sábado, 20 de agosto de 2011

Começou! E nem os emergentes escapam!

Semana de 08 a 14 de agosto de 2011

Tatiana Losano de Abreu [i]

Antes era apenas a nossa Análise que alertava os leitores sobre o retorno inevitável da crise econômica e que sua propagação atravessaria o Atlântico. Agora, as notícias da semana são repletas de constatações do que para nós já era inevitável. A crise está rebatizada de uma crise de endividamento público. Para nós, apesar desta nova forma de manifestação, o conteúdo da crise é o mesmo e, como sempre, os proletários que se cuidem, pois as consequências para o povo serão também inevitáveis. As medidas desesperadas dos governos europeus, para evitar maiores efeitos negativos ao sistema financeiro internacional, colocam nos ombros da população a contenção do déficit público através da radicalização das “medidas de austeridade”.

A Espanha anunciou aumento da arrecadação em 2,5 bilhões de euros através da elevação dos impostos e cortes em cerca de 2,4 bilhões de euros, principalmente com medicamentos (agora só comprará genéricos!). O governo italiano decidiu acelerar o programa de austeridade, através, também, do aumentando de impostos, como de praxe, além de flexibilizar as leis do mercado de força de trabalho e liberalizar os serviços públicos. Como conseqüência, o governo italiano já espera o sufocamento da fraca e hesitante recuperação do país, o que não vai demorar muito, pois a maioria dos setores da indústria ainda está produzindo abaixo do nível pré-recessão e alguns analistas estão alertando para uma contração do PIB no terceiro trimestre. Estas são as condições impostas pelo Banco Central Europeu (BCE) para garantir, através da intervenção no mercado, o financiamento de 245 bilhões de euros (equivalente a 347 bilhões de dólares) necessários para pagar os títulos da dívida soberana dos dois países que estão vencendo entre agosto e setembro deste ano.

De fato, o desaquecimento da economia global não é uma suposição, mas uma realidade. Os Indicadores da OCDE apontam que os picos nas atividades econômicas dos EUA, Japão e Rússia aconteceram no mês passado. E depois do pico, o fatal é a queda!

A situação da Rússia não é novidade. No segundo trimestre a economia apresentou um crescimento muito aquém das expectativas, equivalente a 3,4%, em relação ao mesmo período de 2010, o crescimento da produção industrial perdeu fôlego e a inflação corroeu o poder de compra dos consumidores.

Nos EUA, os consumidores continuam a cortar gastos com medo do que virá no futuro. O crescimento do país, no primeiro semestre, foi menor que 1% (índice anualizado) e as previsões de crescimento para o acumulado do ano diminuíram para 1,6%. Os analistas prevêem que o desemprego, no fim do ano, será de 9% e que a construção civil continuará apresentando crescimento moribundo até 2012. Os dados são tão alarmantes que, para alguns economistas entrevistados pelo The Wall Street Journal, a diferença entre a recessão e o crescimento extremamente lento, registrado até agora, nos EUA, é insignificante.

A recessão já começou e, desta vez, nem os emergentes escapam!

A China, mercado que mais cresce e absorve a produção dos emergentes, já apresenta desaquecimento. Os dados de crescimento da produção industrial, das vendas no varejo e dos investimentos, referentes ao mês passado, estão abaixo das expectativas e a inflação continua persistente, impedindo o afrouxamento da política monetária. Para completar, o governo chinês declarou mudanças na política cambial para manter o yuan valorizado.

Diante deste cenário, o Brasil que se cuide, pois, além de não ter mais a garantia da demanda chinesa por commodities, a atividade econômica não está tão vigorosa como alguns desavisados imaginam. O setor industrial está problemático, apresentando aumento dos estoques indesejados e redução do emprego industrial.

Não restam dúvidas que o Banco Central Brasileiro terá que conter o aperto monetário se quiser amenizar a queda da economia brasileira. Mas, o “mercado” (seja lá quem for), com o pretexto da ameaça da inflação, já “cantou a bola”: é aceitável não aumentar mais a taxa de juros, até o fim do ano, mas reduzi-la, é inadmissível!




[i] Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).

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