domingo, 31 de julho de 2011

Maré baixa no mercado financeiro mundial

Semana de 18 a 24 de julho de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

Apesar da sociedade continuar a recorrer aos protestos de rua para reivindicar seus direitos - como os estudantes chilenos que marcharam levantando a bandeira por mudanças no sistema educacional e os milhares de “indignados”, como se auto-denominam, que foram às ruas de Madri manifestando-se contra o desemprego - , as notícias da semana giraram em torno dos problemas da elite do mercado financeiro, inconformada com o cenário pouco promissor para o “lucro especulativo”.

A certeza de que as ações seriam vendidas por preços sempre mais elevados, pelo menos por enquanto, não condiz mais com a realidade e os especuladores trataram de refazer seus planos de “investimentos”. Como consequência, as empresas começaram a desistir de lançar suas ações no mercado, acompanhando quase a metade das empresas européias que, no início do ano, haviam anunciado tais lançamentos.

Os especuladores, na busca de um bode expiatório, culpam a ganância dos bancos que cobram comissões altíssimas e usam pouca transparência nas operações. Já os banqueiros acusam os especuladores de dificultarem uma remuneração honesta aos agentes da intermediação financeira e, por isso, propõem uma correção no sistema que integra as empresas na bolsa. Das discussões surge, porém um consenso: a turbulência dos mercados é a principal causa do desempenho decepcionante das empresas. No entanto, ninguém questiona as causas dessa turbulência.

Momentos de preocupação viveram também os dirigentes dos países membros da União Européia. Eles sofreram dias de insônia examinando (novamente) formas de proteger o mercado financeiro internacional das conseqüências de um possível default grego. Para aumentar as pressões por alguma solução, José Manuel Barroso, presidente da Comissão Européia, advertiu: “se não houver um acordo para o segundo socorro à Grécia em 24 horas, isso deflagrará uma onda de choques na economia mundial”. Ele alertou que estes choques poderiam afetar os Bancos Centrais dos 17 países membros da União Européia e os bancos privados credores dos governos soberanos, além de contagiar o sistema financeiro de outras economias fora da zona do Euro, como a Turquia, o Reino Unido, o Brasil e a Rússia.

No fim, as pressões funcionaram, e foi aprovado um novo pacote de socorro, equivalendo a 159 bilhões de euros, e outras medidas, que oneraram os detentores privados de bônus gregos. Os bancos da zona do euro foram taxados para custear o pacote de socorro. Com isto, finalmente, conseguiu-se reduzir a dívida que a Grécia nunca teria condições de pagar.

No Brasil, apesar da situação mais favorável, a maré está baixa para os bancos de médio porte, já que as ações das instituições que abriram capital nos últimos quatro anos estão valendo menos que na época da oferta pública inicial. O valor de mercado, em alguns casos, chega a ser inferior ao seu patrimônio líquido. Mas, por cá, os bancos não têm muito que reclamar. A última reunião do Copom confirmou nossa constatação (mencionada em nossa última análise) do aumento da taxa básica de juros (Selic) para 12,5%, beneficiando a classe remunerada pelos juros: os banqueiros. A justificativa divulgada pelo Copom continua a ser a necessidade de desaquecimento da economia para o controle da inflação, já que, segundo eles, é preciso reduzir a demanda e não aumentar a oferta, mesmo que seja à custa de uma dívida pública maior. Segundo relatório divulgado nos últimos dias, o estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna (DPMFI) cresceu 3,86% em junho, alcançando a cifra de R$ 1,729 trilhões. A parcela referenciada pela taxa Selic, e que será afetada diretamente pela sua elevação, representa 33,12% desse total. O mais impressionante é que, apesar de constatada a forte influência dos preços administrados para a inflação, responsáveis por 31% da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), entre janeiro e julho deste ano, a possibilidade de redução da tarifa de ônibus, da energia elétrica e dos preços dos combustíveis nem é cogitado pelo governo.

Não seria mais coerente cortar o mau pela raiz?

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