sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Trocar seis por meia dúzia

Semana de 06 a 12 de dezembro

O ambiente econômico internacional continua hostil apesar do derramamento de trilhões de dólares feito pelos bancos centrais em todo o mundo. Os dados continuam a surpreender. Em um relatório publicado pelo Banco Central dos EUA, o Federal Reserve Bank (Fed), no dia 1 de dezembro passado, foram listadas 21 mil operações de socorro efetuadas pela entidade, não só a instituições do país, mas a bancos de todo o mundo. Os valores são espantosos e são de uma fonte oficial. O Citigroup obteve US$ 2,2 trilhões em empréstimos. O falido Merrill Lynch, comprado pelo Bank of America, abocanhou US$ 2,1 trilhões. Ao Morgan Stanley coube US$ 2 trilhões, e mesmo o fanfarrão Goldman Sachs levou US$ 615 bilhões. Mas as instituições estrangeiras também foram agraciadas. O Banco Central Europeu (BCE) usou US$ 8 trilhões, o Banco da Inglaterra satisfez-se com US$ 918 bilhões, o UBS suíço levou apenas US$ 161 bilhões, o Barclay’s britânico, US$ 231 bilhões e muitos outros, como o Deutsche Bank, o Royal Bank of Scotland, o Dresdner Kleinwort, etc. também levaram seus presentes.

Apesar desta farra, a situação continua a se arrastar. Nos EUA, o Fed mantem o programa de comprar US$ 600 bilhões em títulos de empresas em dificuldades, e o governo implementa um pacote de mais US$ 900 bilhões de novos gastos e reduções de impostos. Na União Europeia, os ministros das finanças descartaram novos pacotes de intervenção diante da ação do BCE, que mantém a compra dos títulos dos países em dificuldades como Portugal, Espanha, Itália, além dos 85 bilhões de Euros já concedidos à Irlanda. Apesar de tudo isto, a previsão de crescimento na zona do Euro, para 2010, não ultrapassa 1,7%.

Diante deste quadro as empresas multinacionais, prevendo a retração dos mercados com os cortes nos orçamentos e demissões, reduzem suas metas de produção alimentando o pessimismo geral que começa a contagiar as autoridades brasileiras.

Com efeito, a euforia no Brasil começa a dar sinais de esgotamento. Embora as autoridades tentem disfarçar, o terceiro trimestre de 2010 já será de desaceleração, e, neste quadro, as medidas anunciadas pelos novos ministros da área econômica representam mais algumas pás de terra no caixão da recuperação nacional tão cantada e já em processo de putrefação. Como denunciamos em análises anteriores, agora fica claro o caráter eleitoreiro das medidas adotadas pelo governo Lula no presente ano. Já havíamos afirmado que o Brasil sozinho não conseguiria sair da crise e que a recuperação iniciada não seria sustentável. Também elogiamos a competência do Ministro Mantega na condução da política econômica seguindo a cartilha anticíclica keynesiana. Mas a euforia chegou ao fim. Os recursos injetados na economia, em boa parte, estão sendo drenados para o exterior, pois as necessidades do consumo acrescidas pelas medidas de estímulo adotadas estão sendo supridas pelas importações e não pela produção nacional, graças à poderosa ajuda da política monetária que valorizou o real frente ao dólar. Por outro lado, as desonerações fiscais, os subsídios e os juros bonificados e o aumento das despesas públicas ameaçam quebrar o Estado cujo rombo vem sendo escondido por manobras contábeis escusas.

Convencido que a situação é insustentável, e uma vez passadas as eleições, é necessário mostrar a verdadeira cara. E mais ainda porque os que chegam ao poder são os mesmos que lá estavam, ou seja, já têm as mesmas caras. Trocamos seis por meia dúzia. Os partidos são os mesmos e os ministros, são os mesmos ou parecidos. Como as próximas eleições estão distantes, está na hora de comer a banda podre: o arrocho que havíamos anunciado chegou. O pretexto, para variar, continua o mesmo: o fantasma da inflação. E para esta doença, o Ministro Mantega não tem remédio, pois, no receituário keynesiano, há uma abundância de infusões anticíclicas, mas nada para a inflação. Ela não esteve nas preocupações de Keynes que, por isso, deixou os seus seguidores órfãos. Na ausência de conselhos, eles adotam as mesmas soluções neoclássicas que partem da lei da oferta e da procura como causa da doença.

Uma coisa temos que reconhecer: mudaram o tipo de aspirina para atacar o mal. Desta vez não aumentaram os juros (o Copom manteve a Selic nos 10,75%), mas adotaram uma série de medidas para reprimir o consumo, como o aumento do depósito compulsório, as restrições aos financiamentos, a redução dos prazos e a obrigação de pagamento de entrada, etc. Distribuíram a renda, mas agora querem impedir o povo de consumir.

Texto escrito por:

Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

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