Fim de ano, fim de mandado político no executivo. Trata-se de uma época de balanço sobre o que foi feito e o que virá. Notícias sobre diminuição do desemprego, aumento do consumo e do Produto Interno Bruto (PIB) evidenciam que o ano foi bom. Contudo, problemas e gargalos insistem em povoar este cenário de “paraíso”.
Aumentam as já famosas preocupações do governo com escalada da inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA, no acumulado de onze meses, encontra-se em 5,25%, acima do centro da meta, 4,25%. Para dar resposta ao cenário de cautela, o Comitê de Política Monetária (Copom), em sua última ata, anunciou a adoção “medidas macroprudenciais”, ao invés de utilizar o aumento da taxa básica de juros, a Selic. Tais medidas, abrangidas pelo neologismo adotado, significaram o aumento dos depósitos compulsórios e a contenção da oferta de crédito. Segundo o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, elas equivalem a um aumento de um ponto percentual na Selic.
Segundo a ata do Copom, os preços livres, como de alimentos e bebidas, foram os responsáveis por puxar o índice de inflação para cima. Diante deste fato e da teoria que sempre norteia as decisões da entidade, era de se esperar uma ação do gênero. Embora tenha tentado ludibriar a todos com um tipo diferente de política monetária contracionista, as conseqüências das medidas tomadas pela entidade pouco diferem das que são provocadas pelos aumentos da Selic levados a cabo através do gerenciamento diário de liquidez.
Não se sabe se as medidas apelidadas de macroprudenciais também terão macro resultados. A próxima reunião do Copom será entre os dias 18 e 19 de janeiro de 2011. Até lá, talvez saibamos se a expressão veio pra ficar, ou se será apenas mais uma formulação eloquente no repertório inventivo que caracterizou a era Lula.
Como vínhamos informando em análises passadas, é incerto o nível do crescimento da economia brasileira no próximo ano. Agora foi a vez da Confederação Nacional da Indústria (CNI) projetar desaceleração da economia para 2011. Logo, será complicado, para a nova gestão federal, manter, em 2011, o resultado do PIB de 2010, em torno de 7,6%, segundo estimativas do governo. Analistas da CNI estão prevendo que o PIB cresça 4,5% em 2011.
Um fato que deveria estar preocupando o governo e, no entanto, parece estar passando despercebido, é o fenômeno da desindustrialização, ao qual já nos referimos em análises anteriores. A indústria de transformação, por exemplo, vem, desde 2005, diminuindo sua participação no valor adicionado do país, enquanto a de outros segmentos, como o de serviços e de extração mineral, vem aumentando. Segundo dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), na década de 1970, a participação deste setor era de 30%. Atualmente este número caiu para 24%.
Já demonstramos em análises anteriores o que está por trás de tal fenômeno. Isto fica mais visível ainda quando tomamos conhecimento do que ocorre atualmente com a balança comercial da indústria de transformação. Enquanto esta apresentava um superávit de US$30 bilhões, no ano corrente, de janeiro a setembro, o déficit chega a US$25,8 bilhões. Para Nelson Marconi, economista e professor da FGV-SP, “há um aumento muito forte de importação de componentes e de bens finais, o que afeta a produção local desses produtos”.
Desta forma, se o novo governo, assim como o anterior, planeja dar vida longa ao Saci Macroeconômico, apesar dos malefícios que esta política monetária traz ao país, nós brasileiros nos assemelharemos a policiais que perseguem um fugitivo invisível equipados com um carro sem motor! Mas, a despeito das péssimas notícias que trazemos, desejamos a todos um feliz natal e um próspero ano novo!
Texto escrito por:
Maria Carolina Costa Madeira: Analista do Ministério da Pesca e Aquicultura, mestre em economia pela UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb. (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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