sexta-feira, 6 de maio de 2011

A bola de cristal

Semana de 25 de abril a 01 de maio de 2011

Lucas Milanez de Lima Almeida(*)

Caro leitor.

Em uma das análises de setembro de 2009 fizemos a seguinte pergunta: “Com quantas letras se faz uma crise?” Nós mesmos respondemos, quando chegamos à conclusão de que a trajetória futura da atividade econômica corresponderia ao formato de um W, como consequência das intervenções governamentais de trilhões de dólares, que levaria a economia para cima, e do inevitável esgotamento dessa política, que deixaria a economia ir abaixo. Na época afirmamos que o crescimento do PIB de 2010 seria pequeno. Não contávamos com o esforço do então presidente Lula para eleger sua sucessora, o que foi possível com uma política econômica expansionista. Também subestimamos os limites da intervenção mundial. O resultado, todos sabem, foi o expressivo crescimento de 7,5% do PIB brasileiro, enquanto o PIB das economias emergentes e em desenvolvimento cresceu 7,3%, o das economias avançadas, 3% e o do mundo, 5%.

Mas, vejamos o que está acontecendo agora na economia.

A Sondagem Industrial da CNI mostrou que, no primeiro trimestre de 2011, oito setores apresentaram queda na produção. A utilização média da capacidade instalada manteve-se, há quatro meses, abaixo do normal, sendo que no mês passado ficou em 74%. Segundo a pesquisa, além da taxa de câmbio e da concorrência com os importados, os principais problemas enfrentados pelos empresários foram: as altas taxas de juros, a falta de demanda, a falta de capital de giro, a inadimplência dos clientes, o alto custo das matérias-primas, a carga tributária e a falta de financiamento de longo prazo.

Quem também não está feliz é o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço, que viu o nível dos estoques subir 8%, de fevereiro para março deste ano. A expectativa é de que, em abril, a elevação continue, já que o Brasil se tornou grande importador de produtos acabados em aço, tais como peças e componentes automobilísticos, eletrodomésticos, máquinas e equipamentos, etc., denotando o enfraquecimento da indústria local.

Quando se fala em comércio internacional, a indústria não tem do que se vangloriar. Pelo contrário, só tem do que reclamar. Em seu conjunto, o saldo comercial da indústria, no 1º trimestre de 2011, foi negativo em US$ 13 bilhões. De dez setores selecionados, oito apresentaram saldo negativo e sete diminuíram o uso médio da capacidade instalada. A causa deste desequilíbrio foi a desleal concorrência entre o preço do produto interno e do produto externo, que tem mais vantagem graças à valorização artificialmente do real.

Não é à-toa que os investimentos da indústria vão de mal a pior. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prevê uma redução de 4,7% nos investimentos do setor de transformação, em 2011, quando comparado ao que foi investido em 2010. Segundo a mesma pesquisa, um terço dos empresários não planeja investir este ano.

Isso se reflete na concessão de crédito para investimentos. Segundo dados do Banco Central, nos primeiros dias de abril, os empréstimos feitos para pessoa jurídica caíram 8%, em relação ao mesmo período de março, enquanto para a pessoa física, objetivo da política antiinflacionária de contenção da demanda, caíram 5,4%. Isso mostra que o tiro está saindo pela culatra, já que o objetivo é igualar a alta demanda a uma oferta relativamente baixa. Mas, sem investimento não se aumenta a oferta e nem há crescimento econômico.

Por conta desta percepção, como apontam alguns analistas, Dilma está mais à esquerda do que seu antecessor. A presidenta já questionou algumas vezes a causa e o remédio da inflação atual.

Mas não é só do ponto de vista econômico que ela é mais ousada do que Lula, fato visto na maior influência de Guido Mantega nas decisões do governo. Como afirma João Pedro Stédile, do MST, “a correlação de forças para os movimentos sociais era muito pior” agora Dilma tem “uma amplitude ainda maior que Lula na classe trabalhadora”.

Por falar em crescimento, os EUA estão aquém do esperado para este início de ano. A expectativa era que o aumento anualizado do PIB, no 1º trimestre, fosse acima dos 4%, mas este apresentou apenas 1,8%, o que não foi suficiente para diminuir o desemprego, que está atualmente em 8,8%. Já os pedidos de seguro-desemprego atingiram 429 mil trabalhadores. E pode piorar, pois o FED já sinalizou para o início de uma política econômica restritiva. Isto vem logo após a desclassificação da dívida soberana dos EUA para AAA “negativa”, que representa uma menor confiança no seu pagamento. O teto do endividamento estadunidense, que é de US$ 14,3 trilhões, deverá ser batido no dia 16 de maio, segundo o Tesouro Americano. Enquanto isso na União Européia, das 12 principais economias, oito estão com déficit orçamentário acima dos 5% do PIB, sendo que a dívida pública dos 16 países da Zona do Euro está, em média, em torno de 85,1% do PIB (em 2009 este número era de 79,3%).

Esta “crise fiscal” era perfeitamente previsível. Vimos na nossa bola de cristal. Agora, olhemos para ela novamente.

O que o leitor acha que veremos?


(*) Mestre em Economia, professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)

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