sexta-feira, 20 de maio de 2011

O mundo procura os culpados e o Brasil convive com a desconfiança

Semana de 09 a 15 de maio de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

Realmente, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central do Brasil, tem razão ao dizer: “a inflação é um problema do mundo inteiro”. Essa realidade obriga os países mais afetados a encontrar os culpados da globalização da inflação.

Para o Banco Internacional de Compensação (BIS), uma espécie de “banco dos Bancos Centrais”, o problema do aumento generalizado dos preços origina-se nos países emergentes, que estão exportando inflação para os países desenvolvidos. Segundo alguns analistas, como Patrick Artus, do Banco Natixis de Paris: “o ciclo inflacionário não é mais resultado do ciclo econômico dos desenvolvidos, e sim do ciclo dos emergentes”. Com esta constatação, o BIS cobra dos países emergentes, uma maior taxa de juros e um corte nos gastos públicos para ajustar a inflação deles e também dos países desenvolvidos. De fato, na opinião de grande parte dos países desenvolvidos, a alta dos preços em seus próprios mercados é alimentada pela alta demanda dos emergentes por matérias-primas.

Do lado dos emergentes, as autoridades chinesas, na tentativa de diagnosticar o fenômeno inflacionário, responsabilizam a política monetária frouxa dos EUA e de outros países. Seguindo argumento semelhante, no Brasil, Alexandre Tombini volta a destacar as pressões sobre a inflação provocadas pelos fluxos de capitais excessivos nas economias emergentes e aproveita para reclamar do tratamento diferenciado do FMI ao lidar com os países que originam os fluxos de capitais. Esses capitais são apontados como responsáveis pela liquidez excessiva existente nos países receptores, que enfrentam a entrada de enormes volumes de capital volátil. Na tentativa de explicar a ineficiência das medidas tomadas, até o momento, o presidente do Banco Central argumenta que o imenso fluxo de dólares, que entra no país, gera expansão do crédito, alimentando a demanda e neutralizando os efeitos das políticas monetárias e fiscais. Outro argumento usado por ele, para justificar os fracos resultados obtidos, é que a política monetária tem defasagens de seis a nove meses para apresentar resultados.

Em meio às “desculpas” e aos dilemas em relação aos fatores que afetam a inflação brasileira, que foram destacados em análises anteriores, o governo continua sua tentativa de manter a credibilidade de suas medidas econômicas contra a inflação e declara, em alto e bom som, que o pior da inflação passou, já que a partir deste mês as taxas serão mais confortáveis e a inflação, em 2012, convergirá para o centro da meta que é de 4,5%. Mas, destaca que ainda é possível um aumento inflacionário no último trimestre do ano, que, no entanto, será temporário e sazonal.

Porém, este discurso não está convencendo. Os Índices de Preço mostram pouca alteração, em maio, mesmo com as projeções de redução no ritmo de crescimento da economia. Os analistas de mercado não estão otimistas com a economia brasileira para os próximos meses. Para alguns, como Ilan Goldfajn, economista-chefe no banco Itaú Unibanco, nestes meses, a redução da inflação é que terá caráter temporário e não o seu aumento no fim do ano: “Parte relevante desta desaceleração reflete fatores temporários, como reversão de fatores específicos e não altera nosso balanço de riscos para a inflação nos meses subseqüentes”. Este banco elevou a previsão de inflação, para 2011, de 6,3%, para 6,5%. Até os Fundos de Ações estão preferindo, em vez de “investir”, deixar o dinheiro “em caixa”, pois avaliam que o cenário atual exige cautela e que os preços de determinados ativos não valem o risco do investimento. Eles seguem os conselhos do mega investidor americano Warren Buffett: “não gostamos de ter dinheiro em caixa, mas também não queremos fazer coisas estúpidas”.

Diante da prioridade mundial de encontrar os culpados, o governo brasileiro continua a “atirar para todos os lados”, também procurando culpados, só que se esquecendo de um lado. Mesmo sabendo que os preços administrados, aqueles que estão sob o controle do governo, responderam por 33,9% da alta do IPCA, entre o mês de janeiro e abril deste ano, o governo se nega a discutir o aumento das tarifas públicas.

Até onde e quando irá a incoerência?



[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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