sábado, 14 de maio de 2011

Novamente a inflação...

Semana de 02 a 08 de maio de 2011

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor.

Ao observar a situação atual da nossa economia, é impossível falar sobre outro tema que não a inflação, problema que agora incomoda, não só o Brasil, mas a maioria dos países. Este é um dos assuntos econômicos mais discutidos no momento. A Odisséia Brasileira continua. Com o novo aumento da taxa de juros, o Banco Central declarou adotar “uma nova estratégia” (?) para o controle inflacionário. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, reconheceu que as medidas adotadas nos últimos três meses ainda não surtiram efeito e, por via das dúvidas, resolveu aplicar a velha receita.

Os números demonstram isso. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 6,51%, no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IBGE. O resultado é maior que os 4,5% (centro da meta) e ultrapassa mesmo o teto de 6,5%. As projeções para o índice de inflação oficial não param de crescer. Pela oitava vez consecutiva, o Boletim Focus, do Banco Central, aponta tendência de alta do indicador que deve fechar o ano em 6,37%.

“A inflação não é de demanda”, disse a presidente. E os representantes do Banco Central passaram a admitir que a inflação é provocada por múltiplos fatores: fatores ligados à pressão da demanda, principalmente através dos preços dos serviços, e outros ligados à alta dos alimentos e da energia. Novamente, os preços administrados voltam a influir. Percebendo isto, a presidente Dilma “convidou” o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e o diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hubner, para que explicassem o alto valor das tarifas de energia elétrica e solucionassem o problema.

O governo atira para todos os lados. Encomendou um estudo sobre a indexação, para verificar como a inflação futura é influenciada pela inflação passada. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, num encontro com representantes da iniciativa privada, pediu ajuda para conter o fenômeno, solicitando aos empresários que evitem os aumentos de preços. Mas a resposta que recebeu foi a de que o governo precisa apresentar contrapartidas através da desoneração tributária. Outra proposta foi feita aos bancos: o ministro pediu que as instituições destinassem um total de R$ 2 bilhões, de suas carteiras de crédito, para financiar empreendimentos de pequeno porte.

Neste sufoco, uma outra notícia desagradou o governo. O PIB industrial nos três primeiros meses do ano será de aproximadamente 1%, a atividade da indústria cresceu 2%, em fevereiro, comparado a janeiro, e de 0,5%, em março, em relação a fevereiro. E o crescimento da indústria de bens de capital foi de 2,2%, em fevereiro e 3,4%, em março.

Mas o governo tenta acalmar os agentes econômicos. Segundo Tombini (presidente do BC) é possível crescer com inflação, desde que esta seja domada. Há muito se fala do trade-off entre inflação e crescimento. Delfim Netto, brilhantemente mostra que, quando a realidade se afasta das previsões teóricas feitas por certas correntes de pensamento, os economistas passam a ver, com perplexidade, a não funcionalidade dos modelos macroeconômicos utilizados há mais de 20 anos. Segundo ele, a idéia de que existe um produto potencial é defendida como verdade absoluta e ajustada às funções de produção sob condições tão restritivas e “sempre convenientemente ignoradas”. São as conclusões deste modelo que embasam todas as decisões da política econômica.

Coube a Dilma lidar com esta realidade adversa. Enquanto o governo colhe os frutos amargos da herança maldita, deixada pelo governo anterior, o ex-presidente Lula vive seus momentos de celebridade e colhe (em dinheiro) os doces frutos pós-mandatos. O Bank of America Merril Linch comemorando, na Casa Fasano, em São Paulo, a autorização que lhe foi concedida, pelo Banco Central, para atuar como banco múltiplo no Brasil, convidou o ex-presidente para proferir uma palestra para a nata do empresariado nacional. Ganhando cachê de aproximadamente R$ 200 mil por uma hora de discurso, Lula encantou a platéia que tinha na primeira fila o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. E improvisou, como de praxe... Num desses improvisos desafiou o público: “eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato.”

No meio de tão seleto público, não houve manifestações contrárias numa tácita e unânime concordância.

Saudemos, pois, o governo dos trabalhadores!



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

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