terça-feira, 26 de julho de 2011

PIGS OU PIIGS?

Semana de 11 a 17 de julho de 2011

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Depois dos dois anos de grande destruição, causada pela crise econômica que abalou o planeta, a esperada e inevitável recuperação começou. As taxas de crescimento dos Produtos Internos Brutos (PIB) dos países capitalistas mais avançados passaram do negativo para o positivo. A novidade é que este processo, que deveria continuar normalmente, entalou. Durante a crise foram à falência empresas e bancos. Passado o sufoco e feita a limpeza, em vez das empresas, começaram a entrar em falência os países e seus governos. Foi criada então a sigla PIG (porco em inglês) formada com as iniciais dos países considerados caloteiros: Portugal, Irlanda e Grécia. Em breve tempo a eles veio juntar-se a Espanha (Spain, em inglês), transformando a sigla em PIGS. Alguém mais atrevido chegou a acrescentar o segundo I, criando o PIIGS, onde estava incluído um novo porco, a Itália.

Durante a semana anterior, a Grécia esteve nas manchetes. Não causou surpresa a ninguém, pois ela já era um pig. Nesta semana chegou a vez da Itália. O introdutor do segundo I estava com a razão e agora a sigla PIIGS passou a ter sentido. A vara foi aumentada com um novo porco. O problema é que este novo pig é grande e gordo demais. É simplesmente a terceira maior economia da zona do Euro. Espalha-se o pânico e fala-se em contágio, a União Européia ameaça rachar-se e há quem afirme que a moeda única entrou em processo de desintegração. O Banco Central Europeu (BCE) é chamado a intervir.

O governo italiano, através do seu primeiro ministro, Silvio Berlusconi, preparou um pacote de austeridade para economizar 45 bilhões de euros que foi rapidamente aprovado pelo senado, em nome da honra nacional. Foi uma tentativa de acalmar “os mercados” e os “investidores”, para que continuem a comprar os títulos podres ofertados pelo governo, com a finalidade de financiar seu gigantesco rombo que atinge valores próximos a um trilhão e oitocentos bilhões de euros. Se a UE estava preocupada com a dívida da Grécia, que se arrasta até hoje sem solução, a da Itália é simplesmente maior que o somatório das dívidas da Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda. As tentativas de redução de gastos que atingem e agravam a vida dos trabalhadores, com cortes de subsídios, de salários, demissões, etc., tem levado a imprensa a investigar as mordomias, as despesas dos deputados e senadores considerados dos mais bem pagos do mundo. O próprio Berlusconi já foi flagrado tentando incluir, em uma das suas propostas de austeridade, um dispositivo que permitiria a uma de suas empresas adiar o pagamento de uma multa de 560 milhões de euros. Pelo que vemos, a depender da União Européia, a situação da economia mundial continuará se agravando.

A esperança volta-se então para os EUA. Para nossa tristeza, deste lado as coisas também não vão bem. O governo Obama é obrigado a pedir ao parlamento a elevação do teto para o endividamento do país, atualmente em US$ 14,3 trilhões, para que possa honrar os compromissos internacionais. Os gastos para estimular a economia fizeram com que o déficit público passasse de 2,7% do PIB, em 2007, para 12,7% em 2010 e a dívida pública saltasse de 62,2% do PIB para quase 100%, no mesmo período. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, tem recorrido à emissão de dólares para saldar os compromissos do país, operação que é chamada eufemisticamente de “afrouxamento quantitativo” ou “aumento da liquidez” e cujo resultado é inundar o mundo com dólares, provocando sua desvalorização. O Fed anda às cabeçadas e não sabe que medidas adotar. O próprio presidente Ben Bernanke afirmou desalentado: “Não sabemos para onde ir”. E enquanto não descobre uma saída, o Fed vai mantendo os juros básicos do país em níveis inferiores a 0,25% o que se tem mostrado insuficiente para estimular a retomada. O Federal Open Market Commitee (Fomc), equivalente ao Copom brasileiro, já reduziu a estimativa de crescimento do PIB do país, do intervalo de 3,1% a 3,3%, para 2,7% a 2,9%. De qualquer modo, se o congresso não permitir a alteração do teto do endividamento, assistiremos o espetáculo do calote dado pelo país mais poderoso do mundo.

As dificuldades atingem todos os países desenvolvidos onde a dívida pública aumentou 25% em três anos, passando de 77% do PIB em 2007, para 104% em 2010.

Vemos assim que o ambiente internacional é bastante adverso. Da mesma maneira como já o fizemos antes da crise, voltamos agora a alertar os leitores que a aparente calmaria nacional não se poderá sustentar baseada apenas no mercado interno, neste mundo globalizado. O BC, em sua ação, continua utilizando o único instrumento que sua tosca teoria econômica consegue propor para gerir o terrível dilema câmbio-inflação: os juros. E quanto mais eleva os juros, mais esmaga o consumo desestimulando os investimentos e promovendo o capital especulativo. Não é por outra razão que se fala na enxurrada de dólares que atinge o país. Outra consequência é a desvalorização do dólar e a valorização do real que facilita as importações e dificulta as exportações, com as consequências desastrosas para a indústria do país, fato que vem provocando os movimentos de protesto que temos comentado em nossas Análises.

E apesar de tudo isto a insensatez continua. Na quarta feira desta semana, o Copom comunicará a sua nova decisão sobre a taxa de juros básica, a Selic. Todos já sabem que haverá um novo aumento de 0,25% o que elevará esta taxa, que já é a maior do mundo, para 12,5%.

Preparemo-nos então para o novo golpe.



[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog