sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A procura da luz no fim do túnel: mais sinais de desespero

Semana de 5 a 11 de dezembro de 2011


Tatiana Losano de Abreu




Em meio às especulações em torno do fim do euro, ainda existia uma luz no fim do túnel. O início da semana foi marcado por fortes expectativas em relação a mais uma reunião da cúpula dos líderes da União Européia com o objetivo de definir ações concretas para tirar a zona do euro da crise.
Na véspera da reunião, a dupla Mercozy continuou a bater na mesma tecla: só é possível solucionar a crise através da austeridade orçamentária. Angela Merkel e Nicolas Sarkozy se reuniram, representando os dois motores políticos e econômicos da zona do euro (França e Alemanha), para elaborar uma proposta a ser apresentada e aprovada pelo resto da União Européia, na reunião marcada para o final da semana. A proposta resumiu-se em um novo marco regulatório que, segundo eles, representaria um modelo claro para instituir uma nova cultura de estabilidade. Entre os pontos deste marco estava a proposta de criação de sanções automáticas a serem impostas aos países que violassem as regras da União Européia, em relação ao déficit orçamentário, que não poderia ultrapassar os 3% do PIB, ou seja, a criação de freios compulsórios ao endividamento.
A proposta gerou inquietações no Conselho Europeu. Enquanto o presidente do conselho, Herman Van Rompuy, propunha a criação de um plano menos audacioso, a dupla Mercozy discordava radicalmente desta proposta e recusava-se a aceitar outras idéias discutidas em Bruxelas. A autoridade alemã, através de um sonoro “Não!” deixou claro que o governo alemão não está disposto a apoiar a proposta chamada “bazuca financeira”. O potente arsenal de guerra consistia em um sistema de reforço que somaria mais de 1 trilhão de euros de proteções financeiras, resultado da combinação de recursos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (440 bilhões de euros), com o Mecanismo Europeu de Estabilidade (500 bilhões de euros), e o apoio equivalente a 200 bilhões de euros para o FMI. Enquanto Merkel e Sarkozy insistiam de um lado, David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, teimava do outro, demonstrando fortes objeções aos procedimentos de disciplina fiscal. No final da reunião, instalou-se um clima de decepção. Foram provadas algumas medidas para maior união fiscal, porém muito aquém da proposta inicial da dupla Merkozy e o Reio Unido foi deixado fora de todas as decisões. A bazuca financeira foi reduzida a um empréstimo ao FMI no valor de 200 bilhões de euros, ainda a ser confirmado e um arsenal de apenas 500 bilhões de euros disponibilizados a partir de julho de 2012. A decepção maior foi com o Banco Central Europeu, que negou apoio mais direto para a injeção de liquidez na economia.
Já os últimos passos da Autoridade Bancária Européia, a agência reguladora da União Européia, virou uma faca de dois gumes. Segundo relatório recém divulgado, os bancos europeus precisarão levantar 114,7 bilhões de euros em capital novo para atingir os 9% de capital de alta qualidade, necessários para absorver os possíveis prejuízos envolvendo títulos da área do euro. O objetivo é compreensivo: criar um colchão de capital temporário e excepcional para amenizar os riscos soberanos e de crédito, já que muitos desses bancos estão expostos aos títulos do governo grego. Os problemas são os mecanismos para atingir estas metas audaciosas. Os bancos provavelmente enxugarão seus balanços, intensificando o aperto do crédito em uma economia já desaquecida. Para Gary Cohn, presidente do conselho de administração e diretor de operações do banco americano Goldman Sachs, os tomadores de crédito devem ficar em estado de alerta.
Em alerta continua também o governo brasileiro, principalmente após a divulgação da estagnação do crescimento da economia do país, no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. Este resultado confirma que os incentivos recentes dados à economia devem ter efeito quase nulo em 2011 e que o PIB, neste ano, crescerá abaixo de 3%.
Responsabilizado pelo desaquecimento, o governo muda o discurso ao comprometer até mesmo o sagrado orçamento equilibrado, no desespero de garantir o crescimento da economia em 2012, ano de eleições.

Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com).
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