a partir de outubro, após a conclusão do processo de capitalização da Petrobras. A previsão foi feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que garantiu que o governo federal tomará todas as medidas necessárias para conter uma eventual nova onda de alta do real. "Não permitiremos a valorização da moeda brasileira", afirmou. Mantega acredita que o déficit em conta corrente do país fechará este ano entre US$ 48 bilhões e US$ 50 bilhões, o que representará cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2010. Apesar disso, ele avalia que o déficit "não é preocupante, mas merece atenção".

Contradizendo o Ministro, a participação dos importados no consumo aparente do Brasil voltou ao nível pré-crise. No segundo trimestre de 2010 o coeficiente de importação atingiu 20,7%, índice recorde na série trimestral levantada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) desde 2006. O índice praticamente repete os 20,5% de coeficiente de importação do terceiro trimestre de 2008, antes da crise financeira passar para o lado real da economia brasileira.

Não faz sentido esperar que o Banco Central trabalhe pela valorização do dólar. A taxa de câmbio baixa é importante para ele, pois ameniza a alta das commodities e o impacto disso na inflação, mas quem leva a fama de boa moça é a política monetária, a qual se atribui o mérito de domar a inflação com altas taxas de juros.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, em agosto, mostrou um panorama tranquilo. O índice ficou próximo de zero, subindo apenas 0,04%. Em 12 meses, o IPCA passou a acumular alta de 4,49%, percentual quase idêntico ao centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, e a menor variação nessa base de comparação desde os 4,31% de dezembro de 2009.

Para o Banco Central, há um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria consistente com a trajetória de metas. Esse movimento, segundo o BC, é causado pela reversão de parcela substancial dos estímulos introduzidos durante a crise financeira internacional e também pelo ajuste da taxa básica de juros implementado desde abril. Outro aspecto relevante é a probabilidade de desaceleração, e até mesmo de reversão, do já lento processo de recuperação das grandes economias, com influência desinflacionária sobre a trajetória dos preços domésticos.

Mesmo com as previsões de um cenário benigno para a inflação, para os economistas do mercado financeiro, que esmiuçaram a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), as ponderações do BC sobre o juro neutro (suficiente para manter a inflação na meta sem atrapalhar o crescimento econômico) como o ponto central, sinalizam que a manutenção da Selic em 10,75% ao ano será prolongada.

Cabe lembrar que o discurso oficial é de que não existe meta cambial, mas meta de inflação. No entanto, uma coisa é o discurso, outra, a prática.


Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo
: Professora do Departamento de Tecnologia e Gestão Pública do CTDR/UFPB, Doutoranda em Economia pelo PIMES/UFPE, Pesquisadora do PROGEB. www.progeb.blogspot.com.
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