quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As ratazanas abandonam o navio

Semana de 01 a 07 de agosto de 2011

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, o mar continua a não estar para peixe. A situação que estamos vivendo atualmente só confirma as previsões já apresentadas nesta coluna. A crise anunciada da economia norte-americana ocupou todas as manchetes. Nem o Plano Brasil Maior, política para a indústria lançada pelo governo brasileiro, nem os escândalos políticos que continuam a derrubar ministros, desta vez o da Defesa, Nelson Jobim, chamaram mais a atenção.

As perspectivas de uma nova crise mundial já vinham crescendo com a crise da dívida grega que continua a contagiar a economia européia. A Espanha e a Itália, terceira e quarta maiores economias da União Européia, vieram em seguida, também com dificuldades de rolar suas dívidas que são imensamente maiores que a da Grécia. As próprias economias da França e da Alemanha não estão imunes ao mesmo tipo de problema. O temor é que o calote de qualquer país provoque uma quebra dos bancos que possuem os títulos de dívida soberana destes países e, através da globalização financeira, a quebradeira geral seja desencadeada.

A tensão mundial se acentuou com os rumores de uma possível moratória norte-americana. A negociação travada no Congresso, para aumentar o teto da dívida, gerou um acordo que aparentemente resolveu a questão. Mas, a calmaria que se esperava com o fato não aconteceu. O impacto causado pela divulgação de alguns índices da economia dos EUA foi maior. O indicador que mede a atividade industrial caiu como uma bomba, recuando mais de 2% em junho e registrando o nível mais baixo em dois anos. Os gastos dos consumidores caíram 0,2% e as rendas aumentaram apenas 0,1%, o menor crescimento desde setembro do ano passado. A tendência é que o PIB do semestre feche com uma taxa menor que 1% e que a taxa de desemprego continue acima dos 9%. Além disso, o acordo que foi negociado tem embutido um forte corte nos gastos que certamente contribuirá para a piora da situação. Como resultado, generalizou-se o pânico.

Temendo o naufrágio americano, os especuladores atiraram-se, em desespero, às Bolsas de Valores cujas quedas se sucederam pelo mundo afora, seguindo o movimento do astro rei. As ratazanas abandonam o navio. Sell, sell, sell é a palavra de ordem geral. Todos procuram livrar-se dos títulos duvidosos em busca de liquidez, do vil metal, da matéria. Depois dos desabamentos das bolsas na Ásia, consequência inevitável do pânico, em Londres, a queda foi de 8,26% e em Nova York de 6,26%. São os piores resultados registrados desde a crise de 2008. No Brasil, as negociações da Bovespa caíram 10,22%, no acumulado da semana.

Nova notícia agravou ainda mais a situação. Mesmo antes do acordo norte-americano já se falava de um rebaixamento da nota dos Estados Unidos por parte das agências de classificação de risco. A agência avaliadora de riscos Standard & Poor’s concretizou os rumores rebaixando a nota do país que caiu de AAA para AA+. Tal classificação elenca as economias como más ou boas pagadoras e, há muitos anos, os Estados Unidos lideravam o topo da lista com o chamado triplo A. A economia americana era a que oferecia a maior garantia de pagamento da dívida soberana. Agora o número de países premiados com o A triplo foi reduzido para 16 e os investimentos nos títulos norte-americanos, que já rendem muito pouco, só terão um atrativo: a segurança.

E agora o que fazer?

Os passageiros deste navio com destino certo ao fundo do mar tratam, de pular fora.

Mas, para onde ir? Europa? O futuro é incerto. China? O controle cambial por lá é fortíssimo. Prevendo a fuga dos “investidores” para fora dos Estados Unidos em busca de um porto seguro, alguns países já anteciparam as devidas providências: a Suíça reduziu as taxas de juros a zero para deter a valorização do franco suíço. O Japão, com o mesmo objetivo (deter a valorização de sua moeda), injetou US$ 12,5 bilhões em sua economia. O Banco Central Europeu aumentou a liquidez do mercado e a Turquia reduziu sua taxa básica de juros em 0,5%. Na Ásia, Coréia do Sul, Filipinas e Tailândia também tomam medidas para tentar impedir a valorização de suas moedas.

A nova recessão já anunciada está se concretizando. E a crise assume uma nova forma de manifestação, aparecendo agora como crise do endividamento público. Para onde governos, empresas e principalmente os especuladores irão navegar? Nos maremotos europeus? Nas ondas incertas da China? No balanço das economias em desenvolvimento? Ou o melhor seria fazer o caminho de volta?

Vamos aguardar os rumos da nova navegação, pois o inevitável não está mais por vir, como anunciamos. O inevitável já está acontecendo.




[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog