sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Os indicadores não melhoraram, nem vão melhorar

Semana de 25 a 31 de julho de 2011

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

Para os que têm esperança de um ano melhor para a atividade econômica, nós temos algumas notícias a dar.

Em 2011, o governo central do Brasil, num esforço conjunto do Banco Central, Tesouro Nacional e Previdência Social (a mesma que está "deficitária"), fez um "ajuste fiscal" de tal forma rigoroso que já economizou, no final do primeiro semestre, um montante correspondente a 67,8% do necessário para garantir o superávit primário de todo o ano. Isto representa um valor de R$ 55,5 bilhões, que não foi gasto e será destinado ao pagamento dos juros da dívida pública. Se formos pensar numa lógica para esta conta, teríamos que partir do pressuposto que, após gastar com tudo o que o país precisa, o governo ainda conseguiu economizar algum dinheiro para pagar o que deve.

Mas quem está satisfeito com os serviços prestados?

E por falar em dinheiro do governo, o recolhimento de tributos por parte da União e dos estados chegou ao maior patamar em 21 anos. Segundo os estudos dos economistas José Roberto Afonso e Márcia Monteiro, quando somamos os últimos 12 meses fechados em junho de 2011 temos uma arrecadação que representa 30,02% do PIB. Isto poderia parecer um bom sinal, se não fosse considerada a origem dos recursos. Segundo Afonso, "o aumento da arrecadação federal é muito concentrado em poucos setores, e são esses os que sustentam um padrão chinês das receitas, enquanto o resto está inserido em um padrão de arrecadação de país que desacelera o ritmo". De janeiro a junho de 2011, a arrecadação dos principais setores foi: 1°) R$ 59,9 bilhões, das Entidades financeiras; 2°) R$ 22,5 bilhões, do Comércio atacadista; 3°) R$ 17,5 bilhões, da Fabricação de veículos; 4°) R$ 11 bilhões, do Comércio varejista; 5°) R$ 9,6 bilhões, dos Seguros e previdência complementar; 6°) R$ 7,3 bilhões, das Atividades auxiliares do setor financeiro. Nada mais justo do que o governo pegar de volta uma pífia parte do que dá ao capital financeiro. Se o setor contribui com R$ 76,8 bilhões, é porque tem receita para isso. E qual a fonte dessa receita? A especulação e os juros.

Mas, na última ata do Copom, o Banco Central deu sinais de que está mudando sua percepção em relação à demanda doméstica. Apesar de ter elevado em 0,25% a Selic, que passou a 12,5%, o BC vê um "ritmo ainda incerto da atividade econômica".

Em São Paulo a desaceleração já chegou. O nível da atividade industrial, em junho, foi 0,1% menor do que em maio de 2011, enquanto o total de salários reais decresceu 0,8% e as vendas reais cresceram apenas 1%, no período. Rogério César de Souza, do Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirma que o arrefecimento foi além do esperado e que em 2011 a expectativa é de que o crescimento da produção industrial, que em 2010 foi de 10,5%, não passará dos 3%.

Para piorar, o dólar barato degrada a balança comercial brasileira, contribuindo para a desgraça da indústria local. Apesar de todos os setores da indústria terem reduzido o volume das importações, no 1° semestre deste ano em relação ao 1° semestre de 2010, a produção local apresentou um fraco desempenho, perdendo espaço para o produto externo. No ano de 2010, o crescimento das importações totais foi de 37%. Entre janeiro e junho de 2011, em relação ao mesmo período de 2010, este número foi de 13,7%. A importação de bens duráveis teve o crescimento reduzido de 47,7%, em 2010, para 33,7%, em 2011, e a de bens de capital reduziu de 39,8% para 26%. Por outro lado, entre janeiro e maio deste ano, o crescimento da produção de bens de consumo duráveis no Brasil foi de 2,3%, enquanto o crescimento da indústria de bens de capital foi de 6,4%.

Diante desta realidade o governo ameaça uma reação controversa. A primeira a manifestar-se foi a presidente Dilma, dizendo que "medidas contra o câmbio estão descartadas". Logo depois saltou o Ministro Mantega defendendo "medidas importantes neste campo". O problema é que o diagnóstico dele em relação ao câmbio é bem curioso: "Não vamos deixar a guerra cambial nos derrotar com desvalorizações artificiais das taxas de câmbio de outros países". Com as maiores taxas de juros do mundo, que atraem capital externo inundando o mercado brasileiro de dólares, não seria nosso próprio país o causador das "desvalorizações artificiais"?

Deixa pra lá.

Outros indicadores mostram a desaceleração da economia, mas, para não cansar o leitor, ficamos por aqui reafirmando, apesar dos pesares: o que está por vir é inevitável.



[i] Mestre em Economia, professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).

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